Índices de inflação permitem redução dos juros, diz Lula

São Bernardo do Campo

– O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em São Bernardo do Campo, que os atuais índices de inflação permitem pensar na queda dos juros básicos da economia, atualmente em 26,5% ao mês. Em discurso para cerca de 3 mil funcionários da fábrica da Ford na cidade, Lula justificou a manutenção das altas taxas de juros em seus cinco meses de governo como a única alternativa para o controle da inflação.

“Depois de vários meses, há vários indícios de que a taxa de inflação está sob controle e a tendência é cair para você poder reduzir os juros”, explicou Lula, que recebeu da Ford a doação de 225 toneladas de alimentos para o programa Fome Zero, principal bandeira do governo petista. “Não pensem que o Palocci (ministro da Fazenda) e o Meirelles (Henrique Meirelles, presidente do Banco Central) não querem que os juros caiam. É preciso criar bases sólidas na economia para o País ter credibilidade”, disse. “Porque, em política, perdeu a credibilidade, não recupera mais.”

Lula também comparou a realização de suas propostas de campanha ao trabalho de um agricultor – deve-se esperar o tempo necessário para colher os frutos. Ele também usou a música e o futebol como metáforas de que está trabalhando sem pressa. Na primeira, é preciso ensaiar antes de colocar a orquestra para tocar; na segunda, é preciso ajustar o time aos poucos.

Críticas

A exemplo da última terça-feira, quando chamou os donos de postos e distribuidores de combustíveis de “malandros” por não repassarem ao consumidor a queda dos preços dos produtos, ele voltou a fazer críticas aos empresários, desta vez aos que não vêm repassando a queda da inflação para seus produtos.

Dessa vez, Lula criticou os reajustes no preço do aço cobrados às montadoras de automóveis. “O aço sobe infinitamente mais do que a inflação e o argumento é de que o aço é dolarizado. Tudo bem, mas, quando o dólar cai, o aço tem de descer. Não pode apenas subir quando o dólar está em alta e o preço não cair quando o dólar está em queda”, analisou.

Lula fez o comentário durante evento na fábrica da Ford em São Bernardo do Campo (SP). Pouco antes do discurso, o dirigente da Ford no Brasil, Antônio Maciel Neto, havia reclamado do preço do insumo. Segundo o executivo, a cotação do aço subiu mais de 70% nos últimos 12 meses e não cedeu com a queda do dólar. O presidente voltou a criticar também o fato de a redução do preço da gasolina determinada pela Petrobras não ter sido repassada integralmente aos consumidores. “Esse País não pode ser um país em que algumas pessoas pensam que podem mais espertas que outras”, afirmou. “Que ainda podem viver na base da malandragem.”

Estavam presentes à cerimônia na Ford os presidentes da montadora no Brasil e na América do Sul, Antônio Maciel e Richard Canny, respectivamente, os ministros Francisco Graziano (Segurança Alimentar) e Celso Amorim (Relações Exteriores), além do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).

Volta ao passado

Lula passou por momentos de emoção no evento na Ford, quando lembrou a época em que era metalúrgico e líder sindical. Em um desses momentos, o presidente recebeu das mãos de Armando Fagundes Silva, 54, há dez anos funcionários da fábrica, um rosto esculpido em madeira do personagem João Ferrador, criado em 1978 como símbolo de combate às más condições de trabalho e conhecido pela frase “Hoje, eu não tô bom”. No presente entregue a Lula, João Ferrador está sorrindo e diz: “Hoje, eu tô bom!”.

O presidente também contou histórias do tempo em que organizava greves e negociava com os patrões. Segundo ele, a época foi um exercício de democracia. “Quando eu vinha na porta da Ford, era muito conflito. Hoje, vemos você (Antônio Maciel) chamar (os funcionários) de companheiros e eles te aplaudem”, afirmou. Um par de sapatos de segurança utilizado pelos funcionários da empresa também foi dado de presente a Lula.

Presidente garante retomada do crescimento

São Bernardo do Campo

– O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ainda que afina a orquestra e que, “logo, logo, o espetáculo do crescimento começará no País”. Lula disse que cada ministro sabe exatamente o que fazer e que foi eleito para mudar a política econômica do País, garantindo desenvolvimento econômico sustentado as gerações de emprego e renda. “Montamos um governo que poucos na história montaram com a qualidade com que montei”, afirmou.

De acordo com Lula, governar é como plantar uma árvore: é preciso ter paciência e esperar o tempo passar para poder colher os frutos. “Não é só plantar: é adubar e manter esse pé forte e frondoso”, afirmou.

