Fazer ‘arroz com feijão’ é difícil porque falta liderança, diz ex-diretor do BC

O economista e ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman acredita que a crise brasileira não é algo “intransponível”, embora a retomada prevista deva ser demorada e fraca. A situação pode melhorar se o governo conseguir adotar uma política simples, “de arroz com feijão”.

Questionado sobre o impacto do rebaixamento, Schwartsman afirma que a maior parte dos efeitos tinha se “materializado”. “Na prática, isso significa que o Brasil já tinha perdido o grau de investimento meses atrás. Esse processo de piora da avaliação de risco está expresso no CDS de 5 anos e se reflete na moeda. Mas o anúncio trouxe algum elemento de surpresa, pelo fato de ter sido antecipado e pela manutenção da perspectiva negativa. A decisão tem efeitos, sim. O aumento dos spreads soberanos, por exemplo, significa uma elevação do custo de endividamento das empresas”, diz.

Para o economista a travessia da economia será difícil. “Há menos incentivos para investimento. Mas (essa piora) não foi de ontem para hoje. Ela ocorreu nesses últimos seis, oito, nove meses”, afirma.

Sobre o quê pode ter motivado a decisão da S&P, ele acredita que o Orçamento foi a “gota d’água”. “A S&P e as demais agências deram um certo benefício da dúvida para o Joaquim Levy.”

Futuro

“É o óbvio para a cabeça de um economista: cortar gastos, aumentar imposto, enfim… Não é um problema econômico intransponível do ponto de vista teórico”, diz o ex-diretor do BC sobre as posturas que o governo deve tomara partir de agora. “O problema é que o óbvio, fazer o arroz com feijão, está difícil porque não tem liderança política. A presidente tinha um rumo equivocado, e ofereceram outro rumo, mas ela não consegue levar adiante porque não está convicta. E como a gente sabe que a presidente não está convicta? Pela resistência que ela tem em dizer que estava errada antes.”

Sobre uma volta do grau de investimento, Schwartsman acredita que, “se fizer o arroz com feijão, o País retoma”. “O problema é fazer o arroz com feijão. É difícil porque temos, em tese, três anos desse governo. É um governo que não acredita nisso, não consegue dialogar com a sociedade e com o Congresso e está perdido. Se tiver um governo desses, e pedir para fazer arroz com feijão, ele vai queimar o feijão e empapar o arroz”, avalia.

O economista avalia que somente em 2017 a economia pode voltar a melhorar um pouco. “No ano que vem, já começa ter um juro mais baixo e as exportações reagem em alguma medida. O País não vai ficar com o PIB caindo para sempre. Não tem motivo para acreditar nisso. Tem uma válvula de escape cambial que funciona melhor aqui do que, por exemplo, na Grécia. Então, quem faz comparação com a Grécia é de uma burrice extraordinária. Tem alguma luzinha no fim do túnel, mas é fraca e está longe”.

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