Baixa confiança

Estatais têm queda real de 13,9% no volume investido

Num momento de baixa confiança, em que o governo precisaria de um impulso estatal para manter a economia aquecida, as empresas estatais registraram queda real de 13,9% no volume investido no período de janeiro a outubro deste ano, comparado com igual período de 2015.

Paralisada pelas investigações da operação Lava Jato e amargando os efeitos da contenção artificial dos preços dos combustíveis, a Petrobras registrou o menor volume de investimentos desde a crise de 2009, com R$ 65,6 bilhões. A Eletrobras desembolsou, no mesmo período, o menor volume desde 2008: R$ 4,3 bilhões.

Os dados das empresas estatais, que em seu conjunto investiram R$ 75,6 bilhões até outubro, foram divulgados nesta segunda-feira, 01, pelo Ministério do Planejamento. A queda na comparação com anos anteriores foi detectada pela organização não-governamental Contas Abertas, que compilou os dados oficiais desde 2000 e os atualizou conforme a variação do Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI).

Em termos reais, as empresas estatais investiram R$ 12,2 bilhões menos que em 2013. Só na Petrobras, a redução foi de R$ 12,5 bilhões.

“Em se tratando da Petrobras, tendo em vista as graves denúncias sobre corrupção em diversos empreendimentos, até mesmo os gestores corretos certamente estão tendo maior cautela em relação à aprovação de projetos, recebimento de obras, pagamentos, etc”, comentou o secretário-geral da ONG, Gil Castello Branco, apontando para uma possível causa do fraco desempenho. “Além disso, deve-se destacar o congelamento dos preços dos combustíveis, que ocorreu por tempo prolongado, fato que afetou o caixa, a rentabilidade da empresa e aumentou o seu endividamento.”

Mico

As ações da Eletrobras, disse ele, viraram “mico” desde que o governo decidiu forçar as tarifas para baixo por meio da renovação antecipada de contratos. Esse cenário foi agravado pela estiagem, que elevou o custo da energia por causa do acionamento das usinas térmicas e gerou um desequilíbrio financeiro que os subsídios do Tesouro Nacional não foram capazes de cobrir. “Se fossem empresas privadas, elas estariam quebradas”, resumiu.

A Eletrobras corre sério risco de ser tragada pela Lava Jato. Investigadores encontraram indícios de que o esquema instalado na Petrobras atuou em outras áreas, e o setor elétrico é um deles.

Neste ano, houve ainda redução nos investimentos da Infraero, que Castello Branco considera natural. Isso porque a comparação é feita com 2013, num período em que os preparativos para a Copa do Mundo estavam a todo vapor.

Paralisia

Os efeitos das investigações policiais sobre o andamento dos negócios das empresas estatais ainda são difíceis de calcular. Mas já há, na própria equipe de governo, a avaliação que os investimentos em 2015 poderão ser prejudicados, dependendo da extensão do caso. Além da paralisia administrativa das estatais, as obras podem ser prejudicadas porque muitas das maiores construtoras do País são também alvo da investigação. Há, ainda, dúvidas sobre como ficará o financiamento a essas empresas.

A nova política econômica que a presidente Dilma Rousseff pretende implantar conta com os investimentos para puxar o Produto Interno Bruto (PIB). Mas a perspectiva para as empresas estatais, ao menos nesse momento, não parece ser de melhoria.

A proposta do Orçamento de Investimentos das Empresas Estatais, que está em análise no Congresso Nacional mas poderá ser revista pela nova equipe econômica, contempla uma pequena queda em relação a 2014. São R$ 105,9 bilhões este ano, e R$ 105,7 bilhões no ano que vem.

No caso da Petrobras, a redução será de R$ 1,1 bilhão. O Planejamento explica que muitas obras – entre elas a enrolada refinaria Abreu e Lima – entrarão em fase final e por isso demandarão menos verbas.