No pequeno município de Capanema, no Paraná, um frigorífico acabou de contratar 650 pessoas para iniciar, na próxima quarta-feira (1), um segundo turno de trabalho. Se hoje a situação surpreende, por ocorrer no meio da crise, há dois anos ela era considerada impossível.

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O frigorífico Dip Frangos, que vai ampliar o abate de aves em 70% e para isso precisou contratar, é a antiga Diplomata, do deputado federal Alfredo Kaefer (PSL/PR), que teve falência decretada em dezembro de 2014 por má gestão e fraudes. Apesar dos problemas financeiros, o juiz Pedro Ivo Lins Moreira, da 1ª Vara Cível de Cascavel, entendeu que a empresa era viável e nomeou um gestor judicial. O frigorífico mudou de nome e manteve suas atividades enquanto o processo corre na Justiça.

Passado mais de um ano da decisão, a empresa consegue gerar recursos para pagar funcionários e custos de manutenção. Os R$ 10 milhões investidos para a ampliação da produção são de recursos próprios. Dívidas com salários atrasados, agricultores, fornecedores, credores e tributos ainda não foram saldadas. Para a administradora da massa falida, a Capital Administradora, isso só será possível quando a empresa for vendida, após liberação da Justiça para a realização de leilões.

No ano passado, a Dip Frangos lucrou R$ 669 mil. Antes da falência, o grupo operava com prejuízos mensais na casa dos R$ 2 milhões. Segundo o administrador judicial Cesar Luiz Scherer, com a ampliação, o abate de frangos saltará de 70 mil para 120 mil aves ao dia, o que exige reforço na mão de obra.

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O frigorífico é o principal motor da economia de Capanema, que tem cerca de 19 mil habitantes. De acordo com dados da prefeitura, a empresa é responsável por 60% da arrecadação de ICMS, que no ano passado totalizou R$ 13,9 milhões. O negócio gira cerca de R$ 3 milhões mensais na economia da cidade por conta dos salários dos trabalhadores e da renda de caminhoneiros, postos de combustíveis, mecânicas e outras atividades vinculadas ao frigorífico, que também tem atividades em Cascavel.

Incomum

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O caso da Dip Frangos não é a regra quando o assunto é falência. Segundo Juliana Bumachar, sócia do Bumachar Advogados Associados, é, na verdade, uma exceção. “Não é comum a continuidade de uma empresa com falência decretada, principalmente pequenas e médias, que compõem a maioria das que fecham as portas”, diz.

Segundo dados da Serasa Experian, em 2014 houve 648 pedidos de falência de indústrias, número que praticamente se repetiu no ano seguinte, com 644 pedidos. “Prosseguir com as atividades permite que não se tenha um patrimônio estagnado, fadado à depreciação”, afirma Luis Cláudio Montoro, da Capital.

Além da Dip Frangos, também foram mantidos em funcionamento a rede de distribuição de combustíveis Diplomata Petróleo (antiga Dial), que fatura em média R$ 8 milhões por mês, e o jornal O Paraná, da RCK Comunicações, que ainda é deficitário. Ao todo, o grupo conta com cerca de mil empregados e obteve receita de R$ 42,4 milhões em janeiro (último dado disponível), a maior parte com a Dip Frangos. 

Funcionários aguardam pagamentos atrasados

Com 19 anos no frigorífico de aves, o gerente comercial Lauri Ortigara, de 49 anos, aposta na recuperação da Dip Frangos e no pagamento de débitos atrasados, que somam cerca de R$ 110 mil. “Hoje, o pagamento dos salários está em dia”, diz. Ele conta que só não passou por sufoco maior durante o período em que a empresa atrasava os salários porque tem outro rendimento. “A gente dava um jeito de empurrar o vencimento das contas no final do mês e ia ajeitando o orçamento para não sofrer tanto.”

Ortigara ainda não tem planos sobre o que fará quando receber o dinheiro da massa falida. “Penso que será uma poupança para a aposentadoria.” Ele torce para que o frigorífico continue gerando emprego e renda para a região.

Rosemeri Berté, de 30 anos, é outra funcionária que aguarda o desfecho em relação aos débitos pendentes com a massa falida. Ela é auxiliar de produção desde 2012 e tem R$ 4,2 mil a receber. “É um dinheiro que viria em boa hora para ajudar no orçamento em casa”, diz. Segundo ela, o período da gestão do deputado Alfredo Kaefer foram tempos difíceis. “A gente não recebia o salário em dia. Consegui me segurar graças à ajuda do meu marido. A gente pagava uma parte das contas e a outra, negociava.”

O marido trabalha como motorista de ônibus escolar e o casal tem uma filha, Kemely, de 6 anos. Além do pagamento do salário e da distribuição da cesta básica em dia, Rosemeri vê mudanças no ambiente de trabalho. “Antes a gente ficava apreensiva se o frigorífico ia fechar as portas ou não. Agora temos mais esperança. Até a comida no refeitório ficou mais saborosa.”