Dólar quebra recorde histórico e vai a R$ 3,03

São Paulo

  – Oito anos após a implantação do Plano Real, que no princípio equiparou os valores das moedas norte-americana e brasileira, o dólar rompeu, ontem, a barreira dos R$ 3,00, provocando uma reação em cadeia: alta do risco-país e queda drástica na Bolsa de Valores de São Paulo. No meio da tarde, a moeda americana foi cotada no câmbio comercial a R$ 3,03 para venda em São Paulo, um avanço de 2,72 % em relação à véspera. Ao mesmo tempo, o risco-país, calculado pelo banco J.P. Morgan, disparou mais de 6 %, atingindo 1.853 pontos.

O mercado financeiro brasileiro viveu ontem um novo dia de inferno. O dólar comercial fechou cotado a R$ 2,990 na compra e R$ 2,995 na venda, com alta de 1,66%. Trata-se do quarto recorde consecutivo da moeda americana no Plano Real. O Banco Central tentou controlar a alta colocando US$ 200 milhões no mercado. Com a variação de ontem, o dólar acumula alta de 6,21% em julho. O dia foi marcado por intenso nervosismo, principalmente depois que o dólar atingiu – e ultrapassou -a barreira dos R$ 3,00. Na máxima do dia, a cotação de venda chegou a R$ 3,031, com alta de 2,88%.

Além da crise externa, o mercado também repercutiu com nervosismo os rumores sobre uma nova pesquisa eleitoral, cujos resultados desagradariam os investidores. O pregão viva-voz da Bolsa de Valores de São Paulo encerrou o dia em queda de 2,83%, com o Índice Bovespa em 9.655 pontos. O volume de negócios era de R$ 540,3 milhões. A Bovespa operou em queda durante praticamente todo o dia, mas acelerou a tendência com a piora das bolsas americanas e a escalada do dólar e do risco-Brasil. Outro componente do cenário turbulento foram os rumores de que uma nova pesquisa eleitoral mostraria um maior distanciamento entre o candidato Ciro Gomes (PPS) e o candidato preferido dos investidores, o tucano José Serra. O economista-chefe do HSBC Investment Bank, Alexandre Bassoli, não vê solução imediata para a tendência de alta do dólar, a não ser que definições nesses cenários apareçam. “O Banco Central não quer e não tem mecanismos para impedir essa tendência, que é normal em regimes de câmbio flutuante. O mercado terá de conviver por mais algum tempo com a volatilidade”, disse ele. Analistas defendem socorro imediato do FMI para evitar uma situação ainda pior para o país. Nathan Blanche, da Tendências Consultoria, a crise atual é sinal de “crash”. Para economista Francisco Petros, o pânico no mercado cambial é maior do que simples busca por hedge (proteção).

O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, diz que a alta do dólar se relaciona com as “dificuldades no cenário internacional”. “Acredito que o BC tem estratégias para enfrentar o problema. Espero que seja uma coisa passageira”, disse. Sobre a estratégia de vender US$ 50 milhões por dia, ele disse que as intervenções “não tinham o objetivo de tabelar a taxa de câmbio, mas sim de aumentar a liquidez no mercado e dar fôlego aos investidores”. “Temos um problema de confiança que teremos de superar”, afirmou. “Não temos coelho na cartola”, declarou.

Setor público deve R$ 1 trilhão

Brasília

(Das agências) -A dívida bruta do setor público (conceito que inclui governo federal, INSS, governos estaduais e municipais) chegou perto de R$ 1 trilhão no mês de junho, segundo os dados divulgados ontem pelo relatório de contas públicas do Banco Central. Precisamente, a dívida bruta atingiu a marca de R$ 999,65 bilhões e representa 78,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.

A dívida bruta é a soma de todos os débitos dos governos sem contabilizar os créditos existentes, como as reservas internacionais, as aplicações financeiras no mercado externo e interno e arrecadação, que somaram no mês passado R$ 270,25 bilhões. Quando entram esses e outros ativos na conta, a dívida bruta se abate e o que sobra é a chamada dívida líquida que em junho totalizou R$ 750,2 bilhões. Na relação com o PIB, a dívida líquida representa 58,6%

A dívida líquida do setor público consolidado (União, estados, municípios e empresas estatais) subiu em junho R$ 41,8 bilhões, passando de R$ 708,4 bilhões (em maio) para R$ 750,2 bilhões no mês passado. Com isso, a dívida líquida total representa agora 58,6% do PIB, contra 56% registrados no mês anterior. De acordo com o relatório mensal do Banco Central sobre o setor público consolidado, divulgado ontem, dos fatores que contribuíram para esse aumento, que foi de R$ 23,3 bilhões, referiram-se ao impacto da alta do dólar sobre a dívida mobiliária interna (em títulos)

Voltar ao topo