Governo diz que juros ajudaram a derrubar o PIB

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, reconheceu que a dose amarga de juros altos patrocinada pelo Banco Central entre setembro de 2004 e agosto de 2005 foi um dos principais fatores de retração do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado. Escalado pelo governo para falar pela equipe econômica, Paulo Bernardo disse que embora o governo já estivesse preparado, o resultado ficou muito aquém do que todos gostariam. Mas defendeu a política monetária adotada pelo BC:

?O Banco Central fez a política certa no esforço para debelar a inflação. A inflação está convergindo para a meta?, defendeu.

Paulo Bernardo destacou que uma análise dos resultados do PIB em 2005 por setor mostra que a retração não foi uniforme e que alguns segmentos da economia têm motivos para comemorar. Ele citou como exemplo o crescimento de 16% no setor de bens duráveis e de 13% na exportação de manufaturados.

?Tem gente que está amargando prejuízo e gente que pode comemorar?, afirmou.

Para o ministro, o comportamento da economia em 2006 será muito mais favorável. Ele acha que os juros em baixa, a inflação convergindo para a meta, a dívida externa praticamente zerada, as medidas de estímulo aos investimentos estrangeiros e o distanciamento da crise política contribuem para reduzir o risco Brasil e elevar o crescimento da economia este ano.

?As condições da economia em 2006 serão completamente diferentes de 2005. A agricultura ainda é um fator de risco, mas estamos acompanhando com atenção os problemas do setor. E o presidente Lula já garantiu que não deixará a eleição interferir no seu governo?, disse Paulo Bernardo.

PIB teve crescimento de 2,3% em 2005

Segundo números preliminares da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), o crescimento da economia brasileira em 2005 foi o segundo menor da América Latina, à frente apenas do Haiti, país mais pobre do continente. Argentina, Venezuela e México cresceram, respectivamente, 9,1%, 9% e 3%.

A Formação Bruta de Capital Fixo, indicador de investimentos, aumentou apenas 1,6%, limitada pelas altas taxas de juros, pela crise política e pela valorização do real. Para deter a inflação, o Banco Central elevou a taxa básica de juros (Selic) por nove meses consecutivos – passando de 16%, em setembro de 2004, para 19,75%, em maio de 2005. Após três meses inalterada, somente em setembro do ano passado a Selic iniciou uma lenta trajetória de queda, baixando para 17,25% em janeiro deste ano.

Em compensação, o consumo das famílias, alimentado pela expansão da oferta de crédito e pelo aumento da renda e do nível de emprego, teve alta de 3,1% no ano passado, confirmando a trajetória ascendente iniciada em 2004. Já o consumo do governo ficou 1,6% superior.

Entre os setores produtivos, o melhor desempenho coube à indústria, com expansão anual de 2,5%. Abalada por problemas climáticos, que prejudicaram principalmente a safra da soja, a agropecuária ficou quase estagnada, com variação de 0,8%, a menor desde 1997. O setor de serviços, por sua vez, teve avanço de 2%.

No quarto trimestre, a indústria teve expansão de 1,4% em relação ao trimestre anterior; a agropecuária cresceu 0,8% e o setor de serviços avançou 0,7%. 

Agropecuária e dólar afetaram o crescimento

A agropecuária cresceu 0,8% no ano passado, a menor taxa desde 1997, quando o setor registrou queda de 0,8%. Em 2004, o crescimento foi de 5,3%, conforme dados divulgados ontem pelo IBGE.

Os registros de febre aftosa no Mato Grosso do Sul e a quebra nas safras de milho, café, arroz, fumo, algodão e laranja em razão de problemas climáticos foram apontados pela gerente das Contas Nacionais da entidade, Rebeca Palis, como os principais responsáveis pelo desempenho do setor no ano passado.

?Tivemos crescimento na produção de culturas importantes, como a de soja, cana-de-açúcar e mandioca, porém, as taxas foram inferiores às registradas em 2004, o que não ajudou a melhorar o desempenho agropecuário?, disse.

Em 2005, a indústria cresceu 2,5%, percentual que mostra uma recuperação em relação a 2004, quando o desempenho ficou negativo em 0,07%. A atividade que mais se destacou foi a extrativa mineral, com crescimento de 10,9%, impulsionada pelo aumento na produção de minério de ferro, de petróleo e gás natural. ?Já a indústria de transformação, que cresceu 1,3%, não conseguiu deslanchar devido à queda na produção de setores como siderurgia, metalurgia e indústria têxtil por causa da baixa do câmbio, que estimulou a concorrência com os produtos importados?, observou.

