Imposto encarece a cerveja

São Paulo

– Um terço do que o brasileiro gasta com cerveja vai para os cofres do governo na forma de imposto indireto, aquele tributo que está embutido no preço final, que todo mundo paga e não tem noção para onde o dinheiro vai. Entre Imposto sobre Mercadorias e Serviços (ICMS), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Cofins e PIS, cerca de 30% do preço da latinha de cerveja vendida no supermercado ou da garrafa long-neck, que custam na faixa de R$ 0,80, ou da garrafa tradicional, que sai por cerca de R$ 2,00, são tributos. Dessa fatia, a maior participação é do ICMS, que responde por dois terços. O restante corresponde à soma do IPI, Cofins e PIS, segundo cálculos da Ambev.

O que os amantes da “loira gelada” não têm noção é de que, de outubro a maio, eles ajudaram a engordar ainda mais os cofres públicos toda vez que abriram uma cerveja. Nos últimos seis meses, o ICMS incidente sobre o produto aumentou em média 14,8% no País, com o Estado de São Paulo puxando a fila (36,9%). Em igual período, o IPI teve alta de 10%.

“É um absurdo pagar tudo isso de imposto, mas não era 17% o ICMS?”, perguntou o chaveiro Jedir Santos, de 39 anos, que no fim da tarde de ontem religiosamente tomava a sua cervejinha na padaria antes de ir para casa. Ele não sonhava que 30% dos R$ 600,00 mensais que gasta com a bebida, praticamente o seu único passatempo, são para pagar impostos. “Até parei de fumar!”, conta.

Já o gerente aposentado do Banespa, José Carlos Cavicchia, de 59 anos, apesar de ser fã número um da “gelada”, não se espanta com a fatia dos impostos embutida no preço. “Cerveja não é gênero de primeira necessidade, como arroz e feijão.” Cavicchia conta que beber cerveja no boteco do bairro todos os dias é uma forma de relaxar. Mensalmente, ele gasta cerca de R$ 300,00 com a bebida, como ele tem uma renda mensal na faixa de R$ 8 mil, mesmo que o do produto seja majorado por causa dos impostos, ele não reduz o consumo. “Como não vou a teatro e a cinema, tomo cerveja e posso abusar um pouco porque não dirijo.”

O diretor-geral da Ambev, dona das marcas Brahma, Antarctica e Skol, Magin Rodriguez, diz que com o recuo do dólar a pressão acumulada nos custos de 18% em 12 meses poderia ser absorvida pelos fabricantes sem repasse para o consumidor. Mas agora, com aumento do ICMS que é recolhido antecipadamente pela indústria, será necessário reajustar preços. No ano passado, dos R$ 14,2 bilhões do faturamento bruto da empresa, exatos 48% corresponderam a impostos indiretos.

O diretor-adjunto da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, Eribelto Rangel, esclarece que alíquota do ICMS de 18% sobre a cerveja não mudou. O que houve foi um ajuste do preço de venda sugerido, que estava defasado em relação ao cobrado, já que o imposto é recolhido antecipadamente pelo fabricante.

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