Depois do JP Morgan, agora Citi rebaixa Brasil

O Citigroup, maior conglomerado financeiro do mundo, divulgou ontem que rebaixou os títulos da dívida brasileira. Anteontem, o banco americano JP Morgan, responsável pelo cálculo do Embi+, já havia reduzido sua recomendação para os papéis do País. Em relatório sobre mercados emergentes, assinado por Thomas Trebat, diretor de análises econômicas e de mercados da América Latina, o Citigroup cita que rebaixou a posição do Brasil de “overweight” (acima da média do mercado) para um nível moderado de “underweight” (abaixo da média).

“Estamos mais cautelosos após a deterioração do ambiente externo”, justifica o relatório, citando a expectativa de crescimento da economia global e de aumento dos juros nos EUA.

Em face ao tamanho e à importância no mercado global de capitais, os títulos da dívida brasileira podem vir a ter uma performance mais fraca em um contexto de juros maiores nos EUA.

“O Brasil é particularmente, apesar de não ser o único, vulnerável à deterioração no ambiente externo”, cita o Citigroup.

A instituição financeira também afirma que os negócios com os títulos brasileiros nas últimas semanas, quando apresentaram desvalorização, destacam que os papéis continuam vulneráveis a choques.

O Citigroup lembra a reação negativa do mercado financeiro global ao dado do CPI (índice de preços ao consumidor americano), que levou os investidores a se prepararem para uma alta dos juros pelo Fed (Federal Reserve) antes do esperado.

“O fato de o Brasil não cortar a taxa Selic mais acima de 0,25 ponto percentual, na última quarta-feira, também pode ter contribuído para a venda dos títulos brasileiros ontem.”

O JP Morgan também alertou para o risco de descumprimento de metas fiscais (economia de recursos que o País faz para pagar juros da dívida), de um menor ritmo do crescimento do País e a estagnação política com as disputas para as eleições municipais em outubro.

Juros nos EUA não devem subir

Analistas consideraram, ontem, que os títulos americanos tendem a ficar mais atrativos para os investidores se houver uma alta nos juros. Isso provocaria uma saída de recursos de países emergentes, como o Brasil, que ficaria vulnerável com a fuga de dólares, aumentando as dúvidas dos credores sobre o pagamento da dívida pública.

Porém, ontem surgiram dados que contrariam as previsões dos últimos dias de que os EUA estão prestes a elevar os juros para esfriar a economia. Ontem foi divulgado que a produção industrial caiu em março e que a confiança do consumidor americano sinaliza queda em abril.

Além disso, um presidente de uma unidade do BC americano (Fed, Federal Reserve), também indicou que não está preocupado com o recente aumento dos preços ao consumidor. O dado foi divulgado anteontem e reforçou a preocupação com a inflação – o que seria outro pretexto para uma alta dos juros.

O fato é que, após a queda da produção industrial e da confiança do consumidor e das declarações do representante do Fed, o dólar mudou de direção e caiu. A Bolsa paulista passou a subir, e o risco-País voltou a ficar abaixo de 600 pontos.

Alguns analistas já falavam que a onda pessimista tinha sido exagerada. O gerente do Banco Rendimento, Hélio Osaki, declarou que houve um exagero na reação negativa do mercado ao relatório do JP Morgan e aos temores de alta dos juros nos EUA. “Nos próximos dias, a poeira deve baixar.”

FHC faz elogio a Palocci e critica banco

Ao contrário do esperado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso resolveu dar uma trégua ao governo e, ao invés de criticar, teceu elogios ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ministro Antonio Palocci (Fazenda). Mas não deixou de “cutucar”, sutilmente, o PT. FHC disse que o governo vive um momento “difícil” ao comentar a crise da segurança no Rio de Janeiro e o escândalo envolvendo o ex-assessor do Planalto Waldomiro Diniz.

“Esse ano, especificamente, o governo do presidente Lula enfrentou muitos problemas e ficou um pouco embaralhado nesses problemas. Mas é o momento e eu espero que saia dessa”, disse.

Pedido para fazer uma avaliação do governo, FHC fugiu da pergunta e disse que tem sido mal interpretado pela imprensa. “Não gosto de me referir especificamente porque eu fui presidente até ontem e tudo o que eu digo é reinterpretado de uma maneira que eu não acho boa”, afirmou.

Mas não deixou de cutucar: “Basta ler os jornais que você vê essa avaliação. É difícil governar. Não quero criticar porque eu sei que é difícil governar”, afirmou perante uma platéia de 280 empresários, na ilha de Comandatuba, na Bahia.

“Pode haver crítica aqui e ali, num ponto ou outro ponto, como é normal numa democracia. Não serei eu que irá colocar dificuldades adicionais àquelas que o governo já têm e que o povo está enxergando. Eu não preciso falar nada”.

O ex-presidente também preferiu não entrar no coro dos empresários, que afirmam que o governo está paralisado. “Eu não diria que é um governo paralisado. Um governo paralisado é quando o país está em crise. Não é isso.

Palocci

FHC elogiou ainda a condução do ministro Antonio Palocci (Fazenda) na economia. Para ele, o ministro faz uma “gestão responsável” e “competente”. Acho que o Palocci foi competente para repor o País numa condição razoável”, disse, mas cutucou: “Quando a situação muda, a gestão tem de mudar. Talvez se eu fosse presidente seria diferente”.

O ex-presidente deu uma outra “cutucada” no governo ao questionar as afirmações de que o presidente Lula recebeu uma “herança maldita” de seu governo. “Essa discussão (de continuidade da política econômica) é política. Quando falam tanto em herança, parece que a herança foi boa já que estão continuando”, afirmou.

Dívida

FHC questionou ainda as afirmações e os temores do mercado financeiro sobre a sustentabilidade da dívida interna e externa brasileira. “Não vejo que haja qualquer risco de insustentabilidade da dívida”, disse FHC.

Ele questionou ainda a capacidade das agências de risco e dos bancos internacionais de investimentos – como JP Morgan e Citigroup – de avaliar a economia brasileira e criticou os recentes rebaixamentos.

Anteontem, o banco americano JP Morgan rebaixou sua recomendação para os títulos da dívida externa do Brasil. Ontem foi a vez do Citigroup reduzir a avaliação do País.

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