Encontro da sericicultura consolida a atividade

Considerado o mais tradicional município produtor do bicho-da-seda do Paraná e referência nacional na produção de casulo verde, Nova Esperança, no Noroeste do Estado, volta a sediar na próxima quarta-feira, no Ginásio de Esportes Capelão, o Encontro Estadual de Sericicultura, que, em sua 22.ª edição, espera reunir cerca de 1.500 participantes, completando um ciclo histórico iniciado em agosto de 1983 de uma atividade já consolidada.

Na safra 2002/2003 este setor paranaense integrou 6.535 agricultores familiares, que em 7.343 barracões de criação e área de 21.110 hectares de cultivo de amoreira, produziram 8.929 toneladas de casulo verde, representando 89,59% da produção brasileira de 9.966 mil toneladas, mantendo o Estado em primeiro lugar do País.

As três indústrias – Bratac, Kanebo e Cocamar participaram em 2003 da exportação de 95% da produção nacional de fios de um total de 1.562.563 quilos, para os seis principais mercados compradores: Japão, Índia, Coréia, França, Turquia e Suíça.

Qualidade

“A safra em conclusão agora em julho tem uma perda de produção estimada de 10% em relação à passada, devido ao clima, em especial às estiagens do início e meio da safra”, informa o engenheiro agrônomo Maçaharu Takii, especialista estadual de sericicultura da Emater de Maringá, Mesmo assim, afirma ter ocorrido melhora de qualidade do casulo verde produzido ao longo da década.

Entre os fatores da boa qualidade, destacam-se a redução da área média para três hectares por família, possibilitando melhores condições de manejo da amora, que aumenta a qualidade do alimento do bicho-da-seda; o avanço proporcionado pelo melhoramento genético das larvas pelas indústrias; a oferta de novas variedades de amoras, mais produtivas de massa verde alimentar; o aperfeiçoamento das práticas de manejo do solo, tratos culturais da amoreira e as melhorias das instalações de criação, com novos barracões concebidos para garantir ventilação, sanidade e manejo das criações.

Takii destaca que em função desses significativos ganhos, hoje existem sericicultores superando a média de oito para nove criadas, “aumentando mais um mês na renda anual”. O perfil da atividade, segundo Maçaharu Takii, é de uma família de três pessoas tirando oito criadas por ano, através do cultivo de três hectares de amoreira para abastecer um barracão de criação de 32 caixas de larvas, numa produção total de 2.000 kg.

A produção gera renda às famílias de pequenos proprietários, parceiros, meeiros, vileiros e arrendatários, durante oito meses, pela conclusão de cada criada em 30 dias e pagamento à vista na entrega do casulo verde nas indústrias. Porém, a atividade tem que ser entendida como uma alternativa de diversificação agrícola no complemento da renda familiar, em que são necessárias outras fontes de remuneração.

Tradição

Nova Esperança, que deu início ao ciclo de encontros estaduais de sericicultores com 1 mil convidados na época, é um exemplo de município com economia agrícola baseada na atividade, garante Oswaldo da Silva Pádua, extensionista municipal da Emater.

São 742 famílias cultivando 3.061 hectares e produzindo por ano 1.386 toneladas de casulos verdes. Somente esta atividade gera 2.226 empregos diretos e pelo preço médio de R$ 6,00 o quilo, injeta por ano no município em torno de R$ 8,3 milhões.

“Tem também que levar em conta que ela é uma atividade ecologicamente correta, porque não faz uso de agrotóxicos e os seus resíduos, como a cama de criação, servem de cobertura do solo, evitando a erosão pela proteção nas épocas chuvosas, além de aumentar e manter a sua fertilidade”, lembra Pádua.

Expectativa

Um dos convidados que aguardam com expectativa otimista o 22.º Encontro Estadual de Sericicultura é o produtor Augusto Manini, 73 anos, do sítio Santo Agostinho, de 16 hectares, da comunidade Santo Antônio, de Nova Esperança. Com apoio da esposa Linda, da filha Terezinha e do genro Maurício, ele faz da propriedade um verdadeiro, agradável e desafiante refúgio, cultivando café, mandioca e criando bicho-da-seda.

Na sericicultura, está desde o início da década de 80 e, na safra que já concluiu, cultivou 6 hectares de amoreira para alimentar 10 caixas em cada uma das 8 criadas por ano em dois pequenos barracões, tirando um total de 4.200 quilos. Movimentou R$ 21mil, que depois de deduzir as despesas, sobraram R$ 16,600.00. Sócio fundador da Associação dos Criadores de Bicho-da-Seda de Nova Esperança e Regiões Sericícolas do Paraná, Manini está curioso em ouvir nas palestras sobre perspectivas mundiais da produção e assim decidir se aumenta a dedicação e a área de cultivo, onde já conta com mudas experimentais das novas variedades de amoreira Shima-miura e Korin. Sua opinião sobre a atividade é franca, clara e objetiva, “É a garantia de vida, porque casulo nunca vai acabar e o mercado vai sempre precisar”.

Inovações

O 22.º Encontro Estadual de Sericicultura é promoção do governo do Paraná, através da Seab e suas vinculadas Emater e Iapar, Programa Paraná 12 Meses, Prefeitura, associações dos sericicultores e associação das indústrias, Faep e Fetaep.

O ponto alto da programação, segundo a comissão organizadora, é o painel técnico que vai apresentar as inovações tecnológicas, como novas variedades, renovação de áreas, adubação, colheita mecanizada de amoreira, equipamentos para podas, redução de perdas na produção e métodos de limpeza de camas de criação.

Está confirmada a participação do secretário Valter Bianchini, da Secretaria Nacional da Agricultura Familiar do Ministério de Desenvolvimento Agrário, que fará uma palestra.

No evento também será apresentada a “Carta de Nova Esperança”, em que as entidades representativas do setor produtivo descrevem e encaminham às instituições oficiais e indústrias as principais reivindicações para garantia de avanços tecnológicos, sociais e econômicos da atividade.

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