Greenspan diz que juros terão que subir nos EUA

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Alan Greenspan, disse ao Congresso ontem que a recuperação da economia americana está em um bom momento e que as taxas de juros anuais – de 1% – terão de subir em algum ponto, embora não tenha dito quando.

“Como já observei antes, a taxa deverá subir em algum ponto para evitar pressões para que os preços venham eventualmente a subir”, disse Greenspan, no testemunho apresentado ao Congresso.

Com a recuperação na economia, algumas empresas, segundo Greenspan, estão encontrado espaço para aumentar seus preços. “Por enquanto, o longo período de acomodação monetária não alimentou um ambiente no qual pressões inflacionárias generalizadas pareçam estar crescendo.”

Greenspan chamou a atenção para a melhora no clima para contratações nas empresas, depois de um longo período no qual uma recuperação econômica sem grandes movimentos não conseguiu produzir crescimentos significativos no mercado de trabalho. “Olhando adiante, as perspectivas para um sólido crescimento econômico sustentado mais à frente são boas.”

Desde junho do ano passado, a taxa de juros nos EUA vem sendo mantida em 1% ao ano, a mais baixa desde 1958. Entre os economistas, há os que prevêem que o Fed vá começar a aumentar os juros no segundo semestre e há os que dizem que os juros nos EUA só começarão a aumentar em 2005.

Alta deve causar pouco impacto no Brasil

São Paulo

– Se o Fed confirmar as expectativas do mercado, elevando os juros de forma gradual e tímida ao longo de 2004, os efeitos no Brasil serão limitados. Para a maioria dos analistas, a taxa deve chegar a 1,75% em dezembro. “Esperamos uma elevação suave, que não terá muito impacto no Brasil”, diz Andrei Spacov, economista do Unibanco.

O maior perigo da alta dos juros nos Estados Unidos é a “reversão de fluxos”: uma debandada dos capitais estrangeiros investidos nos mercados emergentes, rumo aos títulos americanos. Com as baixíssimas taxas de juros que prevaleceram nos EUA e na Europa nos últimos tempos, havia um excesso de liquidez no mercado e os investidores migraram para os títulos de países emergentes, em busca de retornos mais atraentes. Agora, com a iminente alta dos juros nos papéis americanos, teme-se que grande parte dos recursos que estavam em ativos de emergentes volte para os títulos dos EUA.

Com os papéis americanos mais atraentes, o dólar poderia subir no Brasil e o financiamento externo para as empresas ficaria mais caro. Mas grande parte dos economistas acha que a reversão dos fluxos será limitada. “Vão abaixar o som na festa da liquidez – mas não vão acabar com a festa”, diz Dalton Gardimam, economista-chefe do Credit Lyonnais.

“Um aumento de 0,75 ponto percentual na taxa americana não faz tanta diferença”, diz Spacov. Segundo ele, as flutuações do risco- país – que mostra diferença de juros paga pelos títulos do Brasil em relação aos papéis do Tesouro americano – são muito mais relevantes. “O risco subindo de 500 pontos para 600 pontos encarece muito mais o financiamento externo das empresas do que uma alta de 0,75 ponto na taxa americana.”

Além disso, o Fed aumentará os juros porque a economia dos EUA dá sinais de recuperação. “Neste contexto, a alta dos juros não é o fim do mundo. Ao mesmo tempo em que os juros americanos sobem, o que prejudica o Brasil, há um aumento na demanda dos EUA, o que nos beneficia.”

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