Crise afetou oferta e demanda de crédito

O agravamento da crise financeira mudou o comportamento do mercado de crédito no País. Segundo o chefe do Departamento Econômico (Depec) do Banco Central, Altamir Lopes, bancos têm adotado critérios cada vez mais rigorosos para a concessão de empréstimos. Além disso, os juros sobem pelo maior conservadorismo das instituições financeiras preocupadas com o risco de calote. Entre os clientes, o conturbado cenário econômico tem diminuído a disposição para a tomada de crédito. “A crise afetou todos os agentes do mercado de crédito, seja na oferta ou na demanda”, diz.

O chefe do Depec diz que esse impacto é mais visível nas condições dos empréstimos. “É natural em momentos como esse (de crise) que o sistema financeiro fique mais conservador, exija mais garantias e eleve o spread”, explica. “Mas é de se esperar que haja alguma acomodação”, completa.

Esse novo comportamento é visto no spread bancário, que é a diferença entre o custo de captação dos bancos e o valor do repasse ao cliente. Em outubro, o spread médio subiu dois pontos porcentuais na comparação com setembro, para 28,4 pontos. O spread aumenta em momentos em que o banco avalia ter mais riscos na operação. Em um quadro econômico desfavorável como o atual, as instituições elevam essa margem para cobrir eventuais prejuízos com a inadimplência, por exemplo.

Mas não são apenas os bancos que têm mudado de comportamento. Segundo Altamir Lopes, os clientes também estão mais conservadores com a crise. Com o aumento das incertezas e a diminuição da confiança com a economia, empresas e famílias passam a tomar menos empréstimos. Por isso, o volume de novas operações de crédito caiu 3% em outubro na comparação com setembro.

Apesar do quadro desfavorável, o chefe do Departamento Econômico do BC diz que os números preliminares de novembro mostram recuperação. “Vemos uma melhora após o stress inicial”, diz, ao lembrar da série de medidas adotadas pelo Banco Central nas últimas semanas para aumentar a oferta de dinheiro disponível nos bancos.

Mesmo com a crise, o estoque de todas as operações de crédito continua crescendo no Brasil. Em outubro, a proporção do total de empréstimos tomados por empresas e famílias na comparação com o Produto Interno Bruto (PIB) atingiu o maior nível da série histórica iniciada em julho de 1994: 40,5% do PIB, o equivalente a R$ 1,186 trilhão. Em setembro, estava em 39,2%.

Bancos públicos

O estoque de empréstimos dos bancos públicos cresceu significativamente mais do que o do setor privado em outubro, na comparação com setembro, de acordo com dados divulgados nesta terça-feira (25) pelo BC. O saldo dos financiamentos de instituições públicas subiu 5,2% no período, atingindo R$ 414,57 bilhões no mês passado. Já as instituições financeiras privadas brasileiras tiveram alta de apenas 1,2% no estoque de empréstimos, que atingiu R$ 518,25 bilhões em outubro.

O ritmo dos bancos nacionais é menor, inclusive, do que o verificado no grupo das instituições financeiras estrangeiras, cuja expansão foi de 3% de setembro para outubro, totalizando R$ 253,79 bilhões.

Na prática, esse movimento significa que os bancos públicos estão ganhando terreno em relação aos privados. O governo federal tem interesse neste movimento, pois avalia que suas instituições têm de liderar e balizar o mercado. Altamir Lopes, reconhece que o saldo de empréstimos dos bancos públicos teve um crescimento expressivo no mês passado, mas destaca que os dados têm influência das operações de compra de carteiras de crédito das instituições financeiras privadas. Ou seja, ao adquirir esses grupos de financiamentos, o estoque de crédito dos bancos públicos sobe e, ao mesmo tempo, há um impacto negativo no saldo das instituições privadas.