Indústria cerâmica sinaliza recuperação

Maior crítico da política de preços da Compagás, o Sindicato da Louça de Campo Largo (Sindilouça) já fala em retomada do desenvolvimento industrial. “Só depende de medidas de bom senso da Petrobras e sua distribuidora”, afirma o presidente do Sindilouça, José Canisso. Na semana passada, representantes do setor cerâmico dos três estados da região Sul se uniram para criar a Associação Sul-Brasileira de Pisos e Revestimentos. “O objetivo é lutar juntos pela redução do preço do gás”, explica Canisso.

Segundo ele, as vendas do setor estão se recuperando. “A Schmitt e a Germer, que são as duas maiores empresas, estão queimando lenha. Quem queima só gás natural, fica muito pesado para repassar o custo”, comenta Canisso. Embora algumas empresas do setor devam fechar com prejuízo neste ano, ele indica que “a maioria está sobrevivendo, mas com medo, não fez novos investimentos”. Um exemplo é a Incepa, com matriz na Europa, que pretendia trazer uma linha de vasos sanitários. “Se o gás natural continuar com esse preço, a empresa não fará investimento no Paraná, preferindo São Paulo.”

Oito indústrias do pólo cerâmico de Campo Largo utilizam gás natural, queimando 60 milhões de metros cúbicos por ano. O Sindilouças encaminhou um ofício para a Compagás pedindo informações sobre a estimativa de reajuste de preços em 2004. “As indústrias de Campo Largo estão apreensivas, pois devem fazer suas previsões para o próximo ano. A atual política de preços da Compagás só gera prejuízos, inviabilizando o setor”, ataca Canisso.

Segundo ele, os valores das tarifas praticadas pela Compagás são os maiores do País. “O governo do Rio Grande do Sul deu um desconto de 10% em novembro para acelerar o desenvolvimento industrial e o mercado de gás. Em São Paulo, o gás é 50% mais barato”. Além disso, ele comenta que o preço de compra do gás boliviano rateado entre todos os consumidores inclui a queima de 1,8 milhão de metros cúbicos/dia da Usina Elétrica a Gás de Araucária, que não está funcionando. Isso em função de uma cláusula “take or pay” do contrato da Petrobras com a petrolífera Boliviana YPFB, que prevê o pagamento integral do fornecimento de gás, independente da utilização ou não desse volume. Para resolver problemas como esse, Canisso sugere a criação de uma agência reguladora de preços no Paraná.

Explicações

O presidente da Compagás, Rubico Camargo, rebate os argumentos de Canisso. “Ele sabe bem que o desconto da Sulgás (RS) vale apenas para novembro e dezembro porque a Petrobras tinha um dívida em gás com a Sulgás do consumo da térmica de Canoas”, esclarece. Segundo Camargo, os preços das distribuidoras do Sul são muito semelhantes; as pequenas variações decorrem do volume de venda. “Nós vendemos 500 mil metros cúbicos/dia, Santa Catarina vende 1,1 milhão e Rio Grande do Sul, 1,3 milhão”. Em Santa Catarina, há duas tabelas: o cliente opta por garantir 70% ou 90% em contrato “take or pay”, já no Paraná o cliente se compromete a pagar 80%, consumindo ou não o volume contratado. “Se o cliente de Santa Catarina optar pelo contrato que garante 70%, o preço é um pouco mais alto que o do Paraná, o de 90% é mais baixo”.

Camargo cita ainda que a menor indústria cerâmica do Paraná paga R$ 1,15 o metro cúbico do gás, e uma indústria de porte médio (8 mil metros cúbicos/dia) paga R$ 0,80. “Eles não estão arrependidos. Além do preço, a qualidade melhorou muito”. Desde janeiro, informa Camargo, a Compagás está negociando com a Petrobras preços diferenciados para as cerâmicas.

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