Brasília (das agências) – Os empresários brasileiros também querem um aumento do superávit primário – economia feita para o pagamento de juros -, mas que ele seja obtido  por meio da redução dos gastos públicos e não apenas com a criação de novos impostos. Este é um dos itens que constam da chamada ?agenda mínima?, um conjunto de propostas de empresários que foi entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante reunião realizada ontem.

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?O aprofundamento do uso da âncora fiscal no processo de estabilização ampla da economia irá agregar maior qualidade à política fiscal, dando-lhe maior transparência, credibilidade e efetividade?, defende o documento entregue ao presidente, elaborado pelas principais confederações de empresários do País.

A meta do superávit primário – receitas menos despesas, excluindo gastos com juros – é de 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto). A proposta dos empresários é elevar essa meta ainda neste ano ?com redução no ritmo de crescimento dos gastos com custeio? e a manutenção dos investimentos.

Os gastos de custeio são aqueles destinados à manutenção da máquina pública. Os gastos do governo são alvo constante de críticas do empresariado.

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A proposta inclui também a limitação das transferências a estados e municípios. O objetivo principal é reduzir o déficit nominal (receita menos despesas, incluindo os juros) e evitar as altas taxas de juros e carga tributária.

A discussão sobre a necessidade de um aperto fiscal surgiu no mês passado, quando o deputado federal Delfim Netto (PP-SP) lançou a proposta do ?déficit nominal zero?.

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Pela proposta, a redução a zero do déficit nominal (receitas menos despesas, incluindo os gastos com juros) permitiria a derrubada dos juros no País – a taxa Selic está em 19,75% ao ano. No ano passado, o resultado nominal ficou deficitário em 2,66% do PIB.

Da reunião com Lula participaram os presidentes das confederações – CNI (Confederação Nacional da Indústria), CNC (Confederação Nacional do Comércio), CNT (Confederação Nacional dos Transportes), CNF (Confederação Nacional das Instituições Financeiras), CNA (Confederação Nacional da Agricultura) e Ação Empresarial.

Agenda mínima

O documento reúne projetos já em andamento no Congresso Nacional e no Executivo e trata de cinco temas econômicos – infra-estrutura, sistema tributário, ambiente regulatório, reforma do Estado e gestão e inovação tecnológica – e um tema político – sistema político.

Na infra-estrutura, os empresários pedem uma nova legislação para as agências reguladoras, um novo marco regulatório e uma lei para gás. Na área tributária, a agenda mínima pede a conclusão da reforma tributária e a expansão do alcance da MP do Bem.

Também foi eleita como prioridade na agenda mínima a Lei Geral da Pequena e Microempresa e avanços no sistema político para que haja a redução dos custos do processo eleitoral.

Além da apresentação feita ontem ao presidente e ao ministro Antônio Palocci (Fazenda), a agenda mínima será apresentada também ao presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcante (PP-PE).

?Economia não se blinda só com discursos?

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro – que esteve ontem na reunião com o presidente da República para apresentar uma agenda mínima para o País – afirmou que o encontro foi positivo e que Lula teve uma postura serena e não fez desabafos com os empresários que participaram do encontro. Monteiro afirmou ainda que Lula reconheceu a importância de uma agenda mínima para que a crise política não afete o País ou a economia.

O presidente da CNI afirmou ainda que a agenda mínima é importante porque não se blinda a economia com discurso:

?Não se blinda a economia com medidas artificiais, nem com discurso, nem com atos de vontade. Você blinda a economia se cada poder continuar a cumprir minimamente o seu papel. Queremos que o governo governe e que o Congresso legisle, independemente do processo político, que tem sua dinâmica própria?, disse.

O presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Antônio Ernesto de Salvo, também afirmou que o presidente Lula estava tranqüilo durante a reunião e reconheceu que é preciso apurar as denúncias na área política, mas desde que isso seja feito com serenidade para que o Congresso não deixe de funcionar.

No documento apresentado ao presidente, os empresários afirmam que o cenário político e as eventuais conseqüências das investigações que estão sendo feitas no Congresso não devem levar o Brasil à paralisia.