Crescem queixas contra os cartões de crédito

Rio

(AG) – Os programas de segurança contra fraudes nos cartões de crédito estão deixando consumidores em situações constrangedoras e até difíceis. No afã de impedir fraudes, o Unibanco Visa deixou a empresária Ilda Yurico, em Pequim, na China, sem o cartão que seria usado para o resto da viagem de negócios que incluía Tibet e Japão. Ilda conta que usou o limite do cartão Mastercard no pagamento do bilhete aéreo e deixou o outro, de bandeira Visa, emitido pelo mesmo banco, para usar durante a viagem, com limite de R$ 15 mil:

Bloquearam o cartão, por uso indevido em São Paulo. Pedi um cartão emergencial, então, ou o aumento do limite no outro. Mas, apesar das promessas, em uma semana nada aconteceu. Tive até que pedir dinheiro emprestado a um fornecedor para poder pagar o hotel.

E as queixas contra as administradoras só aumentam. No Procon-SP, foram 3.445 consultas de janeiro a maio e 618 reclamações, uma alta de 38% em relação ao mesmo período de 2001, quando foram registradas 445 queixas.

A situação vivida por Ilda configura dano moral grave, na opinião de Antonio Mallet, coordenador-jurídico da Associação de Proteção e Assistência aos Direitos da Cidadania (Apadic). Com mais de 700 ações em andamento, Mallet afirma que as indenizações na Justiça estão entre cem a 300 salários-mínimos:

– Para evitar prejuízos com fraudes, as administradoras não autorizam compras, mesmo com limite a ser usado.

Foi o que aconteceu com a advogada Lúcia Guedes. Por gastar no mesmo dia R$ 800 de seu limite de R$ 13 mil do cartão Credicard, foi obrigada a dizer idade, nome dos pais, endereço completo e na maratona de informações, não soube as compras do mês anterior:

– Saí da loja com a minha filha pagando o presente que eu havia prometido – conta.

O Unibanco Visa alega que não houve bloqueio do cartão, e sim o estouro do limite e que a ligação foi apenas para checar as compras no exterior. O cartão emergencial não foi enviado, segundo a administradora, porque a cliente não pôde esperar por 24 horas. A Credicard informou que o cartão de Lúcia foi desbloqueado.

Todo cuidado ainda é pouco

CONTRATO: Ao assinar o contrato, o consumidor deverá observar se nela constam a data de vencimento e a anuidade, que podem variar. Alguns cartões cobram juros a partir da data da compra, geralmente os de supermercados.

ADICIONAL: Nos cartões adicionais podem ser cobradas anuidades, e os gastos deles também são de responsabilidade do titular.

DATAS: Antes de fazer suas compras, é bom verificar o melhor dia de acordo com a data de vencimento do cartão.

PREÇOS DIFERENTES: As lojas não podem cobrar preços diferentes na compra à vista e no cartão. Na insistência do comerciante, é melhor evitar a compra e denunciar essa prática.

VALOR MÍNIMO: Quando a administradora estipula um valor mínimo para pagamento, significa que o restante da dívida está sendo financiado com juros do cartão. Portanto, a fatura do próximo mês virá acrescida de juros, hoje, em torno de 12%.

ENVIO: Nos cartões enviados sem solicitação não pode ser cobrada anuidade.

ONDE RECLAMAR: Procon

Liberdade para “estourar” o limite

O Unibanco Visa e a Credicard brindaram este mês seus clientes especiais – mais tempo na casa, adimplentes e mantendo um relacionamento preferencial – com mais uma taxa. O pagamento de R$ 10 dá o direito de estourar o limite de crédito do cartão. No Unibanco, cada compra excedente é punida com R$ 10. No Credicard, a tarifa é cobrada para o limite total liberado.

Segundo Marcelo Alonso, diretor de Relações Corporativas do Credicard, a iniciativa foi para facilitar a vida do consumidor, que nem sempre percebe que estourou o limite e tem a compra recusada. O aumento na linha de crédito dependerá do perfil do cliente e pode variar de 5% a 45%:

– Esse aumento provisório é para uso emergencial e é mais concedido quando o cliente está no exterior.

Segundo Alonso, a administradora continua com a política de rever os limites periodicamente e aceita pedidos de quem deseja aumentar o crédito, bastando enviar os comprovantes de renda que demonstrem maior capacidade de pagamento.

Segundo Alonso, a cobrança da taxa é pelo risco adicional que administradora assume ao liberar o limite. Augusto Estellita Lins, do Unibanco Visa, afirma que a liberação do crédito não vai facilitar as fraudes.

– Aumentar 5% ou 10% no limite não vai tornar o risco maior – afirma Lins.

Para a assistente do direção do Procon de São Paulo, Dinah Barreto, a cobrança é totalmente abusiva, já que não há qualquer serviço embutido que justifique a nova tarifa:

– É uma decisão unilateral Estão cobrando isso baseado em qual custo? A obrigação da administradora é impedir o uso quando o limite excede ou aumentar o crédito do cliente.

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