Corus-CSN formará a 5.ª maior empresa do mundo

Confirmada a assinatura do memorando de entendimento entre a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a anglo-holandesa Corus para a formação de uma nova companhia a partir de trocas de ações, uma das dúvidas do mercado recai sobre o portfólio da nova empresa. Se o negócio realmente se efetivar, a nova companhia será a quinta maior do mundo, oferecendo uma cesta completa de produtos siderúrgicos, com destaque aos aços planos. Nesse último segmento, o portfólio de ambas as companhias se cruza, já que 90% das linhas que oferecem são comuns.

São Paulo

(AE) – “Nossa intenção, nesse primeiro momento, é apenas agregar a produção”, disse o diretor-executivo de operações da CSN, Albano Chagas Vieira. “Isso não significa que não venhamos a promover uma racionalização dos negócios no futuro, visando reduzir custos e ganhar competividade.”

Mesmo que haja algum tipo de racionalização, ela não reduzirá um dos maiores ganhos da CSN com o negócio: a entrada no mercado de aços longos. A expectativa dos dirigentes da brasileira é de que a Corus, no posto de uma das maiores produtoras desse segmento, facilite as vendas da CSN para esse mercado, que engloba o fornecimento de aço para a construção de trilhos – nicho praticamente inexplorado pelas siderúrgicas brasileiras – e para obras pesadas, como pontes.

Para a Corus, em contrapartida, o negócio facilitará a compra de matéria-prima, principalmente de minério de ferro, de boa qualidade e baixo custo no Brasil. Com os investimentos de US$ 250 milhões previstos para a mina Casa da Pedra, que elevarão a capacidade produtiva em mais de 180%, a anglo-holandesa poderá captar 18 milhões de toneladas dos 28 milhões que consome por ano. “Hoje, ela compra apenas 4 milhões no País. O quadro se reverterá de tal forma que a companhia captará 18 milhões do Brasil e 10 milhões de todos outros mercados”, destaca Vieira.

Outro nicho de mercado que refletirá o tamanho da nova companhia é o de embalagens, no qual se utilizam folhas-de-flandres. A produção conjunta da CSN e da Corus nessa área totaliza 2,5 bilhões toneladas por ano, uma das maiores do mercado.

Europa

Outro ganho considerável da CSN com o negócio se dará no fortalecimento da presença da brasileira no mercado externo, principalmente no europeu. “Atuando em conjunto com a Corus, conseguiremos aumentar nossa presença nos Estados Unidos e Europa, principalmente na Grã-Bretanha, o que concretiza um de meus antigos sonhos: tornar a CSN multinacional”, disse o presidente do grupo, Benjamin Steinbruch.

Pendências

O negócio ainda depende da aprovação dos acionistas das companhias, dos órgãos reguladores e dos credores tanto da Corus como da CSN, dentre os quais se destaca o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Os papéis da siderúrgica brasileira foram oferecidos ao BNDES pela Vicunha – sua maior acionista – como garantia das debêntures lançadas à época em que realizou a compra das participações que Bradesco, Previ e Companhia Vale do Rio Doce mantinham na CSN. O problema é que cláusulas contratuais do negócio estabelecem que essas ações não podem ser negociadas até 2011. “Acho difícil o BNDES não aceitar. O que estamos propondo é uma troca de garantias com a Corus, que tem uma maior liquidez que a própria CSN”, disse Steinbruch.

Faturamento de US$ 14 bi

Londres

(AE) – O executivo-chefe da Corus, Tony Pedder, disse ontem que a empresa pretende expandir a produção de minério de ferro da Casa de Pedra, da CSN, das atuais 10,7 milhões de toneladas anuais para 30 milhões de toneladas nos próximos dois anos. Segundo ele, boa parte dos US$ 300 milhões colocados como custos para a aquisição da CSN serão destinados a este projeto. O faturamento da nova empresa será de US$ 14 bilhões. A Corus terá 62% da empresa, a CSN, 32%

Em entrevista à Agência Estado, o executivo disse que a Corus está atenta à volatilidade do mercado brasileiro. Mas, acredita na solidez dos fundamentos econômicos do País. “Estamos vendo volatilidade não apenas no Brasil, mas também em todos os mercados, e vamos continuar acompanhando isto atentamente”, disse Pedder. “Mas temos convicção de que estamos criando uma grande nova empresa, não em termos de volume mas de valor e qualidade”.

Pedder não descartou que a volatilidade nos mercados nos próximos meses poderá de alguma maneira afetar o negócio, que deve ser concluído no primeiro semestre de 2003, mas ressaltou ter absoluta confiança na conclusão do acordo.

Capitalização

O diretor financeiro da Corus. David Lloyd disse que se o negócio for fechado, a nova empresa teria uma capitalização de bolsa de US$ 5,8 bilhões, o que a tornaria a quarta ou quinta siderúrgica do mundo. Segundo ele, há dois cálculos para se estimar o prêmio que a Corus está pagando no negócio. Num deles, o prêmio é de 87% sobre as ações da CSN, no valor total de US$ 1 bilhão. No outro calculo, este prêmio é de 54%. “Qualquer que seja o calculo temos certeza de que estamos fazendo um ótimo negócio, que resultará em uma redução de custos anuais de US$ 250 milhões. Lloyd disse que a dívida da CSN é resultado principalmente de um forte plano de investimentos e que a Corus está absolutamente tranqüila sobre este tema.

Classificação -O diretor executivo da Corus, Tony Pedder disse que a decisão das agências de classificação de risco Standard & Poor?s e Moody?s, de colocar os ratings do Grupo Anglo Holandês Corus sob observação após o anuncio da aquisição da CSN, “é uma reação normal em uma situação desse tipo”. “Não estamos preocupados com isto e vamos procurar as agências de rating para esclarecer e oferecer as informações que desejarem”, disse Peder.

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