Fipe teme repasse da alta do dólar aos preços

São Paulo  – A Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), tradicionalmente otimista quando a análise envolve repasse de dólar para os preços, já demonstra preocupações com o atual nível da taxa de câmbio.

O dólar anteontem ultrapassou a barreira psicológica dos R$ 3,00 e ontem manteve-se acima deste valor. Para o professor de economia da USP e coordenador-adjunto do Índice de Preços ao Consumidor (IPC-Fipe), Juarez Rizzieri, se o dólar continuar neste nível, a justificativa do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) para a redução da taxa de juros na sua reunião de julho, de 18,5% para 18% ao ano, de que não estava havendo repasse cambial para os preços pode acabar sendo desbancada.

De acordo com Rizzieri, o único caminho que o governo tem agora para tentar amenizar a pressão que o câmbio vem sofrendo seria a formalização de um outro acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). “Mas até mesmo um acordo com Fundo não terá, desta vez, a mesma força que teria em uma outra época não eleitoral, uma vez que os principais candidatos à sucessão presidencial não concordam com a formalização de um novo acordo”, afirma o economista da Fipe.

Para Rizzieri, o câmbio, por ser livre, é hoje o sensor de risco da economia. E como tem de cumprir uma trajetória econômica até o fim do ano e tentar garantir uma transição presidencial tranqüila, o governo, diz Rizzieri, já deve estar olhando para alguns produtos que podem ter seus preços administrados para tentar neutralizar uma possível inflação alta “o que ele já está tentando fazer com o gás de cozinha”.

“Por isso, ele (o governo) deveria fazer também algum tipo de acordo com a Petrobras, que poderia absorver impactos do dólar em troca, se necessário, de alguns subsídios. Até porque, se a inflação espichar demais, a indexação se tornará inevitável”, diz Rizzieri.

O coordenador da Fipe ressalta, que apesar da desvalorização cambial, a inflação encontra-se ainda contida porque as empresas não têm conseguido repassar a alta do dólar para os preços por causa da baixa renda da população. Por outro lado, lembra, o governo tem se esforçado no sentido de cortar gastos. “Mas represamento de pressão cambial tem limite e poderá chegar um momento em que as empresas não terão mais como segurar o repasse para os preços”, afirma.

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