Dirceu nega troca de negociadores na Alca

O ministro da Casa Civil, José Dirceu, afirmou ontem, em entrevista no Palácio do Planalto, que não haverá troca de negociadores brasileiros da Alca. “Acredito que o universo de interesses que o governo representa e as complexidades das negociações da Alca podem fazer parecer que haja descompasso dentro do governo em relação a isso. Mas não há”, assegurou ele. Dirceu ressaltou que quem conduz as negociações da Alca é o Itamaraty.

A uma indagação sobre a existência de atritos no governo em relação às negociações para a Alca, o ministro respondeu que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, já expressaram que essas negociações estão “sendo bem conduzidas e de acordo com as determinações do Palácio do Planalto”.”Entre o direito de debater e discutir e a condução da política externa há uma diferença”, disse.

Existem divergências no País, disse, em diferentes setores da indústria e do comércio em relação ao assunto. “E isso, muitas vezes, reflete dentro do próprio governo”, comentou. José Dirceu afirmou que não há nenhuma hipótese ou risco de algum dos setores ser alijado das discussões. “O País precisa de unidade interna para enfrentar uma situação tão importante e tão difícil quanto a da Alca”, disse. “O País pode ficar tranqüilo que há unidade dentro do governo.”

Amorim

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, também disse que o Itamaraty não aceitará uma “terceirização” das negociações para a formação da Alca. Segundo ele, sua equipe trabalha de forma coordenada com outros ministérios e organizações não-governamentais, mas considera que a pasta tem estrutura para defender os interesses do País. “Não vamos terceirizar a negociação”, afirmou. A declaração foi dada após o ministro participar do lançamento da nova política de cinema e do audiovisual, no Palácio do Planalto.

O ministro reafirmou que não haverá nenhuma reestruturação na equipe de negociação para a formação da Alca, e garantiu que o secretário-executivo do ministério, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, continuará no cargo, apesar das críticas que estão sendo dirigidas à equipe negociadora. “As coisas vinham caminhando num sentido diferente, em que o interesse nacional estava sendo colocado em segundo plano. Quando você tenta colocar o interesse nacional em primeiro plano isso gera resistências, como gerou a criação do G-20 na Organização Mundial do Comércio (OMC).”

Amorim disse que a negociação da Alca é mais complexa que a da OMC, pois, tirando-se os países do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) – Estados Unidos, Canadá e México – apenas a Argentina tem um desenvolvimento industrial que pode ser comparado ao brasileiro. “Então, os problemas que enfrenta um país como o Brasil são diferentes dos problemas que enfrentam outros países.” Ele afirmou que no governo não há ninguém defendendo a Alca a qualquer custo, em detrimento de uma Alca equilibrada. “No governo, não, mas eu vejo que publicamente isso acontece”, reclamou.

Lembrando a reunião da Alca realizada em Trinidad e Tobago, na semana retrasada, Amorim declarou que “a versão de que o Brasil está isolado (nas negociações da Alca) é totalmente falsa”. De acordo com ele, a posição do Brasil na reunião era a do Mercosul “e dizer que o Mercosul está isolado na Alca é o mesmo que dizer, numa negociação da Ásia, que a China e a Índia estão isoladas”.

O chanceler considera que o debate sobre a Alca tem sido “muito apaixonado e muito desinformado”. Segundo o ministro, “a questão não é dizer sim ou não à Alca, mas qual a Alca que desejamos”.

Um acordo que atenda aos interesses do Brasil, segundo o ministro, inclui além de maior acesso de exportações brasileiras ao mercado americano, “espaço a políticas de desenvolvimento como a que vem sendo feita pela Petrobras na compra de equipamento nacional”.

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