Entidades pedem troca da administração portuária

Doze entidades de classe ligadas ao Porto de Paranaguá (sindicatos e cooperativas), a Associação Comercial, Industrial e Agrícola e a Câmara de Vereadores do município encaminharam ontem um documento ao governo do Estado pedindo a imediata substituição dos atuais dirigentes da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa). O “Manifesto por Paranaguá” foi entregue pelo prefeito de Paranaguá, Mário Roque, ao chefe da Casa Civil, Caíto Quintana.

Segundo Roque, o documento tem como objetivo “mudar a filosofia de trabalho da administração do Porto”. O chefe da Casa Civil informou que não iria comentar o assunto. O prefeito de Paranaguá conversou por telefone com o governador Roberto Requião, que prometeu recebê-lo em audiência na próxima segunda-feira. Roque explicou que “veio a Curitiba como mediador, para salvar o bom relacionamento entre Paranaguá e o governo do Estado”.

No manifesto, as entidades citam que “é pública e notória a total incompatibilidade da atual equipe administrativa da Appa com a comunidade portuária”. Os signatários alegam que “essa incompatibilidade foi exposta através de depoimentos de trabalhadores e empresários, prestados à Comissão de Fiscalização da Assembléia Legislativa do Paraná”. Segundo o documento, “os atos da direção da Appa consistem na hostilização de empresas exportadoras e importadoras, armadores, sindicatos laborais, terminais portuários, e todos os demais segmentos que utilizam o terminal portuário paranaense, sem precedente em seus 69 anos de história”.

De acordo com as entidades, em razão dessas atitudes, o Porto de Paranaguá está perdendo investimentos e ficando sucateado. “A falta de eficiência na manutenção dos piers, da dragagem, dos equipamentos e a má qualidade dos processos logísticos sob coordenação da Appa têm provocado o envio de milhões de dólares por dia para o exterior, para remuneração de sobrestadia de navios”, cita o manifesto, destacando que os investimentos do governo federal estão sendo dirigidos para portos concorrentes de Paranaguá, o mesmo acontecendo com os investimentos privados.

“Embora a direção da Appa alegue incremento de movimentação, o fato é que o acréscimo é muito inferior ao aumento das safras. Em termos de participação, o Porto de Paranaguá tem diminuído seu percentual em relação aos demais portos”, diz o documento. Segundo as entidades, “a população, os trabalhadores e empresários consideram intolerável a continuação do atual estado de coisas”. “Não admitimos continuar a receber da direção da Appa os maus-tratos e notória incompetência que a caracterizam”, afirmam os signatários, salientando que não há mais clima para diálogo com a direção da autarquia.

As entidades – encabeçadas pelo Sindicato dos Operadores Portuários do Paraná (Sindop) – finalizam, prometendo tomar as medidas adequadas para responder à situação portuária descrita no manifesto.

Impasse

Diante do impasse na negociação entre caminhoneiros e operadores portuários na reunião de ontem, o pátio de triagem, fechado no início da tarde de quarta-feira, permaneceu com os portões de entrada e saída bloqueados. Ontem, nenhum caminhão descarregou mercadorias nos armazéns. No pátio, 782 caminhões esperam o fim da paralisação. Segundo a Appa, os embarques de navios estavam normais, já que os silos do Porto de Paranaguá estão com 180 mil toneladas de soja, carga suficiente para quatro navios. Um navio estava carregando 54 mil toneladas de soja. Na BR-277, a fila de caminhões começava no pátio de triagem (km 3) e, no início da noite, já estava no km 68, em frente à Renault e próximo do Contorno Leste, em São José dos Pinhais. Há apenas um intervalo de segurança, de dez quilômetros, na Serra do Mar.

Faep e Ocepar contestam acusação

Em nota oficial divulgada ontem, os presidentes da Faep, Ágide Meneguette, e da Ocepar, João Paulo Koslowski, classificaram de improcedente a acusação feita pelo superintendente da Administração dos Porto de Paranaguá e Antonina (Appa), Eduardo Requião, contra as duas entidades de que elas assinaram um pedido de interferência – e não intervenção – federal no porto porque são favoráveis à exportação de soja transgênica. Na nota, a Ocepar e a FAEP reforçam que são favoráveis ao cumprimento da lei que outorga o embarque de soja transgênica por Paranaguá “porque existem condições operacionais para isso e porque consideram que quem decide sobre o que exportar é o mercado, e não unilateralmente o governo estadual”.

Mas as entidades alegam que “isso nada tem a ver com os desmandos que estão ocorrendo na administração do porto”. A Faep e a Ocepar lembram que as grandes filas de caminhões que se formam “tem como origem a falta de investimentos específicos na melhoria da infra-estrutura portuária e que não foram e não estão sendo realizadas”.

