Dívida, petróleo e teles balançam mercado

Investidores do mercado de câmbio encontraram todos os motivos para trazer a volatilidade de volta nesta quarta-feira para os negócios com o dólar. Internamente, muitos agentes pressionaram a cotação da moeda para formação da taxa média do câmbio no dia. A chamada Ptax de ontem será utilizada para o resgate dos US$ 707 milhões da dívida cambial que vence hoje. Mais US$ 2,064 bilhões com prazo no próximo dia 19 serão resgatados integralmente, conforme o BC anunciou.

Além da dívida, a aprovação do projeto que acaba com a assinatura básica cobrada pelas empresas de telefonia fixa na Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados derrubou as ações das empresas de telefonia fixa. A reação da medida não ficou limitada à Bovespa, cujo índice principal caiu 1,14% para 18.325 pontos.

“Muitos investidores são estrangeiros e venderam suas ações do setor e compraram dólares (para enviar aos países de origem)” avalia Reinaldo Bonfim, sócio da corretora Pioneer.

Outro fator que tem complicado o mercado é a constante alta no preço do petróleo no mercado internacional. Ontem, de novo a cotação foi recorde, batendo a US$ 40,77, devido ao medo do terrorismo e aos estoques insuficientes de gasolina nos Estados Unidos.Pela manhã, o dólar caiu a até R$ 3,069 por conta do fluxo externo, mas logo a tendência foi revertida e a moeda encerrou cotada a R$ 3,14, acumulando alta de 2,15% no dia. À tarde, chegou a valer R$ 3,155, maior cotação desde 15 de abril do ano passado.

Para Bonfim, da Pioneer, o mercado continuará volátil e o dólar pode subir ainda mais, com investidores à espera de novos indicadores americanos. O de inflação no atacado (PPI, pela sigla em inglês) será divulgado hoje, e a do consumidor (CPI, idem), amanhã.

Mais cedo, o Departamento de Comércio dos EUA divulgou a balança comercial de março: as exportações cresceram menos (2,6%) do que as importações (4,6%). O aumento das importações também fornece dados da recuperação econômica dos EUA ao mercado e eleva o temor de inflação.

A resposta a isso e à elevação do déficit pode ser uma intensificação da alta das taxas de juros pelo Fed já em junho. “O país está importando mais e já há um medo de que a puxada de juros seja de 0,5 ponto em junho”, cita o responsável pela mesa de derivativos do banco holandês Rabobank, Jorge Kattar.

A pressão de queda nos C-Bonds aumenta, para 1,77%, e os títulos são cotados a 86,687% do valor de face. O Global 40 cai 2,08%, cotado a 84,45% do preço de resgate do papel.

O dólar futuro de junho projeta uma cotação de R$ 3,141 contra R$ 3,204 para julho. O risco-País operava em alta de 3,49%, a 769 pontos (até o fechamento do mercado), tendo caído a 738 mais cedo. O anúncio do governo chinês de que pretende reduzir o crescimento, dos atuais 9%, para 7%, ao ano também pode prejudicar as empresas exportadoras brasileiras.

Segundo o estrategista da consultoria Global Invest, Paulo Gomes, as pressões devem continuar até a semana que vem, pelo menos. O maior fator de peso, para ele, foi a não-rolagem da dívida cambial.

“O governo decidiu não rolar a dívida em um mercado que demanda por hedge (proteção) em câmbio. Essa notícia diminui a oferta doméstica de dólares no mercado”, diz.

Bovespa

O Ibovespa fechou ontem em queda de 1,14%, aos 18.325 pontos, com volume financeiro de R$ 1,1 bilhão. Anteontem, o índice subiu 5,30%, aos 18.536 pontos, maior alta percentual desde outubro de 2002, mês da eleição do presidente Lula.

As ações do setor de telecomunicações desabaram ontem, após a aprovação do projeto que acaba com a assinatura básica pelas empresas de telefonia fixa pela Comissão de Defesa do Consumidor na Câmara.

Nas últimas semanas, a previsão de alta do juro nos EUA no próximo mês derrubou o mercado global e elevou a aversão ao risco, prejudicando principalmente os ativos de países emergentes.

Os investidores também redobraram a cautela com a disparada do preço do petróleo e as medidas da China para conter o superaquecimento da economia.

Voltar ao topo