Empresários do Paraná fazem negócios no Chile

As exportações do Paraná ao Chile começaram a ganhar impulso ontem durante a apresentação do Estado para cerca de 115 empresários chilenos. Depois disso, tiveram início as rodadas de negociações com os trinta representantes brasileiros. Os eventos fazem parte da missão empresarial e governamental em Santiago com a intenção de estimular as vendas de pequenas e médias empresas para o exterior, mais precisamente ao Mercosul.

O seminário Regionalizando a Integração: As Potencialidades de Negócios com o Estado do Paraná contou com a presença do embaixador do Brasil no Chile, Gelson Fonseca Júnior, do governador Roberto Requião e foi apresentado pela secretária de Estado de Planejamento e Coordenação Geral Eleonora Fruet. Foram mostrados dados sobre a economia, agricultura, agroindústria, comércio exterior, industrialização, ciência e tecnologia e infra-estrutura. “O Paraná é um dos motores mais interessantes do Brasil. É um Estado moderno e o Chile será atraído por sua força”, declarou o embaixador durante o encontro.

Muitos empresários que vieram até o Chile nunca exportaram. Outros estão começando a fazer este tipo de comércio. Esse é o caso da Móveis 3J, sediada na cidade de Piên, que passou a exportar no início de 2004. O processo de adaptações durou um ano e meio. As primeiras vendas foram terceirizadas à outra empresa, especialista no comércio de móveis de madeira ao exterior. Na semana que vem sai o primeiro contêiner de móveis direto da fábrica para os Estados Unidos. “Sempre quisemos exportar, mas precisaríamos fazer um investimento em máquinas e no conhecimento dos países compradores. Fizemos isso no começo desse ano e temos negócios fechados para os próximos quatro meses”, afirma Jorge Luis Hilgenstieler, gerente da empresa.

Para ele, uma vez que os negócios partem para as exportações, é difícil deixar de procurar mais trabalhos nessa área, mas sempre cuidando do mercado interno. “O nosso objetivo é destinar 50% da produção às exportações e o restante para o mercado interno. Conheço muitas fábricas de móveis de madeira que apenas exportam, pois o volume de trabalho é muito maior”, comenta. “Mas em 18 anos de empresa, criamos uma clientela muito grande no Brasil e não queremos abandoná-la”, explica Hilgenstieler.

Para atender o mercado externo, a empresa dele precisou criar duas linhas de produção. Antes, a fábrica trabalhava apenas com chapas de madeira, que eram coladas sobre os móveis prontos. Depois de estudos sobre os tipos de madeira e as necessidades do público-alvo, a outra linha foi criada. “Nós fazemos os móveis completos de pinus, uma madeira com valor mais barato. Se usássemos o aglomerado e lâminas, que são matérias-primas caras, o preço final dos móveis também sairia muito caro”, aponta Hilgenstieler. O investimento para se montar outra linha foi de R$ 100 mil apenas em maquinário.

Conhecer o consumidor é fundamental

Adaptação. Esta é a palavra-chave para aqueles que querem exportar, seja para qualquer país. Conhecer a cultura, os gostos, as necessidades de quem está comprando é o início do sucesso de uma negociação. Alguns empresários brasileiros foram ao Chile com essa intenção de estreitar os laços comerciais.

A consultora Conceição Borges, da CAL Comercial Exportadora, de Curitiba, conta que a sua empresa negocia com as pequenas e médias do setor têxtil para produzir roupas que serão vendidas em grandes butiques da França. São 17 marcas do País fabricadas aqui e em outros locais, como o Norte da África e Leste Europeu. O objetivo dela é levar essa produção para os estabelecimentos do Chile e no restante do Mercosul.

Mas, para isso, é preciso estudar o perfil do consumidor chileno para verificar quais empresas podem fabricar a mercadoria necessária. “Outro fator importante é o que eles sabem sobre nós. Os chilenos conhecem um pouco do Brasil, mas nada do Paraná”, comenta Conceição. “A moda depende de cada região. Cada país tem a sua exigência. A adaptação é necessária na modelagem e na matéria-prima”, explica. Depois dos estudos, Conceição fará um desfile de moda no Chile para apresentar as roupas brasileiras.

A adaptação dos produtos fabricados no Brasil para o exterior é ainda muito mal-vista por alguns empresários, segundo Karina Polônio, da T&P Assessoria e Consultoria em Comércio Exterior, de Londrina. Ela está representando no Chile seis empresas de confecções e móveis. “Alguns empresários não entendem que adaptação é diferente de tirar a qualidade do produto”, indica.

Segundo o governo do Paraná, alguns negócios serão fechados ainda durante a missão, mas muitos serão acertados posteriormente. Os empresários e representantes de comércio exterior estão cientes disso, para não gerar frustrações. “O maior objetivo é colocar frente a frente comprador e vendedor. A idéia é conhecer pessoalmente, para que a rodada de negociações resulte em trabalhos”, esclarece Karina.

Governador ressalta importância chilena

Uma delegação de 115 empresários chilenos se juntou ontem aos 26 paranaenses para a palestra do governador Roberto Requião, que abriu as rodadas de negociações em Santiago, no Chile, onde o governo do Paraná promove uma missão governamental e comercial com o objetivo de ampliar as exportações e as importações entre os dois lados.

“Apresentar o Paraná ao Mercosul é o objetivo principal destas missões”, destacou Requião. O governador ainda acrescentou que a missão tem o firme propósito de viabilizar ao Paraná e ao Brasil uma clara política de desenvolvimento e integração com o mundo. “O Chile é importante neste processo, pois tem um processo civilizatório e de desenvolvimento admirável”.

O governador salientou também que o Paraná dedica uma enorme energia para buscar parcerias com os demais países do Mercosul e do mundo. “O Paraná quer oferecer perspectivas concretas aos demais países e está fazendo estes contatos de forma diferente. Estamos promovendo encontros para ajudar principalmente empresários de pequeno e médio portes”.

O intercâmbio, disse Requião, ocorre tanto no âmbito comercial como no cultural. “Dessa maneira, os países ficam mais próximos e mantêm suas características, uma necessidade neste mundo cada vez mais dividido”. O governador lembrou também que o Chile é o quarto maior parceiro do Paraná na América Latina e que o país é uma das prioridades porque integra o bloco do Mercosul.

Integração dos pequenos produtores

O governador Roberto Requião se reuniu ontem com o representante regional para América Latina e Caribe da Organização das Nações Unidas – ONU – para Agricultura e Alimentação (FAO), Gustavo Gordillo de Anda, na sede em Santiago. A entidade apresentou um projeto de integração regional por meio da agricultura para os pequenos produtores de Chile, Brasil e México. O desenvolvimento deles diminuiria a fome, um dos princípios da FAO.

A proposta envolve a integração regional mediante a facilitação de vínculos, geração de capacidades e promoção de projetos. Haverá também a troca de experiências nesta área por todos os envolvidos. O braço da ONU servirá como intermediador e financiador desses trabalhos em pequenas propriedades.

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