A corrida para os fundos multimercado nos últimos meses inchou de tal maneira o patrimônio desses produtos a ponto de levar uma seleta safra deles a fechar a captação – ou seja, não permitir novos aportes. Se por um lado esse movimento tira produtos atraentes do mercado, também abre uma nova janela de oportunidade: o surgimento de novos fundos com as mesmas estratégias nas prateleiras. Chamados de “fundos espelho”, eles também prometem bons resultados, mas atenção: pedem um prazo maior para resgate dos recursos.

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Nos últimos meses, pelo menos 15 fundos multimercado – aqueles que misturam diferentes ativos, como títulos de renda fixa, ações, moedas e até commodities – anunciaram que fechariam as portas para novas captações. “Como os juros caíram, as pessoas estão buscando alternativas mais rentáveis, e os multimercados estão vindo com muita força”, diz Rebeca Nevares, analista da Ativa Investimentos. “A indústria cresce mês a mês, mas o mercado brasileiro não tem liquidez para esse dinheiro todo.”

Ela explica que, quando os fundos atingem um patrimônio elevado, fica difícil para o gestor se movimentar no mercado.

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“Muitas vezes, esses gestores abrem novos fundos, chamados de fundos espelho, com a mesma estratégia, mas uma janela de resgate maior”, diz Fábio Macedo, gerente comercial da corretora Easynvest. “A vantagem para o investidor é a chance de ter acesso a um produto similar. A desvantagem é uma liquidez menor: demora mais tempo para resgatar o investimento para ele.”

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Foi isso que aconteceu, por exemplo, com o badalado fundo Adam Macro Strategy II, que fechou no final de fevereiro, ao atingir o patrimônio de R$ 10 bilhões. A gestora Adam Capital abriu um fundo espelho, mas com um tempo de carência maior.

No fundo “mãe”, o prazo para resgate era D+30, ou seja, o investidor que resgatasse sua cota recebia o dinheiro após 30 dias. O novo fundo, de mesmo nome, agora é D+60. Isso acontece para dar mais segurança ao gestor na fase inicial do fundo.

“Com o forte ingresso de recursos, ou os maiores fundos fecham ou lançam outros, com uma janela de resgate muito maior, como o Adam, que foi para 60 dias”, comenta Richard Wahba, diretor-geral da Garín Investimentos, que tem R$ 1,1 bilhão sob gestão.

Para ele, o crescimento dos multimercados, que só no primeiro trimestre captaram mais de R$ 33 bilhões, deve-se, além do cenário favorável, à maior facilidade com a qual os investidores podem aplicar nesse produto. “Antes, esse nicho era algo restrito ao private banking, a clientes de altíssima renda.”

Sandra Blanco, consultora de investimentos da Órama, comenta que esse movimento atinge fundos de diversos tamanhos. “Fundos de casas renomadas e com históricos consolidados estão atingindo patrimônios relevantes, mas há fundos menores que alcançaram rapidamente um valor que eles não esperavam”, diz.

Ela também destaca que, além de uma carência maior, os fundos espelho podem ter uma versão menos alavancada, como é o caso do Versa Long Biased, do gestor Luiz Alves, que fechou na casa dos R$ 150 milhões e lançou um espelho chamado “Fit”. Se o Versa comprar ou vender 20% do patrimônio em uma ação, por exemplo, o Fit faz o mesmo com 10% do fundo. Por isso, é mais adequado aos investidores iniciantes e com menos apetite a risco.

Nem sempre, porém, o fundo lança um espelho – o que pode levar a uma corrida nas semanas finais. É o caso do Maraú, da Bahia Asset Management (ex-BBM Investimentos), que irá fechar dia 30 de maio ou após o fundo atingir R$ 6 bilhões. O produto teve rentabilidade de 250% do CDI nos últimos 12 meses. “As captações cresceram muito rapidamente”, diz o sócio César Aragão. “A princípio, não vamos abrir um novo fundo.”

Estratégias

O sócio da Garde Asset Management, Marcelo Giufrida, afirma que conseguir manter boas rentabilidades conforme os fundos crescem não é uma tarefa mecânica. No caso dos multimercados, diz, as metas de desempenho são, em geral, mais agressivas. “Não basta apenas multiplicar posições nos investimentos.” A gestora tem patrimônio de R$ 13,44 bilhões e fechou seu multimercado público em julho de 2017.

Segundo o executivo, a liquidez do mercado em que o fundo atua é outro fator que pesa na hora de decidir por aumentar o patrimônio ou fechar para novas aplicações. Fundos que investem em ações de segunda linha, por exemplo, têm um patamar menor de patrimônio em relação aos multimercados que operam juros e câmbio. “É preciso avaliar se o tamanho é coerente com a exposição em cada mercado.”

Wahba, da Garín, afirma que a atual fase – em que diversos fundos já atingiram um limite de captação – é propícia para novos fundos se lançarem no mercado. O que vale para a própria Garín, que abriu seu fundo em setembro, com foco em pessoas físicas.

“Ao escolher um multimercado, o investidor tem de analisar o gestor, o histórico, a rentabilidade e, principalmente, a volatilidade e o nível de risco, para ver o que se encaixa melhor ao seu perfil”, pondera Sandra, da Órama. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.