Fornecedora da Renault fecha em Ponta Grossa e demite 190

A TCA (Tecnologia em Componentes Automotivos SA), fornecedora da Renault do Brasil em Ponta Grossa, comunicou ontem o encerramento das atividades da planta e a demissão dos 190 funcionários.

Em ofício encaminhado ao Sindicato dos Metalúrgicos de Ponta Grossa, a empresa alega prejuízos de R$ 16,3 milhões com a unidade. Segundo a direção da TCA, a manutenção da operação em Ponta Grossa é economicamente inviável por dois motivos: o volume de produção da Renault ficar muito inferior ao previsto e a postergação da incidência do ICMS da saída do fornecedor para a saída dos veículos da montadora, que impediu o aproveitamento dos benefícios fiscais concedidos à TCA pelo governo do Estado.

A TCA firmou protocolo de intenções com o governo do Paraná e a Prefeitura de Ponta Grossa no dia 29 de março de 99, para viabilizar a instalação de uma fábrica de componentes automotivos (fios, cabos, condutores elétricos e chicotes) para fornecimento à Renault. No documento entregue ontem de manhã aos metalúrgicos, a direção da TCA alega que a política de incentivos estaduais e municipais existentes tornava a instalação da empresa no Paraná mais viável economicamente do que o fornecimento direto da matriz em Jaboatão.

No documento, a TCA ressalta que a planta foi montada com base numa produção mensal de 350 carros/dia, e subseqüentemente preparada para atender 500 carros/dia, a pedido da montadora. Porém a média nos quatro anos de operação da unidade foi de 185 veículos/dia. O número de empregados chegou a quase 500, no começo do ano passado, mas foi reduzido gradativamente.

A empresa destaca que os benefícios negociados para a vinda da TCA ao Paraná (dilação de prazo para pagamento do ICMS e financiamentos) tiveram por pressuposto a existência de saldo devedor de ICMS nas operações praticadas dentro do Estado. Segundo a direção da TCA, os incentivos foram levados em conta no modelo de viabilidade econômica do empreendimento, porém posteriormente a Renault negociou com o Estado a compra diferida, implicando na inexistência de base para aproveitamento dos benefícios negociados pela TCA.

Por causa da venda diferida à Renault, o acúmulo de saldo credor gerado na TCA, atualmente de R$ 3,4 milhões, representou “aumento significativo de custos, com conseqüente reflexo negativo em seus resultados”. A empresa tentou transferir o custo não projetado para a montadora, que concordou com a proposta, porém a transferência foi vetada pela Receita Estadual.

De acordo com a empresa, o total dos prejuízos acumulados nos quatro anos de operação em Ponta Grossa é de R$ 8,2 milhões, que somado ao crédito acumulado de ICMS mais o investimento feito (menos o valor depreciado, de R$ 4,7 milhões) eleva a perda total da planta a R$ 16,3 milhões. A TCA informa que pagará todas as verbas rescisórias previstas em lei para os empregados demitidos.

“Surpresa”

A decisão de fechar a unidade surpreendeu os trabalhadores. “Fomos lá para negociar plano de saúde e aumento do tíquete-alimentação. Ficamos surpresos ao receber a notícia”, conta o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Ponta Grossa, José Luiz Teixeira. Ele já entrou em contato com o secretário estadual do Trabalho, Padre Roque Zimmermann, e com o secretário de governo Daniel Godoy, para pedir que o Estado interfira na questão com objetivo de evitar as demissões.

Delphi fornecerá peças

A Renault do Brasil informou que o fornecimento das peças está garantido, em função da transferência da linha de produção de chicotes da TCA para a multinacional Delphi. A negociação não teve interferência da montadora, que ressaltou apenas a continuidade do fornecimento de componentes nacionais. Embora a Delphi tenha uma planta em São José dos Pinhais, que fornece para a Volkswagen/Audi, nenhuma das partes envolvidas soube informar onde serão produzidos os chicotes para a Renault.

Circulou a informação de que a Delphi teria comprado a TCA, informação negada pela assessoria de imprensa da Delphi. A reportagem de O Estado procurou os diretores da TCA, mas ninguém foi localizado. Também surgiu a notícia de que a Delphi estaria levando maquinário da TCA para uma unidade de Minas Gerais, que também fabrica chicotes elétricos, e poderia levar até 30 funcionários do Paraná. A Delphi não confirmou nem desmentiu.

Em relação às justificativas da TCA para fechar a fábrica, a Renault do Brasil alegou que a empresa “não é fornecedora exclusiva da Renault, vem enfrentando um problema de mercado, que é global, e perdendo encomendas de outras montadoras instaladas no Brasil há mais de um ano”. A montadora salientou que apesar de reduzir seus volumes de produção no Brasil, “nunca cancelou pedidos de peças à TCA, pelo contrário, trouxe peças do Kangoo, que eram fabricadas na Argentina, para a fábrica da TCA em Ponta Grossa”. A Renault não comentou a renegociação do ICMS.

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