Crédito pessoal pode virar armadilha

Fazer um empréstimo pessoal sem precisar comprovar renda ou ter um fiador. O pagamento pode ser feito em até 24 vezes. Esse tipo de proposta, cada vez mais comum, é feita no meio da rua. Basta andar pelo centro da cidade para ser abordado por várias empresas de crédito pessoal. Para quem está endividado, pode parecer um alívio. Até que comecem a vencer as prestações, pois os juros são altíssimos, e no final, a pessoa acaba pagando o dobro do valor contratado. São os conhecidos “agiotas formalizados”.

A jornalista Ellin Bossardi sabe bem o que é isso. Ela emprestou R$ 300, mas no final do contrato, acabou pagando R$ 604. O dinheiro era para pagar prestações que iriam vencer no mês, já que o salário da empresa onde trabalhava estava atrasado. “Eu paguei as contas com o dinheiro do empréstimo e, quando recebi o salário, fui quitar a prestação 15 dias depois da data do vencimento. Mas, para minha surpresa, paguei a prestação atrasada e mais um juro, que nem sabia que existia”, contou. Ellin reclama que na hora de assinar o contrato, ninguém informa que existem cobranças de multas diárias, o que acaba inviabilizando o pagamento.

Situação semelhante constatou a técnica em informática Carnem Dugonski. Ela emprestou R$ 1 mil, e no final de um ano acabou pagando R$ 3 mil. “A prestação ia aumentando a cada mês, e chegou uma hora que não conseguia mais pagar”, comentou. A única forma encontrada para quitar a dívida foi fazer um acordo com a financeira, e um novo parcelamento. Para ela, a experiência foi amarga. Tanto que agora ela aconselha a quem precisa de dinheiro recorrer a um parente ou conhecido, para evitar cair nessa ciranda financeira.

O Procon de Curitiba atendeu, desde o início deste ano, a 1.795 pessoas que queriam informações sobre crédito pessoal. Desse total, 590 tinham dúvidas sobre as cobranças, e o restante reclamou de cobranças indevidas e juros abusivos. A advogada do órgão, Cláudia Silvano, falou que esse tipo de empréstimo acaba atraindo pela facilidade que prometem: “O crédito é fácil, difícil é pagar”, resume. Segundo ela, essas empresas acabam cobrando juros que variam de 12% a 15%, que no final do ano representam mais de 200% – o que faz com que o valor contratado dobre.

A advogada informa que as empresas têm autorização para cobrar juros de mercado, mas acabam se aproveitando do desespero das pessoas: “Quem já está com as dívidas atrasadas, muitas vezes desempregado, acredita que essa será a única saída. Mas acabam acumulando outro problema”. A orientação do Procon é evitar ao máximo assinar um contrato com uma financeira. “Procure negociar a dívida ou emprestar o dinheiro de alguém, mas não se deixe levar por essas propostas”.

Dicas

Orientação semelhante deu o economista e coordenador do curso de Economia da Unibrasil, Edson Stein. Segundo ele, quem estiver inadimplente, mas empregado, pode procurar o serviço social da empresa para fazer uma antecipação do período de férias. Se a dívida for com o limite do banco, Stein aconselha renegociar a dívida com a própria instituição: “Dá para fazer uma transferência de crédito direto ao consumidor (CDC), que tem juro menor e é descontado diretamente da conta”, indicou.

Para quem está desempregado e com as dívidas acumuladas, o conselho do economista é procurar negociar. Por mais que as contas não possam ser quitadas, o juro cobrado é sempre menor que o das financeiras. “Se o credor não tiver paciência para esperar, pode entrar na Justiça. Mesmo assim, o juro ainda será menor”, afirmou. Outra alternativa é vender objetos pessoais para levantar o dinheiro: “Se o devedor tem uma dívida de R$ 200, pode vender uma televisão, por exemplo, para cobrir a conta. O bem ele pode adquirir novamente, em prestações”, finalizou.

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