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Ibre/FGV: Piora do prêmio de risco do Brasil se deve a fatores domésticos

A piora do prêmio de risco do Brasil na semana passada, no cenário de pânico nos mercados financeiros, está relacionada a fatores domésticos, conforme estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Segundo o ex-diretor do Banco Central (BC) e pesquisador do Ibre/FGV, José Júlio Senna, quando se compara a evolução do prêmio de risco medido pela cotação do CDS de cinco anos do Brasil com as condições financeiras internacionais, a aderência é clara, mas somente até a semana passada.

“De maio pra cá, não vemos piora significativa das condições financeiras internacionais”, afirmou Senna há pouco, em seminário de análise de conjuntura promovido pelo Ibre/FGV no Rio.

Por outro lado, segundo o pesquisador, a greve dos caminhoneiros e seus desdobramentos “acenderam um monte de questões internas relevantes”, como a fraqueza do governo, o rompimento da regra de reajustes de preços da Petrobras, e seus efeitos no plano da estatal para vender refinarias, e a discussão sobre tabelar os preços de frete.

“Isso é rigorosamente de lamentar muito”, disse Senna.

Para o pesquisador, os efeitos da piora do ambiente econômico doméstico serão sentidos de forma mais forte na atividade econômica – e menos na inflação. Após a divulgação dos dados do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, o Ibre/FGV revisou sua projeção de crescimento econômico em 2018, de 2,3% para 1,9%.

Segundo Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre, a estimativa já leva em conta os efeitos diretos da greve dos caminhoneiros, como paralisação de linhas de produção e perda de bens perecíveis, mas os desdobramentos relacionados à piora nas condições financeiras domésticas, refletida nos mercados na semana passada.

“Essa piora das condições financeiras, com juros de mercado muito elevados e câmbio mais desvalorizado, é negativa para a atividade”, afirmou Silvia, lembrando que a projeção de 1,9% tem “viés negativo”.

De acordo com a economista, os investimentos e a produção da indústria da transformação são os componentes do PIB mais afeitos a sofrerem impactos negativos com a piora do ambiente econômico. Nas projeções do Ibre/FG, o crescimento de 1,9% neste ano seria ancorado num avanço de 4,0% nos investimentos.

“Quem sofre bastante, e aí está mais sujeito à revisão, são os investimentos”, afirmou Silvia.

Já para a produção da indústria de transformação, a projeção do Ibre/FGV indica avanço de 3,4%. Segundo Silvia, além de ser impactada diretamente pelas paradas de produção, a indústria de transformação ainda tem efeitos em cascata, por exemplo, na demanda por serviços prestados a empresas.

Para a inflação, o Ibre/FGV revisou a projeção para o IPCA de 2018 de alta de 3,4% para um avanço de 4,0%. Tanto Silvia quanto Senna destacaram, no seminário, que essa aceleração não deverá mudar a ação da política monetária por parte do Banco Central (BC). Isso porque, mesmo com a alta do dólar, as expectativas de inflação ainda se mantêm comportadas, diante da elevada ociosidade na economia.

Na visão de Senna, é preciso acompanhar a influência de uma eventual depreciação adicional do câmbio sobre as expectativas de inflação. “Se contaminar as expectativas, o impacto sobre a inflação será mais disseminado, ampliando os efeitos secundários”, o que, então, exigiria ação do BC, disse Senna.

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