Governo prevê inflação em queda e crescimento de 3,5%

O Ministério da Fazenda avalia que o cenário econômico até o final deste ano verá uma desaceleração permanente da inflação, “com moderado crescimento da taxa de câmbio e gradativa recuperação da demanda interna”, o que poderá abrir espaço para um crescimento econômico superior a 3,5% em 2004. As mais recentes estimativas do mercado apontam para um crescimento de 3% do Produto Interno Bruto no ano que vem, segundo levantamento periódico feito pelo Banco Central. Para o orçamento do próximo ano, o governo está trabalhando com uma taxa de crescimento de 3,5%.

A previsão está no boletim bimestral de conjuntura da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, do ministro Antônio Palocci, divulgado ontem. No documento, o ministério destacou ainda que o recuo verificado no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) indica que a inflação convergirá para a meta de 5,5% fixada para 2004.

“Após o esgotamento da forte alta de preços do último trimestre de 2002, o IPCA poderá voltar a apresentar o comportamento observado em 2001 e 2002, com a alta sazonal de preços em julho e agosto, e seu posterior arrefecimento no restante do ano.”

Apesar do relativo otimismo em relação ao próximo ano, o ministério alertou que o processo de redução de juros iniciado em junho, quando a taxa Selic foi reduzida em 0,5 ponto percentual para 26% ao ano, não será condição suficiente para garantir a rápida retomada dos investimentos no país, processo que também dependerá da aprovação das reformas.

“A volta do crescimento industrial, de forma sustentada, requer mudanças estruturais profundas, vinculadas à reforma tributária, ao aprimoramento do marco regulatório de diversos setores chaves como energia e comunicação, e a revisão do arcabouço legal referente à concessão de crédito”, argumentou a secretaria, frisando ainda a importância da aprovação da reforma da Previdência.

Juros

A retomada da tendência de queda do juro básico da economia, iniciada em junho, não garante a rápida retomada dos investimentos no setor industrial, diz o Boletim. O documento diz, porém, que só isso não basta. “A volta do crescimento industrial, de forma sustentada, necessita de mudanças estruturais profundas, que estão vinculadas à reforma tributária, ao aprimoramento do marco regulatório de diversos setores chaves da economia, como energia e comunicação, e à revisão da legislação nas concessões de crédito”, acentua.

“Essas reformulações, em conjunto com a reforma da Previdência, já encaminhadas pelo governo, é que permitirão, de fato, reduzir os custos e estimular a efetiva implementação de planos de investimentos”, diz o boletim.

O boletim, elaborado pela Secretaria de Política Econômica do ministério, destaca ainda que a desaceleração da atividade industrial no período recente é resultado do quadro econômico iniciado no segundo semestre de 2002, quando se combinou o aumento da taxa de inflação com a escassez de recursos externos.

“Contudo, o sucesso na estratégia de estabilização dos preços, a melhoria das condições para rolagem da dívida interna, a recomposição das captações externas privadas e a melhoria nos indicadores externos, criam um ambiente favorável à ampliação da demanda interna que, em conjunto com a manutenção das exportações, permitirão reativar o crescimento econômico a partir do último trimestre de 2003”, diz o boletim.

Os técnicos do ministérios consideram ainda que as recentes medidas do governo, como a elevação do salário mínimo, os incentivos ao microcrédito, a utilização da folha de pagamento como garantia de empréstimos e as liberações dos saldos corrigidos do FGTS, podem elevar a demanda interna e aumentar a confiança do consumidor.

Secretário diz que cenário já permite taxa menor

O cenário econômico atual permite “uma perspectiva realista de taxas de juros cadentes”, disse o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy. No entanto, ele reconhece que os resultados alcançados pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva no front macroeconômico ainda não são definitivos. “Dependem bastante de outras decisões que consolidem o quadro em que a economia vai trabalhar”, comentou.

Entre essas decisões, disse o secretário, estão as reformas da Previdência e tributária, a nova legislação sobre falências e as novas regulamentações para o funcionamento da infra-estrutura e do mercado de capitais, todas ainda em discussão dentro do governo e no Congresso – e para as quais o investidor olha com atenção. “Acho que dá para ganhar este desafio, mas vai exigir trabalho de formiga e muita bola no chão com paciência.”

