A rápida escalada do dólar elevou a dívida das empresas em moeda estrangeira em R$ 36 bilhões. Levantamento feito pela empresa de informações financeiras Economática mostra que o valor devido pelas companhias de capital aberto saltou de R$ 168 bilhões para R$ 204,4 bilhões entre o fim de junho e o início de setembro. Nesse período, o dólar saiu de R$ 3,10 e chegou a R$ 3,85 na última sexta-feira, o maior valor desde 23 de outubro de 2002.

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O levantamento da Economática considerou a dívida em moeda estrangeira de 98 companhias de capital aberto, que divulgaram seus endividamentos no balanço – nem todas as empresas divulgam esses dados. O estudo também tem como premissa que o montante devido pelas empresas em dólar, de US$ 54,1 bilhões, se manteve estável no período.

“Esse aumento de valor é assustador”, afirma Einar Rivero, gerente de relacionamento institucional da Economática.

De 2008 pra cá, a dívida externa do País cresceu 65%, para US$ 343 bilhões (sem considerar os empréstimos intercompanhias), segundo dados do Banco Central. A parcela da iniciativa privada representou algo em torno de 60% desse valor – ou cerca de US$ 200 bilhões e foi a que mais se expandiu nos últimos anos. Com o dólar no atual patamar, a preocupação com as empresas endividadas em moeda estrangeira aumenta, afirma o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.

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Ele explica que, mesmo com uma dívida de longo prazo, as companhias sentirão os efeitos da alta do dólar. “Sem conseguir determinar um limite para a cotação da moeda, haverá necessidade de elevar as provisões nos balanços e isso terá reflexo no lucro.” Além disso, completa Agostini, as empresas costumam fazer hedge por faixas de cotação. Se uma empresa faz uma proteção a R$ 3,80 e o dólar sobe para R$ 3,90, ela terá de complementar esse valor.

“Antes a projeção pessimista era R$ 3,50. Agora a previsão otimista é R$ 3,50”, afirma o economista, que reviu sua projeção para o câmbio de R$ 3,45 para R$ 3,90 para o ano. Ele afirma que não há muitas saídas para quem tem dívida vencendo este ano, sem hedge. Se não houver opção para renegociação, a empresa terá de amargar prejuízo. Pelos últimos dados do BC, o volume de dívida que venceria entre abril e dezembro deste ano era de US$ 44,9 bilhões.

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Com o risco País em elevação, os investidores – que financiam as empresas brasileiras no exterior – vão esperar o cenário clarear para tomar novas decisões. Isso significa maior dificuldade de financiamento, com custos maiores e prazos menores. Exemplo disso, é a redução da taxa de rolagem do País, que caiu de 162% de janeiro a julho de 2014 para 97% neste ano. Uma taxa acima de 100% significa que foi possível refinanciar toda a dívida que venceu e ainda tomar novos empréstimos. Abaixo desse porcentual, o devedor não conseguiu (ou não quis) renovar o débito.

“Ter uma despesa numa moeda na qual a empresa não recebe é um risco muito grande. A dívida pode se elevar de uma maneira muito rápida”, afirma Michael Viriato, coordenador do Laboratório de Finanças do Insper. Mas ele acredita que, após a crise de 2008, as empresas optaram por aumentar a proteção na tomada de crédito externo. “O risco é elevadíssimo. As empresas aprenderam, mas é bem provável que a gente veja no segundo semestre uma despesa financeira das empresas maior do que nos outros anos.”

O crescimento do endividamento das empresas brasileiras foi motivo de alerta do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Instituto Internacional de Finanças (IIF, na sigla em inglês). Em relatório recente, o IIF destaca que as dívidas privadas das companhias brasileiras aumentaram muito rapidamente para níveis preocupantes. Já o FMI afirma que algumas empresas nacionais estão em situação de risco já que a dívida em dólar aumentou e os lucros diminuíram.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.