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, declarou ontem que o governo federal não pretende intervir na administração do Porto de Paranaguá. “Nós vamos ouvir os governadores de outros estados que têm interesse no escoamento da safra e ver o que é possível fazer. O governo federal não tem interesse em intervir. Os estados deverão fazer as negociações necessárias.”

Valdir Leite vai requerer CPI do Porto

A CPI do Porto, motivo de intensa discussão na sessão da última terça-feira na Assembléia Legislativa, não está sepultada como imaginavam alguns. O deputado Valdir Leite (PPS), autor do requerimento que pede a sua criação e já tem, segundo ele, o número de assinaturas necessário, disse que vai protocola-lo na segunda-feira (22). Alvo de cobranças dos parlamentares que assinaram o documento e não concordaram com sua decisão de postergar a apresentação até que se apresentasse um fato suficientemente forte para justificar o pedido, Leite, que passou o dia de ontem em reuniões no Sindicato de Operadores Portuários, em Paranaguá, considera que a gravidade da situação exige investigações apuradas.

Na semana passada, o deputado apresentou em plenário um vídeo para mostrar que os armazéns do Porto estão infestados de ratos. E vem fazendo pronunciamentos praticamente diários na tribuna da Casa para denunciar irregularidades e problemas de ordem estrutural e administrativa naquela autarquia. Em rota de colisão com o superintendente Eduardo Requião, obteve rapidamente as assinaturas para seu requerimento, mas acabou cedendo à estratégia da liderança do Governo, que convidou Requião para fazer uma exposição dos problemas do Porto à base de apoio ao Palácio Iguaçu.

Leite anunciou em plenário que tinha considerado respondidas algumas dúvidas e que, em conjunto com a bancada aliada da qual seu partido faz parte, decidira aguardar um pouco mais para protocolar o pedido de CPI. A oposição, que praticamente em peso assinou o requerimento, ficou irritada e passou a pressionar o deputado para que protocole o pedido, já que tem o apoio necessário para isso.

O próprio partido de Leite, provável candidato do PPS à Prefeitura de Paranaguá, convidou-o a participar de uma reunião na sede do diretório regional, marcada para segunda-feira (22), às 18h30, para explicar por que havia recuado em sua intenção.

Comissão

A comissão permanente de Fiscalização e Controle da Assembléia Legislativa vem atuando nesse caso desde o mês passado. Já ouviu o diretor-técnico do Porto, Ogarito Linhares, sobre o desvio de 1,6 mil toneladas de soja, o diretor administrativo-financeiro Mário Lobo Filho, e esteve em Paranaguá na semana passada para ouvir representantes dos segmentos profissionais e econômicos ligados ao Porto. Para a próxima reunião, na quarta-feira (24), está reconvocando Ogarito Linhares e o diretor do Silão Público na época do desvio, Waldir Neves.

Segundo o presidente da comissão, deputado Neivo Beraldin (PDT), o relatório dessas audiências só deve ficar pronto em meados de abril: “A situação é grave, e pudemos constatar até agora, uma profunda insatisfação da cidade, em relação ao que está acontecendo e uma enorme preocupação com a administração do Porto”, observou Beraldin.

Preferência a graneleiros

O superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Eduardo Requião, propôs aos exportadores a preferência nas operações de navios graneleiros que venham ao Porto de Paranaguá carregar mais de 55 mil toneladas de produtos, mediante o compromisso deste segmento de programarem, antecipadamente, a atracação de navios. A medida busca garantir o escoamento da safra e, consequentemente, a eliminação da fila de caminhões carregados com grãos (principalmente soja e milho) que se formou ao longo da BR 277.

Segundo o superintendente da Appa, os estoques nos armazéns e as cargas dos caminhões representam um volume suficiente para os embarques, mas os empresários insistem em não nominarem as embarcações para receberem os produtos, prejudicando a logística do escoamento. Atualmente 30 navios para carregamento de grãos estão ao largo do Porto de Paranaguá, mas não atracam porque não são chamados para a operação.

O superintendente classificou a prática como irresponsável e criminosa. “Não admitiremos mais este crime cometido contra os caminhoneiros e a economia do Paraná. Oferecemos a preferência para atracação dos graneleiros, mas exigimos a continuidade das operações”, afirmou.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo
O conteúdo do comentário é de responsabilidade do autor da mensagem. Ao comentar na Tribuna você aceita automaticamente as Política de Privacidade e Termos de Uso da Tribuna e da Plataforma Facebook. Os usuários também podem denunciar comentários que desrespeitem os termos de uso usando as ferramentas da plataforma Facebook.