Indústrias reagem à crise e intensificam produção

Rio e São Paulo  – Embaladas pelos ventos favoráveis que vêm do varejo, as indústrias começam a sair do atoleiro em que entraram com a estagnação da economia no primeiro semestre e aceleram a produção para atender às encomendas de fim de ano.

Líder nas vendas de televisor, em setembro a Semp Toshiba reativou o segundo turno em suas fábricas e já está com a produção toda tomada até o Natal, quando espera vender entre 5% e 8% mais do que no ano passado.

Segundo o presidente da Federação do Comércio do Estado do Rio (Fecomércio), Orlando Diniz, há uma demanda de consumo represada, o que contribui para uma previsão de crescimento de 2% a 5% no Natal frente a 2002. A expectativa se baseia na queda da taxa básica de juros, cujo impacto na economia demora de seis a nove meses, mas pode ser de dois a quatro meses no comércio, conforme estudo da Fecomércio. “Isso seria um alento para o setor, que até julho acumulou queda de 5,42% no País, segundo pesquisa do IBGE. No Estado do Rio, a Fecomércio registrou queda acumulada de janeiro a agosto de 6,60%”, diz o empresário.

Para Diniz, a linha de crédito especial para a aquisição de linha branca e o empréstimo com desconto em folha -medidas de incentivo anunciadas pelo governo – deverão contribuir para a recuperação de setores que dependem essencialmente de crédito, como eletroeletrônicos e veículos. Outro fator que pode ajudar nas vendas de fim de ano, diz ele, é a queda dos índices de inflação.

“Nosso Índice de Expectativa do Consumidor de setembro atingiu o melhor resultado desde janeiro de 2001”, afirma. As principais causas foram a queda da inflação e a redução dos juros. A melhor notícia para o comércio é que esse comportamento indica forte possibilidade de recuperação para as vendas de fim de ano.

Reativação

Com as vendas crescendo entre 7% e 8% desde agosto, a Philco reativou as duas linhas de produção que havia interrompido. Cerca de cem profissionais já foram contratados, e a empresa teve até de trazer componentes do exterior para atender às encomendas. “A reativação da produção é fruto de vendas que percebemos para a frente. Mas todas as empresas do setor têm limitações por causa do componentes importados”, diz o vice-presidente da Philco, Cláudio Vita.

No varejo, as armas são os encartes de ofertas e as tabelas de juros, que já caíram até 49% neste semestre, acompanhando a redução da Selic. As Casas Bahia, que cobravam 5,9% ao mês até agosto, oferecem agora a promoção de 2,99% para 12 vezes. Na Tele-Rio, a taxa para 13 parcelas caiu de 4,9% para 2,53%, e no Ponto Frio, o juro do plano em 20 prestações recuou de 6,3% para 4,23%.

Para Marize Araújo, diretora-executiva de Marketing e Vendas do Ponto Frio, é hora de aproveitar a alta da confiança do consumidor depois da queda dos juros: “Devemos ter um Natal melhor que o do ano passado”, comenta.

Com base nas compras dos varejistas, a indústria de brinquedos espera um crescimento de 12% para o Dia da Criança. Mas, segundo um executivo da Tele-Rio, até a primeira semana do mês o movimento estava abaixo do esperado.

Incerteza nos supermercados

Rio e São Paulo

(AG) – Nos supermercados, o clima ainda é de incerteza. O setor amargou queda de 1,5% nas vendas, e o movimento em setembro ficou abaixo da expectativa. Mas os empresários ainda torcem pela reativação, contando com uma redução maior dos juros. É o que pensa Arthur Sendas, presidente da rede de supermercados, que aposta em um corte de três pontos percentuais na Selic este mês: “O Brasil nunca esteve com o desemprego tão alto e salários tão baixos. O terceiro trimestre foi difícil, mas ainda torço pela reativação e rezo pelo milagre de vendermos mais que no Natal passado”, diz.

Segundo Enrique Ussher, diretor-geral da área de celulares da Motorola, as vendas do último trimestre devem superar em até 40% as do ano passado. Na Zona Franca de Manaus, foram abertos cerca de quatro mil postos de trabalho, e mais mil trabalhadores devem ser contratados até dezembro. Em 2002, menos de três mil pessoas conseguiram trabalho no pólo.

Termômetro do ritmo de produção da indústria, os fabricantes de embalagens confirmam a retomada. O presidente da Associação Brasileira de Embalagens, Fábio Mestriner, informa que a produção no setor vem crescendo 5% ao mês, em média, desde julho, em relação ao mesmo período de 2002.

A produção de papelão ondulado – considerado a embalagem das embalagens por seu amplo uso – cresceu 7,1% em setembro, indicando a aceleração na atividade industrial. “As vendas tendem a melhorar mais, já que a carteira de pedidos de outubro será melhor que a de setembro”, diz o presidente da Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO), Paulo Sérgio Peres.

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