Dólar fecha em alta e mercado prevê guerra

Nem o acordo do PMDB nem o anúncio de mais US$ 604 milhões em captações externas livrou o dólar de sua sexta alta consecutiva, até agora uma escalada ininterrupta desde a descoberta de ogivas químicas vazias no Iraque, na noite de quinta-feira da semana passada. Ontem, na véspera de um fim de semana agitado, o dólar saltou 2,83% no dia, registrando não só a maior alta do ano como também a maior cotação desde os R$ 3,74 de 13 de dezembro. Fechou a R$ 3,63 para venda e R$ 3,62 para compra, com máxima de R$ 3,644 no dia, e reverteu o recuo acumulado no ano para uma alta de 2,4%.

“O cenário internacional está atrapalhando. Com medo de guerra, muita gente que estava com posição favorável ao otimismo está “zerando?, e aí o dólar passa a subir e alimentar um círculo vicioso”, afirmou Marco Antonio Azevedo, gerente de câmbio do Banco Brascan, acrescentando que o dia foi de pouco volume de negócios.

Isso significa que a ordem, nos últimos dias e também nos próximos, é manter a cautela e evitar o risco, trocando ativos voláteis por investimentos garantidos. Para o investidor brasileiro, é comprar dólares e vender ações e para o investidor estrangeiro, vender títulos de países emergentes, como o Brasil – o que faz disparar nosso risco-país, que ontem subiu de novo, 4,38%, para 1.429 pontos, maior nível no ano.

Acordo e captações

O cenário de extrema cautela ofuscou o fechamento do acordo do PMDB para lançar a candidatura de José Sarney para presidir o Senado e apoiar João Paulo Cunha (PT-SP) para presidir a Câmara dos Deputados, o que garantiria maioria ao governo e facilitaria a aprovação de reformas essenciais à recuperação econômica.

Tampouco durou o ânimo com a notícia de que a Telemar captou no exterior US$ 550 milhões ou o anúncio do Unibanco de que emitiu mais US$ 54 milhões em eurobônus de seis meses, que elevam para US$ 2,2 bilhões o total de dinheiro captado por bancos e empresas brasileiras no exterior somente em janeiro.

Guerra

As afirmações do secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, de que os EUA e o Reino Unido estariam preparados para atacar o Iraque, ao qual acusam de manter armas de destruição em massa, independente do apoio de outros países, levaram os investidores no mundo todo a se preparar para uma guerra.

Mesmo sem apoio na ONU (Organização das Nações Unidas) e consenso político dentro de seus próprios países, Powell e o ministro britânico do interior, Jack Straw, definiram ontem que esta segunda-feira (27) é a data-chave para a definição de posições sobre o Iraque.

Nesse dia, os inspetores de armas da ONU entregarão seu relatório preliminar sobre o país, com o qual Powell e Straw esperam obter provas que justifiquem o ataque na maior região exportadora de petróleo do mundo.

O temor dos analistas financeiros é que uma guerra faça disparar os preços do petróleo e coloque por terra a incipiente recuperação econômica mundial.

Finalmente, completando o cenário internacional desfavorável, a Venezuela – quinto maior produtor de petróleo do mundo – permanece em greve geral e pleno impasse político desde 2 de dezembro. Além do peso sobre o petróleo, a situação venezuelana pesa diretamente sobre o risco-país brasileiro, ao qual tem seu risco atrelado por meio do Índice de Mercados Emergentes do banco JP Morgan.

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