Alckimin

Lula disse ainda que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), tem sido um parceiro extraordinário da administração federal. “Alckmin não só compareceu a Brasília todas as vezes em que foi chamado, como tem dado uma contribuição extraordinária”, afirmou.

O presidente elogiou a atuação dele com os parlamentares da bancada do partido, “orientando os deputados do PSDB para aprovar as reformas de que tanto precisamos”. Lula alertou também que esse papel deve ser desempenhado por outros governadores. O presidente afirmou que o País só poderá retomar o desenvolvimento e reduzir as desigualdades sociais se todos atuarem juntos.

Petistas divulgam manifesto

Brasília – Um grupo de trinta deputados da esquerda do PT divulgou ontem manifesto intitulado “Tomar o rumo do crescimento, já!”, no qual pede que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva conclua logo a transição da política econômica e retome a agenda da campanha presidencial de modo a dar ao País “novo ciclo de desenvolvimento, com distribuição de renda e inclusão social”. O documento diz que está na hora de baixar juros, investir na produção e atacar os gargalos da infra-estrutura que impedem a retomada do crescimento econômico do Brasil.

“A fragilidade financeira do País vem do fato de ele ter se tornado importador de capital. Submetendo-se à lógica do capital financeiro, o Brasil fica refém de uma armadilha recessiva, sem poder de livrar-se dela. Daí decorre a necessidade de um ajuste definitivo, que exige sempre aperto financeiro, superávits fiscais e juros siderais para ganhar a confiabilidade e esperar a compreensão do insaciável e especulativo mercado financeiro internacional”, diz o documento.

O deputado Walter Pinheiro explicou que esse grupo do PT pretende discutir esses temas com pessoas do partido, como o senador Aloízio Mercadante, para conhecer até onde vai o período de transição – alegação da área econômica – e quando é que começa o cumprimento efetivo do programa de governo do PT. Ele explicou que o grupo faz parte do governo e tem responsabilidades.

Por sua vez, o deputado Mauro Passos (SC) explicou que as trinta assinaturas ao documento não representam a totalidade dos apoiadores, pois muitos concordam com as idéias, mas têm dificuldades para assumi-las publicamente. “Esse é o pensamento que permeia a sociedade”, disse ele, explicando que este grupo do PT não prega a ruptura com o governo. Pelo contrário, disse ele, é um grupo que integra o governo Lula.

O documento diz ainda que os cortes orçamentários determinados pelo governo inviabilizam o investimento produtivo e o atendimento a direitos universais da cidadania e que, com tamanho arrocho, “nem políticas compensatórias voltadas para os mais pobre têm viabilidade”. “Superávit primário máximo é sinônimo de estado mínimo, funcionalismo desmotivado, educação e saúde com verbas curtas e cultura sem verbas”, diz.

Latino-americanos devem resgatar confiança mútua

São Bernardo do Campo

– O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que é essencial que os governos latino-americanos estejam unidos para negociar em bloco com os países desenvolvidos. Ele comentou a nova fase de relacionamento com a Argentina. “A Argentina se deu conta que é pobre. O Brasil se deu conta que é pobre. Precisamos estar unidos.”

“É preciso resgatar as relações de confiança entre os países para que possamos negociar em bloco com os países desenvolvidos”, disse Lula, afirmando que juntos, os governos são mais fortes. Comentou também a necessidade de o Brasil buscar novos mercados na Ásia e no Oriente Médio. Mas alerta para que tudo seja feito com calma. “Muita chuva alaga nossa horta.”

Benefício

Lula disse também que o Brasil poderia se beneficiar internacionalmente junto aos países árabes, em função do desgaste dos Estados Unidos junto à comunidade árabe depois dos ataques americanos ao Iraque. “Temos milhares de emigrantes árabes morando no Brasil. Assim, poderíamos aproveitar que os Estados Unidos se desgastaram com a invasão do Iraque junto aos países árabes, para vendermos mais produtos brasileiros nesses mercados”, ponderou Lula.

IGP-M registra em maio deflação de 0,26%

Rio

– O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) referente ao mês de maio registrou deflação de 0,26%. Em abril, o índice fechou com avanço de 0,92%. No ano, o indicador acumula alta de 6,97% e, nos últimos 12 meses, de 31,53%.

Na medição fechada de maio, o Índice de Preços por Atacado (IPA), que representa 60% no cálculo do índice geral, registrou retração de 1,11%, contra alta de 0,80% constatado em abril. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), responsável por 30% do cálculo total, caiu para 0,83%, contra 1,28% da medição de abril. Já o Índice Nacional de Preços da Construção Civil (INCC), que representa 10% do IGP-M, apurou elevação de 2,98%, contra 0,81% do mês passado.

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