Regras claras

Para Levy, é necessário, além disso, ter regras claras e estáveis. “A estabilidade econômica conquistada nos últimos seis meses não prescinde de um ordenamento institucional que, sim, limita a ação discricionária do Estado”, comentou Levy, sem referir-se a nenhum exemplo específico.

Até governo dos EUA defende juro menor

Até mesmo o ortodoxo governo dos Estados Unidos já afirma que a recente queda da inflação no Brasil abre espaço para um corte da taxa básica de juros da economia – a Selic. “O continuado progresso do governo em conter a inflação permitirá promover reduções na taxa de juros Selic, o que terá um impacto direto na queda dos custos de empréstimos”, disse Randal Quarles, secretário-assistente para Relações Internacionais do Tesouro dos Estados Unidos.

Quarles, que faz discurso na Câmara Brasil-Estados Unidos de Comércio, em Nova York, lembrou que em junho a inflação medida pelo IPCA – o índice que serve como base para as metas de inflação – teve a primeira deflação em quatro anos. “A inflação parece estar no caminho desejado”, disse.

Por esse mesmo motivo, analistas de mercado e governo também são unânimes em dizer que há espaço para o corte dos juros na próxima reunião do Copom, que acontece na semana que vem.

As apostas sobre o tamanho do corte, no entanto, são bastante variadas. A maioria dos analistas prevê uma redução de 1 a 2 pontos percentuais.

Juros bancários

Com esse cenário, Quarles prevê que será possível reduzir os juros e, consequentemente, diminuir a dívida pública. Assim, os bancos ofereceriam a clientes o dinheiro que deixará de ser emprestado ao governo, reduzindo também os juros ao consumidor.

Redução no consumo faz indústria produzir menos

Rio

(AE) – A retração do consumo interno está reduzindo a utilização da capacidade instalada de segmentos importantes e que dependem da demanda doméstica, como automóveis embalagens e alimentos. Todas as montadoras tomaram providências para reduzir a produção, como férias coletivas ou banco de horas, ainda que nenhuma tenha efetuado demissões, segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). As vendas internas de automóveis caíram 8,2% no primeiro semestre, em relação a igual período do ano passado.

A capacidade instalada da indústria automobilística é de 3,2 milhões de unidades, mas a previsão da Anfavea é que neste ano seja produzido 1,8 milhão de unidades, o mesmo que nos anos de 2001 e 2002. O primeiro semestre se encerrou deixando um estoque de 160 mil unidades.

Um dos segmentos considerado termômetro do comportamento do consumo interno, a indústria de embalagens interrompeu este ano o crescimento anual de 10% obtido nos últimos cinco anos. Houve queda de produção de 5,5% no acumulado de janeiro a maio contra igual período do ano passado. “Este ano, se a gente conseguir chegar em zero a zero, acho que já está muito bom”, disse o presidente da Associação Brasileira de Embalagem (Abre), Fábio Mestriner.

A indústria alimentícia está operando neste ano, em média, com utilização de capacidade instalada de 71,5%, menor do que os 74,5% da média do ano passado. Segundo o coordenador do departamento de economia da Associação Brasileira da Indústria Alimentícia (Abia), Denis Ribeiro, o setor está “um pouco devagar, aquém do padrão normal”, devido à retração do rendimento médio dos trabalhadores e da queda do consumo interno.

Crise de demanda

No segmento de eletroeletrônicos, o momento é de revisão para baixo das estimativas de utilização de capacidade instalada em junho, cujos dados ainda não estão consolidados. Segundo o departamento de economia da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), as previsões iniciais apontavam uma utilização de 73% da capacidade, mas já são consideradas elevadas. O nível considerado ideal para o setor na atualidade é de utilização entre 80% e 85%.

Segundo os economistas da Abinee, “as indústrias do setor estão operando abaixo da capacidade por falta de investimentos e de consumo. Estamos vivendo uma crise de demanda por causa da austeridade fiscal e monetária que afeta os investimentos”.

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