Fed eleva taxa de juro dos EUA para 1,5% ao ano

O Federal Reserve (Fed, o BC americano) elevou ontem, pela segunda vez seguida, sua taxa de juros em 0,25 ponto percentual. O aumento na taxa é mais um passo do Fed para encerrar sua política de juros baixos, que teve por objetivo estimular a recuperação da maior economia do mundo após os atentados de 11 de setembro de 2001.

Como afirmou recentemente o presidente do Fed, Alan Greenspan, a preocupação da autoridade monetária americana agora é manter o crescimento sustentável e sem risco de inflação nos EUA.

Com a elevação de 0,25 ponto, os juros básicos norte-americanos voltam a 1,50% ao ano – patamar pouco abaixo do verificado em novembro de 2002, quando o Fed baixou a taxa de 1,75% para 1,25% ao ano.

A decisão do Fed ficou dentro do esperado tanto por investidores quanto por economistas. Para os próximos meses, entretanto, não há unanimidade.

Greenspan disse em testemunho sobre a situação econômica dos EUA ao Congresso, em julho, que as condições da economia americana “têm sido bastante favoráveis em 2004”, com o crescimento mais forte finalmente produzindo algum ganho significativo no mercado de trabalho.

Alguns números da economia americana de junho, no entanto, contradizem a expectativa de Greenspan. O PIB (Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas produzidas pelo país) americano referente ao segundo trimestre decepcionou, com um crescimento anualizado de 3%, abaixo do registrado no primeiro trimestre (+4,5%). A expectativa dos analistas era de um crescimento de 3,8%.

Os gastos do consumidor – um dos principais indicadores da recuperação da atividade econômica norte- americana – caíram 0,7% em junho – redução maior que a esperada pelos analistas (-0,3%).

Os preços do petróleo têm pressionado a inflação nos EUA. Greenspan havia dito ao Congresso que o aumento da inflação se deveu a fatores transitórios – entre eles os preços do petróleo.

A inflação, no entanto, subiu 0,3% em junho, depois de ter registrado aumento em maio (+0,6%), puxada principalmente devido aos preços do petróleo e da gasolina.

Empregos

A situação do mercado de trabalho também não é animadora. Depois dos 78 mil empregos gerados em junho (após revisão, contra uma expectativa de cerca de 240 mil novos postos de trabalho), foram criados apenas 32 mil empregos em julho, pouco mais de um oitavo do que era esperado pelos analistas (230 mil novos empregos).

O fraco desempenho na criação de empregos tem sido um tema constante nas críticas do candidato democrata, John Kerry, às políticas econômicas do presidente George W. Bush, candidato à re-eleição em 2 de novembro.

O candidato democrata acusa a administração Bush de ter criado empregos de “segunda classe” para substituir o 1,1 milhão de postos de trabalho fechados pela política econômica do atual governo. Neste ano, já foram criados 1,3 milhão de empregos nos EUA.

Medida terá impacto no Brasil

A economia brasileira pode sofrer um impacto negativo com os sucessivos aumentos dos juros nos Estados Unidos. A mudança também pode atrapalhar a política do Banco Central brasileiro de reduzir gradualmente os juros no País.

Isso porque o rendimento das principais aplicações financeiras do mundo terão de subir, para manter a mesma atratividade em relação aos papéis do Tesouro dos EUA, considerados de risco zero.

Ao mesmo tempo, as aplicações nos títulos do governo dos EUA devem “sugar” investimentos até então de maior risco – como ações, dívidas de empresas e governo, moedas -, o que tende a tirar dinheiro do Brasil e de países emergentes em geral.

Como fator atenuante dessa tendência temos o fato de que os sucessivos aumentos dos juros nos EUA são amplamente esperados pelos mercados internacionais e já estavam “precificados” – ou seja: já estavam embutidos nas taxas de juros e preços de ações e títulos de dívidas.

Outro fator minimizador é que os dois aumentos dos juros nos EUA foram de apenas 0,25 ponto percentual cada, o que eleva a taxa para 1,5% ao ano, ainda em patamar de 1961 (em novembro de 2002, o Fed baixou os juros de 1,75% para 1,25%).

Reflexos do aumento dos juros americanos

Com rendimento maior, os títulos do governo norte-americano – considerados as aplicações financeiras mais seguras do mundo, com risco próximo de zero – atraem investimentos que, em tese, se sujeitariam a riscos maiores, como ações, dívidas públicas e privadas e o câmbio de moedas.

Na prática, o aumento dos juros nos EUA motiva uma completa realocação dos investimentos a partir de novas percepções de risco. Explicando: como o investimento de risco zero paga um juro maior, quem aceitava correr um pequeno risco para ter um rendimento um pouquinho melhor perde essa necessidade – pois pode ter o mesmo ganho sem risco algum.

O mesmo acontece para os investidores mais arrojados que se submetiam a um risco maior ainda para ganhar bem mais. Com o aumento dos juros pagos, esse investidor não precisa correr tamanho risco para ganhar a mesma coisa.

Por risco, entenda-se simplesmente a possibilidade remota, eventual – ou mesmo improvável – de não receber o dinheiro investido.

E assim sucessivamente, até chegar a riscos muito elevados de inadimplência, que exigem remunerações compatíveis para cobrir eventuais (e prováveis) quebras nos compromissos (ou seja: calote).

O mercado considera como de alto risco papéis de países emergentes – como o Brasil -, além de títulos de empresas em dificuldades financeiras. É por isso que o aumento nos juros norte-americanos quase sempre coincidem com o retorno de dinheiro aos EUA, valorização internacional do dólar e melhor financiamento do déficit das contas externas americanas.

Esses movimentos são ainda acompanhados pela diminuição dos investimentos em países emergentes e pelo fim do dinheiro barato disponível para esses países.

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