Inércia impede que inflação tenha queda mais rápida

Rio  – A inflação está caindo mais lentamente do que era previsto porque está sofrendo um efeito de inércia, que tende a se prolongar nos próximos meses, segundo avaliam economistas. “A queda na inflação deverá ser lenta porque a inflação passada alimenta a atual, que vai alimentar os futuros aumentos de preço. É uma bola de neve”, disse o analista Luis Afonso Lima, do BBV Banco.

O economista André Braz, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), avalia que há inércia na inflação neste início de ano, mas os riscos de disparada dos preços são bem menores do que no final do ano passado. Ele acredita que os preços têm caído menos do que o esperado porque está havendo uma recomposição de margens após a “inflação de custos” de 2002. “Com a demanda deprimida o repasse é mais lento, mas inevitável”, disse.

Exemplo desse repasse lento é o caso dos biscoitos, que têm como matéria-prima a farinha de trigo, um dos produtos que mais sofreram os efeitos da alta do dólar no ano passado, com aumento acumulado de 62,9%. O aumento da matéria-prima foi o principal responsável por um reajuste de 13,81% dos biscoitos em 2002, mas os repasses continuam e no acumulado deste ano do Índice de Preços ao Consumidor Médio (IPC-M, calculado pela FGV) somaram 7,21%. “Nesse caso a concorrência é muito forte, há várias opções no mercado, então o repasse está sendo lento, mas contínuo”, explica Braz.

Outro exemplo, também vinculado à farinha de trigo, é o pão francês, que subiu 36,97% e já teve os reajustes bastante desacelerados, mas ainda assim acumulou aumento de 1,23% no IPC-M nos dois primeiros meses deste ano. Para Braz, poderão ocorrer repasses ainda em conseqüência da alta do dólar do ano passado em produtos que necessitam de embalagens de papelão, por exemplo, que estão em fase de alta, já que a celulose tem preço formado no mercado externo e também sofreu forte pressão em 2002.

Para o economista do BBV, essa lentidão na queda dos preços dificultará o cumprimento da meta de IPCA anual de 8,5% definida pelo Banco Central. “A meta é ambiciosa”, avalia. Para Lima, o BC “tem feito o possível” para conter a inflação via política monetária, mas seus efeitos são reduzidos diante de uma situação de inércia conjugada à queda no nível de atividade. “É preciso de qualquer maneira uma política monetária apertada, não é possível relaxar, mas temos que torcer para que um cenário externo favorável permita uma apreciação cambial”, disse. O BBV trabalha com câmbio de R$ 3,25 ao final do ano, mas acredita que “uma apreciação mais acentuada” só ocorrerá no final deste semestre.

Segundo Lima, a taxa de repasse para os preços está crescendo porque o câmbio está estável em patamar elevado. “É uma referência mais clara para a correção de preços.” O analista disse que a inércia acaba sendo conseqüência dessa taxa de repasse. “Com um período muito prolongado de nível de atividade reduzido e margem de lucro deprimida não há mais como não repassar custos”, disse.

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