Empresas anunciam investimentos

Apesar das incertezas sobre os rumos da economia, as empresas começam a decidir novos investimentos para 2003. Só na semana passada, o volume anunciado em cinco diferentes projetos chegou a US$ 105 milhões. O viés comum a todos eles é o interesse em ampliar em pelo menos 15% as exportações, aproveitando a forte desvalorização do real, que tornou os produtos brasileiros mais em conta no exterior.

Dona de 25% do mercado interno no segmento de industrializados, a Perdigão vai investir R$ 100 milhões (US$ 28 milhões, pelo câmbio da sexta-feira), 25% deles destinados ao aumento da capacidade de produção para atender às encomendas dos importadores. A meta da companhia é aumentar em 16% os volumes exportados no ano que vem, depois de vender cerca de 410 mil toneladas de produtos neste ano.

? Neste exercício, as vendas para o mercado externo deverão superar a casa de R$ 1,2 bilhão, o que representa 41% do faturamento líquido da empresa ? afirma o diretor de Relações Institucionais da Perdigão, Ricardo Menezes.

O orçamento da companhia ficou pronto no início de dezembro e ele espelha, nas palavras de Menezes, um otimismo comedido. Existe a expectativa de que os projetos do governo Lula na área social possam aumentar o poder de compra dos assalariados, mas, enquanto o mercado interno não se recupera, a meta é descobrir novos nichos no exterior. A Perdigão negocia para entrar no Canadá e na China.

Já a Polibrasil, gigante do setor petroquímico, investirá US$ 35 milhões no próximo ano. Desse total, US$ 15 milhões serão gastos na fábrica de Duque de Caxias, no Rio, que terá sua capacidade de produção de polipropileno ampliada de 200 mil para 300 mil toneladas. Os compostos de polipropileno são utilizados em setores como automotivo, têxtil e eletroeletrônicos. Os outros US$ 20 milhões terão seu uso decidido até março próximo. A idéia inicial é construir uma outra fábrica em São Paulo.

O diretor comercial da empresa, José Ricardo Roriz Coelho, explica que, apesar da crise, o consumo interno de polipropileno tem acumulado alta superior à do PIB. As exportações também mostram sinais positivos. Este ano, a empresa deverá exportar 36 mil toneladas. Para 2003, a previsão é de 88 mil toneladas embarcadas, alta de 144%.

? Prevemos exportar 15% de nossa produção em 2003 ? diz Coelho.

Na avaliação do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), muitas empresas devem aproveitar o momento para desengavetar os projetos de investimento congelados desde o início deste ano. A entidade estima que o valor total de projetos adiados possa chegar a 1% do PIB, o equivalente a US$ 3 bilhões.

? A economia em 2002 viveu um ciclo perverso, marcado pelas indefinições do quadro eleitoral. Agora, a retomada desses investimentos pode ser um novo elemento para sustentar a recuperação da economia ? afirma o diretor-executivo do Iedi, Júlio Gomes de Almeida.

Otimista, Almeida diz que o País tem potencial para chegar ao fim de 2003 com crescimento de 4% do PIB, puxado pelo volume de exportações. Pelas projeções do Iedi, o dólar no ano que vem vai oscilar no patamar de R$ 3,50, considerado ideal para manter a atratividade das exportações.

Os sinais de recuperação em andamento já haviam sido dados por pesquisa da consultoria Deloitte Touche Tohmatsu, que entrevistou dirigentes das mil maiores companhias em atividade no País ? 52% delas subsidiárias de multinacionais. Pela sondagem, 80% dos entrevistados apostaram em aumento das exportações em 2003.

Coordenador de análises econômicas da FGV, Salomão Quadros acha que a atividade atual é mais consistente do que uma simples bolha, mas seu fôlego ainda é duvidoso. Quadros diz que o setor exportador, sozinho, não será suficiente para puxar para cima o resto da economia.

Quem vai investir:

PERDIGÃO: A empresa planeja investir R$ 100 milhões (ou US$ 28 milhões, pelo câmbio da sexta-feira) em 2003. Desse valor, 25% serão usados na ampliação da produção para o mercado externo.

POLIBRASIL: Depois de investir US$ 217 milhões em dois anos, a empresa aprovou para 2003 gasto de US$ 15 milhões para ampliar a unidade de Duque de Caxias. Outros US$ 20 milhões poderão sair até março, para uma nova fábrica em São Paulo.

CCE: Com atuação em eletroeletrônica e linha branca, o grupo definiu programa de US$ 10 milhões em investimentos, que atingirá suas sete empresas e inclui da aquisição de máquinas até o desenvolvimento de produtos.

LATASA: Dona de 49% do mercado interno, a Latasa inicia em janeiro as obras da nova fábrica em Manaus, a sétima no Brasil, com investimento de US$ 20 milhões.

DIXIE-TOGA: Maior fabricante de embalagens da América Latina, a Dixie-Toga anunciou “joint-venture” com a finlandesa Huhtamaki para produzir no País laminados para tubos de creme dental. Investimento na construção da fábrica: US$ 15 milhões. A meta é passar de importadora a exportadora do produto.

Voltar ao topo