Indústria surpreende e indica o fim da recessão

Rio – A indústria surpreendeu as expectativas mais positivas e apresentou, em agosto, aumento de 1,5% da produção em relação a julho, o maior na comparação com mês anterior deste setembro do ano passado. O resultado marcou o início da recuperação do setor, puxada pelos bens de consumo duráveis, especialmente automóveis.

Os analistas econômicos esperavam um resultado entre zero e 0,5% no mês e já refazem para cima as projeções para setembro, que deverá fechar o terceiro trimestre jogando para o passado a “recessão técnica” do setor no primeiro semestre.

O coordenador de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Silvio Sales, diagnosticou um quadro de “recuperação moderada” da indústria em agosto. Concorda com ele o analista da Tendências Consultoria, Juan Jensen, para quem “a recuperação terá continuidade e deveremos entrar num ciclo de crescimento mais forte da produção a partir de setembro”.

Para o diretor de macroeconomia do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), Paulo Levy, o resultado de agosto “é uma sinalização bastante forte de um início de reação do mercado interno”. Sales também observou que “há sinais de reação do mercado doméstico” nos dados de agosto.

Apesar do resultado positivo na comparação com julho, a indústria continuou apresentando resultados negativos nos demais indicadores: -1,8% ante agosto do ano passado e -0,5% no acumulado de janeiro a agosto. Em 12 meses até agosto, houve expansão acumulada de 1,7%. Os resultados foram influenciados pela elevada base de comparação do segundo semestre de 2002, que deverá puxar para baixo os resultados em relação a igual mês do ano anterior até o final deste ano. Levy ressaltou que, ainda assim, a queda de 1,8% foi “animadora”, porque bem inferior à esperada pelo Ipea, de -4%.

O IBGE revisou para cima o resultado já divulgado de julho na comparação com junho, que apontava um crescimento de 0 4% e subiu para 0,9%.

Duráveis

O fator surpresa do resultado da indústria em agosto foi a reação do segmento de bens duráveis, que veio antes do esperado, especialmente como resultado do desempenho de automóveis. As vendas de duráveis cresceram 5,2% ante julho, sob impacto especialmente pelo aumento da produção na indústria automobilística em agosto na comparação com julho.

O IBGE não tem o resultado dos automóveis nessa base de comparação, mas segundo a Tendências, a expansão foi em torno de 38%. Silvio Sales observou que o aumento na produção dos automóveis -os resultados do setor de setembro já divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automores (Anfavea) confirmam a recuperação do segmento – ocorreu devido a uma soma de fatores, como queda do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), redução na taxa básica de juros e maior otimismo do consumidor, que se dispôs a se comprometer com novas dívidas. Segundo ele, pode indicar também que a reação da demanda doméstica está ocorrendo inicialmente pelo consumo da fatia de maior poder aquisitivo da população.

No caso dos não-duráveis (medicamentos, alimentos, vestuário e bebidas), a situação apresentada em agosto é bem diversa. Prejudicada pelo desaquecimento do mercado de trabalho, a categoria apresentou queda de 0,8% na produção industrial em agosto ante julho, e redução de 7,8% na comparação com agosto de 2002.

As maiores quedas na comparação com agosto do ano passado ocorreram no vestuário (-22,9%), produtos farmacêuticos (também de -22,9%) e bebidas (-16,8%). Sales destacou que esses produtos são de consumo básico e pouco sensíveis a mudanças de política de crédito, porque são muito mais ligados ao comportamento do mercado de trabalho e ao rendimento das pessoas. “Esses produtos de consumo mais básico continuam precisando de um aquecimento do mercado de trabalho”, afirmou.

No quadro geral da indústria, Sales destacou que os índices de média móvel trimestral, considerados os principais indicadores de tendência, mostravam uma trajetória declinante da produção industrial até o mês passado e revelaram uma interrupção dessa trajetória em agosto. “Junho marcou o ponto mais baixo da produção neste ano”, afirmou.

Ele adiantou que “tudo indica que a recessão industrial poderá ser superada no terceiro trimestre”. No primeiro semestre houve uma recessão técnica da indústria, marcada por duas quedas consecutivas na produção no primeiro e no segundo trimestres, em relação ao trimestre imediatamente anterior.

Estado confirma tendência

Os números da indústria do Paraná confirmam esta tendência de alta, embora os resultados não tenham sido suficientes para recuperar as perdas acumuladas no ano. As vendas aumentaram 4,51%, em comparação a julho. Mas o percentual negativo de volume de negócios acumulado em 2003 foi de 12,07%.

Os dados constam da pesquisa Indicadores Conjnturais da Indústria, divulgados ontem em Curitiba.Ainda de acordo com a pesquisa, o gênero bebidas foi o que registrou maior crescimento, com 140,12%, seguida pelo setor de vestuário/calçados/artefatos de tecidos (com 37,65%) e o segmento de material elétrico e de comunicações (com 26,38%. Já o nível de emprego permanece estável em 6,43%, se comparado a 2002. O setor têxtil foi o que mais empregou, com 102,46% de aumento nas ofertas de vagas.

Dívida do setor público aumenta 57,7%

 Rio (AE) – Apesar de todo o esforço fiscal do governo os gastos com juros cresceram bem mais que a economia feita para pagá-los, o chamado superávit primário, e a dívida líquida do setor público consolidado cresceu, atingindo 57,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em agosto. A observação consta de nota de conjuntura divulgada hoje (7) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Mesmo apontando o crescimento da dívida, o tom geral da nota é de otimismo.

“Diante dos indícios de recuperação da economia, a perspectiva de aumento da receita tributária aponta para o cumprimento das metas fiscais para 2003, seja no governo central (mais estatais), fixada em 3,15% do PIB, seja para o setor público consolidado, fixada em 4,25% do PIB””, diz o texto. Segundo o Ipea, a redução da taxa de juros, iniciada em julho, tende a aliviar a pressão dos encargos financeiros sobre a dívida nos próximos meses.

Os gastos com juros do setor público este ano até agosto corresponderam a 10,20% do PIB, observa a nota. Isso corresponde a um aumento de 3,03 pontos porcentuais em relação ao total de gastos com juros em relação ao PIB no mesmo período do ano passado.

O resultado é que, mesmo com o superávit primário tendo aumentado de 4,41% do PIB nos primeiros oito meses de 2002 para 4,91% em igual período deste ano, o déficit nominal como proporção do PIB quase dobrou: passou de 2,75% do PIB em 2002 até agosto para 5,29% do PIB até agosto deste ano.

Os pagamentos de juros só no mês de agosto foram de R$ 13,2 bilhões, enquanto o superávit primário consolidado do setor público foi de R$ 5 bilhões. A diferença foi um déficit nominal de R$ 8,2 bilhões.

Considerando o fluxo de 12 meses até agosto, os juros nominais totalizaram 10,53% do PIB este ano ante 7,21% em 2002, enquanto o resultado primário passou de 3,49% em 2002 para 4,35% em 2003. O resultado é que o déficit nominal subiu de 3,72% nos 12 meses até agosto de 2002 para 6,18% no período de 12 meses encerrado em agosto deste ano, aumentando a dívida pública.

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