Dólar afeta os medicamentos

São Paulo

– O preço dos remédios está defasado, devido à desvalorização do real nos últimos meses. Em junho, a defasagem já chegava a 7%, segundo a Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma), que defende um reajuste. Esses 7% não embutem a alta expressiva do dólar nos últimos dias quando as cotações ultrapassaram com folga a marca dos R$ 3.

A Febrafarma já solicitou à Câmara de Medicamentos (Camed), em junho, um reajuste de 7%, que não foi aceito pelo governo. Os reajustes de preços dos medicamentos no Brasil são controlados pelo governo e vêm sendo concedidos apenas uma vez por ano. Os preços estão congelados desde o último reajuste autorizado pelo governo, de 4,32%, em janeiro.

Nos primeiros dias de agosto, segundo informação da Assessoria de Imprensa da Febrafarma, os representantes da Federação deverão se reunir para recalcular as perdas, bem como um novo percentual de reajuste a ser encaminhado à Camed em novo pleito, já que o último pedido, de 7%, foi calculado com base numa cotação média mensal do dólar a R$ 2,65. De acordo com a Febrafarma, a produção de medicamentos depende em 80% de insumos importados, que são cotados em dólar.

O professor de economia da USP e coordenador-adjunto do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe (IPC-Fipe), Juarez Rizzieri, reconhece que a indústria farmacêutica é uma das mais afetadas pela escalada do dólar. “As empresas deste setor poderão desrespeitar o congelamento, a partir do momento em que não conseguirem segurar a pressão dos custos dos insumos internacionais”, alerta.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio de sua Assessoria de Imprensa, confirma que até o momento a alta da moeda norte-americana não provocou reajustes dos preços dos remédios no Brasil.

Eletroeletrônico pode subir

São Paulo

(AE) – Os preços de produtos eletroeletrônicos poderão subir por causa da alta do dólar. A afirmação é do presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Paulo Saab. Os aumentos refletiriam o impacto da variação cambial sobre os custos de insumos importados. O dólar ultrapassou a barreira dos R$ 3 na semana passada e, ontem chegou a ser cotado a R$ 3,30.

Saab destaca que, dependendo da linha de produtos, o repasse dos custos pode ser maior ao preço final ao consumidor. Ele cita como exemplo produtos como TVs acima de 29 polegadas, que possuem circuitos internos importados. “Nas TVs acima de 29 polegadas, 85% da composição do produto depende da importação de matéria-prima. Nestes produtos, nossa margem de lucro está praticamente a zero”, afirma.

Ele explica que o impacto nos televisores de 14 a 20 polegadas deve ser menor, pois a maior parte da sua composição é de matéria-prima nacional.

Outros produtos mais sensíveis à disparada do dólar são DVDs e videocassetes, segundo o presidente da Eletros. “Esses produtos também possuem grade parte de sistemas e circuitos importados”, diz. Os números do primeiro semestre de 2002 ainda não foram fechados, mas ele informa que, no ano passado, o setor teve um impacto de 12% nos custos devido à variação cambial. O presidente da Eletros afirma que o aumento dos preços dos eletroeletrônicos vai depender de dois fatores: a negociação com o varejo e a aceitação do mercado. “O momento é ruim. Estamos em negociação permanente com o varejo para ajustar nossos custos ao preço final ao consumidor. Estamos trabalhando com uma margem de lucro aquém das nossas necessidades”, diz.

Analista acredita em ajuste

São Paulo

(AE) – O consultor Nathan Blanche, da consultoria Tendências, acredita que o acordo com o FMI, caso seja firmado, deve melhorar as expectativas e reduzir a pressão cambial, mas não deve eliminar a volatilidade. Por isto, a economia vai ter de se ajustar a um dólar em nível mais alto.

O consultor também não vêm muita alternativa de ação do governo em termos de medidas econômicas para enfrentar a crise. “Não há remédio macroeconômico para uma crise que não é econômica, mas de expectativas”, afirmou.

Em sua opinião, há uma crise de expectativa interna com a eleição e uma crise externa no mercado de capitais, cujo ajuste de preços relativos ainda não terminou. Não por acaso, observa Nathan, o mercado piorou nos últimos dias justamente quando o candidato Ciro Gomes, o que fala mais enfaticamente sobre alongamento da dívida, disparou nas pesquisas e deu declarações prometendo acabar com as remessas pela conta CC5.

“Há dez anos o Brasil vem recuperando credibilidade externa depois dos calotes de 1983 e 1987 e do confisco de 1990, que abalaram tanto a confiança do poupador externo quanto do interno, e declarações como esta da CC5 acabam aumentando o nervosismo”, disse o consultor.

Diante do quadro de expectativas negativo, Nathan considera que fica difícil prever a cotação do dólar, que tanto pode recuar quanto subir ainda mais. O consultor, porém, não vê um quadro dramático e considera que a economia tem como se ajustar ao câmbio mais alto, com aumento das exportações e redução das importações.

Pressão

A inflação tende a ser pressionada, mas, segundo Nathan, os repasses do dólar aos preços podem ser contidos pela atividade desaquecida. O dólar mais alto prejudica a dívida interna, mas pode ajudar a diminuir a dívida externa mais à frente.

Nathan oberva ainda que, na questão dos vencimentos da dívida das empresas, há um movimento positivo que são as quitações antecipadas. Se um bônus de empresa passa a ser oferecido com desconto elevado no exterior, vale a pena tomar empréstimo no Brasil e quitar o débito lá fora, o que pressiona o câmbio no curto prazo mas reduz o endividamento do País no futuro. “É só deixar o mercado funcionar que ele se ajusta”, comentou Nathan.

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