Exportação é saída para recuperação do PIB

Rio e São Paulo (AG) – O crescimento econômico medíocre deste início de século empurrou as empresas brasileiras para o comércio exterior e, agora, a recuperação do consumo doméstico não consegue reduzir o ânimo exportador do empresariado. Este ano, o grande impulso para as vendas externas virá de produtos manufaturados – não só das velhas commodities agrícolas – e, mais uma vez, a demanda externa sustentará o Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas do país): mais da metade da expansão de 3,5% estimada para 2004 virá das exportações.

“Tradicionalmente, as indústrias brasileiras só exportavam em momentos de crise interna. Mas o susto foi tão grande nos últimos anos que, agora, as empresas não abrem mão do mercado externo. Parece que, por vias tortas, alcançamos a tão esperada cultura exportadora”, afirma José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB).

É uma mudança de atitude que pode ser vista em números. Segundo a Fundação Centro de Estudos em Comércio Exterior (Funcex), no primeiro semestre deste ano as vendas de produtos manufaturados cresceram 24,9% em quantidade. Enquanto isso, as exportações de básicos aumentaram só 14,3%.

“As empresas brasileiras passaram a considerar o mercado externo mais estável e favorável do que o mercado doméstico”, diz Fernando Ribeiro, economista da Funcex.

Sua avaliação recebe a confirmação do setor produtivo: “Foi-se o tempo em que exportar era um colchão amortecedor para a queda da atividade interna”, diz o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio de Almeida. “Hoje, é muito difícil uma empresa voltar atrás e deixar de vender produtos lá fora para abastecer o consumo interno”.

Fincar o pé no mercado externo dá trabalho. Por isso, frente à recuperação do consumo doméstico, a nova palavra de ordem é vender simultaneamente aqui e lá fora.

Com 52% de suas receitas (mais de R$ 1 bilhão no primeiro trimestre) obtidas com exportações para 90 países, a Perdigão já estuda a construção de uma nova fábrica para atender tanto a demanda doméstica como externa.

“A economia brasileira dá sinais de sustentabilidade”, diz o diretor de relações institucionais da Perdigão, Ricardo Meneses, acrescentando que a empresa quer se manter no exterior.

“São mercados conquistados com muito sacrifício, disputando cada cent de dólar com concorrentes fortíssimos, dos quais não vamos abrir mão de jeito algum”.

Fabricante de um setor mais sensível à perda de renda dos brasileiros, a Agabê, calçadista de Franca, exporta 80% da produção (para 21 países). Mas seu diretor-presidente, Miguel Bettarello, diz que a empresa precisa com urgência recuperar as vendas no mercado interno. É que, exportando, obtém créditos do PIS/Cofins, que só podem ser compensados nos tributos recolhidos em vendas locais.

“A empresa precisa voltar a vender mais lá fora, para não ficar sem capital de giro”.

A apreensão da Agabê é reflexo de uma retomada do crescimento doméstico ainda incipiente. Nas projeções da LCA Consultores, o consumo das famílias deve crescer só 2,7% este ano, enquanto as exportações de bens e serviços terão expansão de 9,7%.

Empresas se modernizaram

Rio (AG) – A conquista de mercados no exterior é fruto de um aprendizado feito a duras penas pelas empresas brasileiras. O economista Aloísio Campelo Jr., da Fundação Getúlio Vargas, lembra que a abertura comercial, iniciada nos anos 90, impôs à indústria nacional a concorrência dos estrangeiros. As empresas brasileiras se ajustaram, modernizaram sua gestão e, hoje, em alguns setores, são extremamente competitivas.

Júlio de Almeida, do Iedi, acrescenta que, desde 1999, quando o País adotou o câmbio flutuante, as empresas aprenderam que exportar exige investimentos muito altos. Eles vão desde a prospecção de compradores, à promoção das marcas, passando pela adequação dos produtos e a contratação de advogados para formalizar os contratos.

Mais investimentos para atender demanda doméstica

São Paulo (AG) – Para manter posição no exterior e atender ao recente aumento da demanda doméstica, as empresas estão ampliando os investimentos. A Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) inicia em agosto as obras para a expansão em 50% de sua capacidade de produção, um investimento que custará US$ 1 bilhão.

“Temos mercado para vender mais lá fora e esse é um segmento rentável”, diz o diretor comercial da CST, Benjamin Mário Baptista Filho.

“Hoje estamos hedgeados (protegidos) nos dois mercados e o novo investimento vai nos proporcionar maior flexibilidade”.

Este ano, 60% da produção da CST serão exportados e 40%, vendidos no País.

Diferentemente de outros segmentos da economia, que viram as vendas despencarem com a crise iniciada no segundo semestre de 2002, os fabricantes de telefones celulares tiveram de pisar no acelerador para atender à demanda interna. Baseada no Brasil para atender a todo o Mercosul, a filial da Motorola acaba de investir US$ 21 milhões em sua fábrica de Jaguariúna, no interior paulista.

“Com o investimento estamos preparados para continuar com as duas frentes de negócios – diz o presidente da Motorola no Brasil, Luis Carlos Cornetta”.

Para Júlio de Almeida, diretor do Iedi, a retomada da demanda interna será uma alavanca para investimentos industriais neste semestre e em 2005.

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