Os investimentos, por sua vez, recuaram devido aos juros mais altos. A taxa básica de juros Selic ficou em média em 19,1% em 2005, contra 16,3% em 2004.

?2004 foi o ano do investimento, com a indústria e a agropecuária crescendo muito. 2005 continuou sendo o ano da demanda interna, mas principalmente alavancada pelo consumo das famílias, e não foi tão bom para os investimentos?, disse.

O consumo das famílias cresceu 3,1%, favorecido pelo aumento de 5,3% na massa salarial (total dos rendimentos ganhos pelos trabalhadores) e um aumento em termos nominais de 36,7% do crédito para pessoas físicas. Já a Formação Bruta de Capital Fixo, que compõe os investimentos, cresceu 1,6%. Enquanto a construção civil, com peso de 60% dos investimentos, teve alta de 1,2%, a produção de máquinas e equipamentos cresceu 2,3%.

Confiança no exterior se mantém estável

Londres (AE) – Analistas e investidores de Wall Street e da Europa receberam com tranqüilidade dois dados relevantes da economia brasileira divulgados ontem – o PIB de 2005 e o superávit primário de janeiro – que ficaram abaixo das expectativas do mercado. Tanto é que os ativos brasileiros negociados no exterior não foram afetados, com o risco Brasil se mantendo praticamente estável após a divulgação dos indicadores.

?O PIB ficou um pouco abaixo das expectativas, obviamente isso não é positivo, mas os investidores encararam os números como um fato neutro?, disse a Agência Estado o estrategista em renda fixa para emergentes do banco HSBC, Vitali Meschoulam. ?A economia brasileira havia sofrido um forte desaquecimento no terceiro trimestre, mas a recuperação já está em curso e as previsões para 2006 não devem sofrer alterações relevantes.? O HSBC prevê que o PIB brasileiro crescerá 3,2% em 2006.

A exemplo da maioria dos analistas, Meschoulam não acredita que o resultado das contas fiscais do governo em janeiro sinalizem que o governo terá dificuldades de atingir a meta de 4,25% do PIB para o superávit primário para este ano. ?Os números de janeiro foram ruins na margem, mas não surpreendem diante do aumento dos gastos do governo nos últimos meses?, disse. ?Estamos ainda no começo do ano e a meta deverá ser facilmente atingida.?

Nuno Camara, economista sênior do DKW, também não acredita que a meta fiscal esteja ameaçada. ?Realmente temos presenciado um grande aumento do gasto primário causado principalmente pelo aumento de empregos e de salários e isso está tendo um impacto negativo?, disse Camara. ?Mas como se trata de um ano eleitoral, estamos vendo uma reversão da sazonalidade que afetou as contas fiscais neste início de 2006.?

Ele observou que nos últimos anos o governo acumulava um superávit maior no primeiro semestre para soltar o cinto nos últimos meses. ?Mas como estamos num ano eleitoral, os gastos se avolumaram nesse período pois a Lei de Responsabilidade Fiscal não permite uma expansão dos gastos no segundo semestre?, explicou. ?Trata-se de uma situação facilmente gerenciável e que não representa um deslize fiscal por parte do governo.?

Um estrategista de um banco alemão observou que a calma dos investidores estrangeiros reflete também a aposta que o ambiente externo continuará favorável ao Brasil e outros emergentes nos próximos meses.

CNI também culpa os juros

Brasília (CNI) – A expansão de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2005 em relação a 2004, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirma o efeito adverso dos juros altos sobre a economia brasileira. A avaliação é do economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Paulo Mol.

Segundo ele, o crescimento de 2,3% do PIB brasileiro foi baixo e considerado ruim se comparado com a expansão média de cerca de 4% projetada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia mundial. ?O resultado é próximo à previsão feita pela CNI no fim do ano passado, de 2,5%, para o crescimento da economia em 2005?, afirma o economista.

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 2,3% em 2005, menos do que a metade do avanço registrado em 2004 (4,94%) e rigorosamente em linha com a estimativa média do mercado. No quarto trimestre, o PIB aumentou 0,8% em relação aos três meses anteriores e 1,4% no confronto com o quarto trimestre de 2004.

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