Crise e oportunidade. Na língua chinesa a palavra crise, é a combinação de dois símbolos. Um significando “perigo” e o outro “oportunidade”. Foi com essa referência ao ideograma chinês que o presidente do Banco do Central, Henrique Meirelles, avaliou que é na crise que a economia se ajusta e surgem as grandes oportunidades, ao contrário do que acontece nos momentos de “euforia”. “Os chineses são sábios, sabemos disso, porque esse é o momento de construir o futuro. É o momento em que a economia sai da euforia e se ajusta”, afirmou ontem, à noite, na abertura do 14º Congresso Nacional de Jovens Lideranças Empresariais.

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Para um auditório de empresários no Centro de Convenções, Meirelles transmitiu um recado de confiança no futuro e no crescimento da economia. Disse que 2009 será um ano difícil para o Brasil por conta dos efeitos da crise financeira mundial, mas previu que a economia vai continuar crescendo.

“Em momentos de crise muitos empresários, consumidores e banqueiros começam a desfazer planos. Eu gostaria de lembrar o ideograma chinês, que tem dois significados: crise e oportunidade”, disse. Segundo Meirelles, esse é um momento ideal para se construir um negócio ou para se lançar as bases de uma expansão com “pé no chão”. “As decisões tomadas num momento de euforia tendem a ser decisões muitas vezes equivocadas. Esse é o momento em que as empresas cortam custo, racionalizam, investem, ganham produtividade. Exatamente esse é o momento adequado”, aconselhou o presidente do BC. Ele ressaltou que as grandes organizações e os grandes vencedores “plantam as suas raízes e começam a sua ascensão” em momentos de desaceleração econômica.

Para Meirelles, a visão de que o risco de crédito no balanço dos bancos aumentou na crise é equivocada. “Esses riscos aumentaram no período de crescimento acelerado, de euforia, quando os bancos fizeram empréstimos arriscados, sem análise adequada, com a precificação equivocada”, afirmou. Ele acrescentou que o prejuízo apenas se materializou no momento de crise, mas já estava no balanço, contabilizado. “Empréstimos problemáticos foram concedidos, ativos tóxicos foram comprados no momento de euforia”.

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Aos empresários presentes no encontro disse: “Vocês estão engajados num processo de trabalho e organização empresarial jovem, porque é o momento em que eu acho que o Brasil está construindo as bases para sair muito mais forte”. Ele ressaltou que já é uma grande “novidade” o Brasil crescer mais do que outros países nesse momento de crise. Segundo Meirelles, a previsão feita pelo Banco Mundial de crescimento do Brasil de 3% em 2009 é conservadora. “Nós achamos que essa previsão está conservadora, significa que o Brasil deve crescer um “pouco mais” do que isso”, afirmou.

Mais descontraído do que o habitual, Meirelles lembrou que, no passado, se dizia que “quando os Estados Unidos pegavam um resfriado, nós pegávamos uma gripe forte, quando não pegávamos pneumonia. E de vez em quando ameaçava tuberculose. Agora, a situação está invertida, os Estados Unidos estão com uma epidemia de gripe grave e nós estamos apenas gripado e quem sabe apenas com um resfriado”.

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O presidente do BC ressaltou ainda que a crise não é boa para ninguém. “Mas é uma oportunidade para que as pessoas, as empresas, se planejam numa situação bastante realista”, completou.