Estrutura fiscal impede crescimento sustentado

São Paulo (AE) – A histórica incapacidade de formação de capital impedirá o crescimento sustentado do Brasil e o governo Lula, apesar de bem-sucedido na política macroeconômica de curto prazo, não terá condições nem tempo para deflagrar um processo de mudança até 2006. A afirmação é do economista e professor do Ibmec São Paulo, Eduardo Gianetti da Fonseca. Em entrevista à Agência Estado, ele diz que o Estado brasileiro cresceu demais nos últimos anos e é preciso mudar a estrutura fiscal do País para que famílias e empresas possam investir uma parcela maior de suas rendas, em vez de repassá-la ao setor público.

"O verdadeiro teste do governo Lula ainda está por vir, e a hora da verdade vai ser o momento em que a sociedade brasileira se der conta de que, com a atual estrutura fiscal e todos os problemas de microeconomia que ainda não conseguimos resolver, o crescimento sustentado possível hoje no Brasil é, na melhor das hipóteses, de moderado a baixo", afirma Gianetti.

Segundo ele, quando essa discussão estiver mais presente entre os brasileiros, no entanto, o governo estará na fase final do seu atual mandato e, dessa forma, terá pouco capital político para promover reformas microeconômicas em caráter profundo. "A popularidade do Lula tende a cair à medida que o baixo crescimento mostrar os limites do possível no Brasil."

Gianetti elogia a política monetária conduzida pelo Banco Central, dizendo que é "muito bem-sucedida e está funcionando exatamente como os manuais de economia ensinam", pois foi capaz de domar a inflação em aceleração em 2002, quando o governo Lula tomou posse, e conduzir o País à recuperação cíclica vivida neste ano.

Ele ressalva, porém, que, no longo prazo, a fórmula utilizada até agora será ineficaz. O que mais preocupa Gianetti é a baixa formação bruta de capital fixo no Brasil, que chega a 20% do Produto Interno Bruto (PIB), um nível baixo em relação aos primeiros anos do Plano Real e ainda menor quando comparado a países asiáticos de alta crescimento econômico, como a China, onde a poupança chega a 40% do PIB.

"Se nós incorporarmos o capital humano nesta equação, o quadro brasileiro fica ainda pior. Para que haja crescimento sustentado elevado, uma série de pendências, de problemas terão de ser resolvidos. É questão da agenda microeconômica, da baixa poupança , de investimento em infra-estrutura, de regulamentação", afirma o professor.

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