Inflação ainda ameaça, mas não pode virar febre

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, deu ontem novos sinais que os juros não devem baixar, amanhã, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) anuncia a nova taxa de juros do país, atualmente em 26,5%. Meirelles, no entanto, disse que suas declarações não poderiam ser levadas em consideração para as decisões que serão tomadas pelo Banco Central.

O presidente do Banco Central disse que a inflação é uma ameaça e a comparou a uma febre, que precisa ser tratada e que não pode se tornar um mau crônico.

“Eu gosto de dizer, às vezes, que a inflação é como uma febre. Se temos febre, temos que tratar para acabá-la. Não podemos partir do pressuposto que vamos conviver de uma forma crônica com a febre”, disse ele.

Segundo Meirelles, não há uma dicotomia entre inflação e crescimento. Para ele, a inflação controlada é condição para o crescimento sustentável.

“A inflação é um problema, é uma ameaça. E todos os países que cresceram tiveram baixa inflação como condição prévia. A inflação não é uma amiga”, afirmou.

Questionado se estava se sentindo pressionado para baixar os juros, Meirelles respondeu às críticas dizendo que “o debate é saudável”. Mas negou que esteja “antecipando” as decisões do Copom: “No Banco Central temos o bom procedimento de não falar sobre decisões do Copom duas semanas antes. Por isso cabe esclarecer: se houver mensagem nas entrelinhas é porque houve erro de comunicação (…) Vou fazer um apelo: não estou me referindo aos encontros de amanhã (hoje) em meu discurso”, destacou ele, antes de sua apresentação no almoço-palestra promovido pela Câmara Americana de Comércio (Amchan), de São Paulo.

Ele também afirmou que o que vai dar base para o crescimento do país é a redução do risco Brasil. Segundo ele, há dados sólidos para que o risco Brasil caia, diminuindo assim o custo interno do crescimento.

Meirelles citou como fatores da queda de risco, os superávits primários para os próximos quatro anos, as reformas de Previdência e tributária, a redução da dívida em relação ao PIB, e a maior credibilidade alcançada pelo governo Lula.

Três dias

Meirelles informou, ainda, que as reuniões do comitê passarão a ter três dias de duração a partir deste mês. A reunião que começa hoje, no entanto, ainda terá um caráter informal, mas passará a ocorrer como parte do procedimento formal nos próximos meses.

Dólar valoriza e fecha em R$ 3

O dólar comercial fechou ontem a exatos R$ 3 depois de oito dias sendo vendido abaixo desse patamar. A valorização da moeda norte-americana nesta segunda-feira foi de 1,86%. Ganham força as apostas de que as cotações vão subir ainda mais a partir de agora, e por isso bancos e investidores aproveitam para comprar. O mercado vê o fim da euforia exagerada das últimas semanas e prepara-se para um acerto do dólar. A nova onda de atentados nos países árabes e Israel também é motivo de preocupação.

O debate sobre os juros, porém, foi o principal motivo de tensão para os investidores, além do risco de recessão econômica mundial. ??O mercado ficou mais nervoso no período da manhã, quando houve mais saídas??, afirma Alessandro Malagutti, operador da corretora Comex.

Se na semana passada chegou a ser consenso entre economistas de que o Banco Central deveria reduzir a Selic (taxa básica de juros), ontem o mercado se mostrou cético em relação ao assunto.

Alguns analistas ainda acreditam que há espaço para o corte, por conta dos números que demonstram tendência de desaceleração da inflação e das recentes quedas do risco Brasil, mas outros defendem uma atitude mais cautelosa: a de esperar que os bons indicadores se consolidem.

Pelo que as últimas declarações do governo indicam, essa última alternativa deve ser a adotada pelo BC.

Ontem, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, afirmou que os dados sobre inflação têm sido positivos mas ponderou que ainda não se pode descuidar, “pois temos a herança de uma inflação muito alta nos meses anteriores??.

“A equipe econômica dirigida pelo ministro Palocci [Fazenda] está criando as condições para não só baixar os juros como para o crescimento econômico, estimulando os setores produtivos como o de exportação e as micro e pequenas empresas. Está se diminuindo a vulnerabilidade do Brasil em relação ao capital especulativo é à dívida pública??, disse.

Nos mercados internacionais, o clima é de preocupação. O perigo de uma deflação mundial, como alerta o FMI (Fundo Monetário Internacional), e o risco de recessão, segundo se pode concluir a partir dos últimos números sobre crescimento dos EUA, da União Européia e do Japão, assustaram os investidores e derrubaram as principais Bolsas mundiais.

Segundo analistas, vendas de cerca de US$ 100 milhões da Petrobras ajudaram a segurar as cotações, impedindo que elas subissem ainda mais. Já estão começando a entrar no mercado os US$ 750 milhões captados pela empresa no exterior neste mês.

Risco, dívida, balança e bolsa

Por conta de um movimento de realização de lucros, o C-Bond, título mais negociado da dívida externa brasileira, teve desvalorização de 1,84% e estava sendo vendido, ontem, a 86,875% do valor de face. O risco-país sobiu 2,61%, para 823 pontos.

Os investidores aparentemente ignoram a decisão do banco de investimentos Merril Lynch, que elevou ontem a recomendação para os títulos brasileiros de “marketweight?? (média do mercado) para “overweight?? (acima da média).

Tampouco o superávit recorde da balança comercial na semana passada ? de US$ 646 milhões ? consegue aplacar o pessimismo.

A Bovespa despencou 3,62%. Foi a terceira maior queda percentual do ano e a maior desde 10 de março (3,87%). Das 54 ações que compõem o Ibovespa, só quatro fecharam em alta.

IGP-M tem deflação de 0,28%

A segunda prévia de maio do IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado) mostrou deflação de 0,28%, segundo a FGV (Fundação Getúlio Vargas). É a primeira deflação de uma segunda prévia do IGP-M desde março de 2000, quando o índice ficou em -0,05%. Trata-se também da maior deflação desde setembro de 1995, no segundo ano do Real, quando o IGP-M teve queda de 0,49%.

A queda no índice foi puxada pela forte deflação dos preços no atacado, influenciados pela queda do dólar e dos combustíveis. Também colaborou para redução dos preços a entrada da nova safra agrícola. Em abril, a segunda prévia ficou em 0,86%.

Os preços no atacado, medidos pelo IPA (Índice de Preços no Atacado), tiveram deflação de 0,79% na segunda prévia de maio. Em abril, houve alta de 0,74% na segunda prévioa.

Já os preços ao consumidor não estão cedendo com a mesma velocidade que no atacado.

O IPC (Índice de Preços ao Consumidor) apresentou alta de 0,72% – um recuo em relação ao 1,17% apurado na segunda prévia do mês anterior.

O INCC (Índice Nacional do Custo da Construção) ficou em 0,68% ante variação de 0,87% na segunda prévia do mês anterior.

No ano, o IGP-M acumula alta de 6,96% e nos últimos 12 meses, alta de 31,51%.

A segunda prévia do IGP-M é calculada com base em preços coletados a partir do dia 21 do mês anterior até o dia 10 do mês de referência.

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