Empresários céticos com a economia

São Paulo

  – A expectativa de que a economia não se recupere no decorrer deste ano começa a tomar conta do setor privado nacional. Durante a posse do novo conselho da Câmara Americana de Comércio (Amcham), realizada ontem em São Paulo, boa parte dos cerca de 500 empresários e executivos ligados à entidade demonstrou que o mercado vive um clima de muita cautela e expectativa, em razão das turbulências no cenário externo e do aumento dos juros e do compulsório no mercado interno. Por essas razões, muitos investimentos foram suspensos.

“Este ano está praticamente perdido”, disse o presidente do Conselho de Administração da Amcham, Sérgio Haberfeld. O executivo, também presidente do Conselho da Dixie Toga, explicou que, neste mês, houve um “brutal desaquecimento” nos pedidos de embalagens, um dos principais termômetros do comportamento da economia nacional. “Os empresários não estão investindo, pois estão cautelosos esperando o que vai acontecer. Estamos aguardando o desfecho da situação externa, pois os riscos são grandes”, destacou o diretor-superintendente do Moinho Pacífico, Lawrence Pih.

O cenário externo, com a proximidade da guerra entre os Estados Unidos e a disparada dos preços do petróleo, é outro fator que vem deixando o setor privado brasileiro pessimista. Haberfeld disse que os indicadores macroeconômicos da economia norte-americana anunciados anteontem – 1,6% de inflação em janeiro, US$ 435,2 bilhões de déficit comercial em 2002 e crescimento dos pedidos de auxílio-desemprego – deverão afetar não só a economia mundial, mas também o Brasil. “Quando os Estados Unidos pegam resfriado, nós pegamos pneumonia”, resumiu.

“O primeiro semestre será muito fraco e, dependendo da conjuntura, poderá haver recuperação no segundo semestre”, disse Pih Apesar da previsão, o empresário acredita que o governo está agindo de maneira correta. “O mercado está muito nervoso, sensível. Portanto, o governo precisa ser cauteloso.”

Durante o discurso que realizou para cerca de 500 empresários ligados à Câmara Americana de Comércio, Haberfeld também demonstrou confiança no governo Lula. Apesar do clima de cautela que tomou conta do setor privado nacional, o executivo acredita que o Brasil vive com este governo o momento certo para atingir o desenvolvimento.

Incertezas

Na opinião do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Horácio Lafer Piva, o primeiro semestre, em termos de crescimento econômico, está perdido. “E se os juros continuarem elevados, vamos comprometer o crescimento de todo o ano. As reformas têm de acontecer”, afirmou. Para o presidente da Fiesp, o aumento dos juros e do compulsório é o responsável por esse quadro de incertezas. “Não diminui a confiança no governo, mas tira um pouco do otimismo.” Piva acredita que o aumento dos juros não deverá equilibrar o câmbio, como previu a equipe econômica do governo.

“Reafirmo aqui o meu extraordinário incômodo em relação a este tema”, disse ele, numa referência à decisão do Copom. Para ele, o governo não deveria apertar a política monetária num momento em que o setor produtivo enfrenta altos custos e dificuldade de crédito. “É preciso lembrar, por exemplo, que muitas empresas exportadoras estão no limite da capacidade instalada.”

Já o presidente da Mangels Indústria e Comércio, Bob Mangels, mostrou-se um pouco mais otimista. Para ele, o motor para o crescimento econômico, este ano, pelo menos enquanto as reformas (tributária e da Previdência) não saírem, será o aumento das exportações. “O Brasil começou o ano com um nível de exportações muito interessante, e em todos os setores”, lembrou.

Mangels acredita que as vendas externas do País deverão crescer, este ano, mais do que os 10% estimados pelo ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luís Fernando Furlan. A Mangels, garantiu, deverá vender para o mercado externo 20% a mais do que o total exportado no ano passado, cerca de US$ 20 milhões. Ele afirmou que é muito cedo para fazer qualquer previsão para este ano. “O governo está agindo com toda cautela para garantir a queda da inflação. E isso está correto”, disse.

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