Brasília  – O comércio exterior brasileiro está experimentando um fato inédito: para promover, de fato, a integração da América do Sul, o governo está convocando os importadores brasileiros, e não os exportadores, como de costume, para negociar com os parceiros sul-americanos preços e condições mais competitivas. Em troca, o Brasil substituiria importações de terceiros mercados pelas originárias de países sul-americanos.

– Os importadores, num primeiro momento, estranharam nossa convocação – diz o diretor do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty, embaixador Mário Vilalva.

Segundo Vilalva, enquanto em 1998 o fluxo de comércio (exportações mais importações) do Brasil com as nações sul-americanas era de US$ 23,7 bilhões (21,8% do total), em 2002 a cifra caiu para US$ 15 bilhões, uma redução de 36%.

– Como falar em integração física, se o comércio do Brasil com a região só vem diminuindo ao longo dos últimos anos? Quanto mais comprarmos da América do Sul, mais venderemos aos sul-americanos.

A América do Sul, lembra o embaixador, deve passar por dois processos: a integração física – com a formação de novos meios de interligação de transportes, energia e comunicações – e a integração comercial como fonte de crescimento econômico e desenvolvimento social da região.

Com exceção da Argentina, que tem sempre saldo positivo com o Brasil, a balança comercial brasileira foi superavitária com os países da região. No ano passado, as vendas do Brasil para o Chile superaram as compras em US$ 806 milhões, para a Colômbia em US$ 528 milhões, para o Equador em US$ 373 milhões, para o Peru em US$ 219 milhões e para a Venezuela em US$ 172 milhões.

Vilalva disse ainda que o BNDES terá papel central na promoção dos investimentos nos países vizinhos, seja tornando disponíveis cadastros de investidores brasileiros no exterior, seja por meio de linha de crédito especial, financiamentos para infra-estrutura. O embaixador esclarece, no entanto, que a idéia não é provocar desvio de comércio.

– O segredo é a negociação de preços e condições mais competitivas do que as oferecidas por outros mercados.

Para o chefe do Departamento Econômico da Confederação Nacional da Indústria, Flávio Castelo Branco, o Brasil tem uma característica ímpar no mundo, porque é um “global trader”. Ele lembra que o país tem 25% do comércio internacional com os EUA, 25% com a América Latina, 25% com a Europa e 25% com a Ásia.

– Isso mostra como os nossos interesses são diversificados. Portanto, aumentar a integração com a América Latina não invalida os esforços de comprar de outros mercados.

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