EUA vão isolar o Brasil na Alca, avisa Ricupero

Brasília – “Se o Brasil teve algum problema com os Estados Unidos, foi porque lutou por aquilo que é o objetivo da OMC. Ela existe para liberalizar o comércio mundial.” A observação é do embaixador brasileiro Rubens Ricupero, 66 anos, ex-ministro da Fazenda, representante do governo brasileiro em Washington por vários anos, e que desde 1995 ocupa o cargo de secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento).

O embaixador traça um panorama muito difícil para o Brasil nas negociações na Organização Mundial do Comércio e na constituição da Aliança para o Livre Comércio nas Américas, a Alca. As dificuldades que o Brasil já enfrenta na formação da Alca, segundo Ricúpero, se deve principalmente à fraqueza da maioria dos parceiros brasileiros frente aos Estados Unidos. “Outros países latino-americanos têm uma posição de participar desse acordo com os EUA, mesmo que isso lhes obrigue a renunciar à possibilidade de políticas próprias. Como esses países são, em geral, pequenos e já praticamente perderam as indústrias que tiveram no passado, para eles não faz muita diferença”, diz.

Ele elogia a atuação dos representantes brasileiros nas negociações e rejeita qualquer acusação de intransigência. Mas adverte que o País, “gigante pela própria natureza”, deve acostumar-se com isso: “um país muito grande às vezes tem que aceitar que a sua situação acabe ficando um pouco isolada”, diz. Para Ricupero, “o que o Brasil deseja é que a Alca liberalize as áreas em que nós somos competitivos, como, por exemplo, suco de laranja, aço, açúcar e álcool combustível. Os americanos resistem. E nós, creio eu, com razão, não vemos por que aceitar fazer grandes concessões em temas como investimento ou proteção de patentes, que são interesses exclusivos dos americanos, quando a perspectiva para os produtos brasileiros é remota”.

“Se o Brasil teve algum problema, foi porque lutou por aquilo que é o objetivo da OMC, liberalizar o comércio mundial”, diz. A solução para romper o impasse com os EUA seria “os dois lados terem uma atitude mais realista e baixar um pouco o nível de ambição”. Mas ele não acredita que isto será fácil “porque os outros latino-americanos são muito frágeis e tendem a aceitar sem discussão as propostas americanas”.

Ricúpero acredita também que os subsídios à agricultura nos países ricos estão fadados ao desaparecimento nos próximos anos. Ele aponta aquele que considera o verdadeiro nó a ser rompido pelo País no comércio exterior, o investimento na diversificação e modernização de nosso setor produtivo. “É só por meio da melhoria da oferta que nós resolveremos essa dependência excessiva de produtos complicados (como os do setor agrícola), que as negociações não vão resolver tão cedo”, diz.

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