Após o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirmar que Paulo Guedes (Economia) interditou a reforma tributária, o ministro disse nesta quarta-feira (30) que há boatos de que Maia fez um acordo com a esquerda para travar privatizações.

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A troca de acusações é feita em público. Na terça-feira (29), o presidente da Câmara publicou uma pergunta em suas redes sociais.

“Por que Paulo Guedes interditou o debate da reforma tributária?”, escreveu.

Menos de 24 horas depois, Guedes respondeu em transmissão ao vivo pela internet, ao comentar os dados do emprego formal.

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“Privatizações, estamos esperando também. Não há razão para interditar as privatizações. Há boatos de que haveria um acordo do presidente da Câmara com a esquerda para não pautar as privatizações. Nós precisamos retomar as privatizações, temos que seguir com as reformas”, disse.

Questionado sobre as declarações de Guedes, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), rebateu o ministro. “Paulo Guedes está desequilibrado. Recomendo ao ministro assistir o filme ‘A Queda’ “, afirmou.

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O filme “A Queda” retrata as últimas horas de Adolf Hitler à frente da Alemanha nazista. A história conta o cerco a Hitler na Segunda Guerra Mundial e a derrota do ditador.

Nesta semana, líderes partidários afirmaram que não há acordo para a reforma tributária defendida por Guedes, que prevê a criação de um imposto aos moldes da extinta CPMF para compensar um corte de encargos trabalhistas.

Na avaliação de parlamentares ligados a Maia, o presidente da Câmara respondeu a crítica feita antes pelo ministro da Economia.

Em agosto, após ser alvo de críticas por causa da ideia de apresentar uma nova CPMF, Guedes disse que Maia não poderia impedir a discussão sobre o novo imposto.

“Nem o ministro pode querer impor um imposto que a sociedade não queira, nem o relator, o presidente da Câmara, o presidente do Senado, o presidente da República pode impedir um debate sobre qualquer imposto”, afirmou o ministro em agosto.

Segundo líderes a par das discussões, o próprio Bolsonaro mandou interromper de novo a perspectiva de envio do projeto depois que líderes mostraram resistência à nova CPMF.

Agora, avaliam deputados, o governo, se decidir encaminhar, só enviará a proposta após as eleições municipais.

Guedes defende que seja destravada a pauta de privatizações, mas não tem obtido sucesso. Nem mesmo a venda de participação da Eletrobras, pauta que vem do governo Michel Temer, avançou.

Essa não é a primeira desavença pública entre Maia e Guedes. Na entrega da reforma administrativa, no início de setembro, o presidente da Câmara deixou evidente, em entrevista à GloboNews, que ambos não estavam conversando.

“Ele tem proibido a equipe econômica de conversar comigo. Ontem [quarta], a gente tinha um almoço com o Esteves [Colnago] e com o secretário do Tesouro para tratar do Plano Mansueto, e os secretários foram proibidos de ir à reunião”, disse Maia, que afirmou ter decidido que a relação da Presidência da Câmara será com o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).

“E o ministro Ramos conversa com a equipe econômica, para não criar constrangimento mais para ninguém. Mas isso não vai atrapalhar os nossos trabalhos, de forma nenhuma.”

Maia disse ainda ter encerrado a interlocução com Guedes.

Ambos já tinham entrado em atrito durante a tramitação da reforma da Previdência. Após o desgaste, Maia passou a falar apenas por meio de interlocutores.

O ministro se irritou com a estratégia adotada pelo deputado e passou a cobrar de sua equipe que, caso fossem procurados pelo presidente da Câmara, encaminhassem a demanda para Guedes.

A divergência se aprofundou durante os debates sobre a reforma tributária. Maia estaria estimulando o repasse de recursos a estados e municípios, a título de compensação pelas mudanças, em detrimento da União (ponto que desagrada Guedes).