Diretor do FMI diz que proposta do Brasil é útil

O ex-ministro de Economia da Espanha, Rodrigo Rato, anunciado anteontem à noite como o novo diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), substituindo o alemão Horst Köhler, que renunciou em março para concorrer às eleições presidenciais em seu país, disse que considera “útil” a proposta do Brasil para mudar a forma de cálculo do déficit público. “Projetos pilotos como esse do Brasil, nos quais o Fundo já está trabalhando com as autoridades, poderão ser muito úteis para contribuir no esclarecimento das contas públicas”, afirmou ele. O espanhol afirmou ainda que, para conseguir a revisão dos cálculos do déficit primário, é preciso demonstrar seriedade nas contas públicas.

No entanto, ele insinuou que essa é uma condição necessária, mas não suficiente para se chegar a um acordo. O ex-ministro de Economia da Espanha disse que já conversou com representantes do governo Lula sobre os impasses e probabilidades da aprovação da proposta. “A posição do Fundo é analisar como pode ser feito o melhor reflexo dessas operações de infra-estrutura, partindo da base de que as contas públicas devem ser precisas”, afirmou Rato.

“Não seria bom para ninguém, e muito menos para os governos, que houvesse qualquer dúvida sobre a veracidade dessas contas. Isso inclusive as autoridades brasileiras reconhecem. Eu mesmo falei com o ministro Palocci sobre essa questão”, disse ele.

Para Rato, as mudanças seriam um reflexo da importância que as obras de infra-estrutura têm para o desenvolvimento econômico e social dos países.

Rodrigo Rato, que foi ministro de Economia do governo Aznar até o mês passado, assume a direção do FMI em junho para um mandato de cinco anos.

Rato preocupado com a alta do petróleo

Rodrigo Rato deu ontem suas primeiras declarações como novo diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), alertando para a repercussão de uma alta do preço do petróleo na retomada do crescimento mundial.

As previsões do FMI sobre o crescimento mundial em 2004 se baseiam em um barril a 30 dólares, e “o Fundo calcula que um aumento de cinco dólares do barril em 12 meses terá um efeito de três décimos sobre o crescimento”, alertou Rato, em entrevista coletiva na cidade de Madri.

Os preços do petróleo, que estão no nível mais alto em 14 anos, representam uma “variável essencial” para fundamentar a reativação da economia mundial e evitar tensões inflacionárias, considerou Rato. Em Londres, às 10h35 de Brasília, o barril de Brent era vendido a 35,85 dólares, após fechar anteontem a 35,93 dólares.

O aumento dos preços do petróleo acontece em um cenário internacional marcado por uma melhora da situação das principais potências econômicas mundiais, destacou Rato, baseando-se no último relatório semestral do FMI.

O novo diretor-gerente citou principalmente o “crescimento forte e duradouro” da economia americana, destacando ao mesmo tempo seus desequilíbrios em matéria de déficit público e comercial. Quanto à zona do euro, “a reativação está em andamento, porém de modo mais moderado”, acrescentou.

Questionado sobre a política monetária, Rato manteve-se prudente e limitou-se a dizer que “a evolução das taxas de juros poderá mudar no futuro, mas não bruscamente”, levando em conta a ausência de tensões inflacionárias nos Estados Unidos e Europa.

Fundo dará mais atenção a países latino-americanos

O novo diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) garantiu ontem, em Madri, que no cargo dará “mais atenção” à América Latina e a cada país da região.

“Minha contribuição como diretor-gerente do Fundo será dar mais atenção a todos os países, e no caso concreto da América Latina, a cada um deles”, declarou Rato, 55 anos, em sua primeira entrevista coletiva após ser designado para dirigir o FMI.

Rato, que assumirá o cargo em junho, reiterou sua “dedicação total em trabalhar com os governos latino-americanos”, uma vez que conhece pessoalmente vários ministros da região.

O ex-ministro espanhol e ex-número dois do governo conservador de José María Aznar afirmou que o FMI tem “relações muito intensas” com a América Latina, onde muitos países estão aplicando programas do Fundo, “que estão sendo extraordinariamente úteis, como no Brasil e México”.

Perguntado se “endurecerá” as condições impostas pelo Fundo à Argentina, Rato respondeu que, para o futuro daquele país “são fundamentais a sustentabilidade de sua dívida e a recuperação de sua credibilidade como área de investimentos”.

Rato negou que, em virtude de sua nacionalidade, exista um “conflito de interesses” envolvendo os investimentos de empresas espanholas na América Latina, onde são o segundo maior investidor, atrás dos Estados Unidos.

Ele insistiu em que a posição do FMI é aquela que favorece o povo. Ele afirmou que as políticas da instituição que dirigirá buscam a sustentabilidade da dívida, redução da pobreza, aumento do crescimento e melhor funcionamento dos mercados. “São questões que o FMI apóia e dão novas e melhores oportunidades aos cidadãos desses países”, disse, otimista e sorridente.

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