Corretoras miram serviços e taxas do Tesouro Direto para atrair investidores

Gráficos de cotações de ações e carteiras recomendadas pouco a pouco perderam espaço para ferramentas e análises de renda fixa. Com a baixa da Bolsa nos últimos meses e a rigidez da taxa de juro em patamar elevado, a demanda do pequeno investidor de varejo voltou-se às aplicações de baixo risco, sobretudo o Tesouro Direto. Para ganhar este público, a guerra das instituições chega às taxas cobradas nas operações e aos serviços.

Em três anos, o número de investidores cadastrados no Tesouro praticamente dobrou, passando de 334 mil em janeiro de 2013 para os atuais 651 mil. Em contrapartida, na BM&FBovespa, o total de acionistas individuais recuou cerca de 5%. Num cenário de juro alto e inflação elevada, que faz aumentar a busca por opções mais rentáveis, o Tesouro ganhou destaque. “Atualmente, menos de 20% do meu faturamento vem de bolsa”, diz o sócio-diretor da Easynvest, Marcio Cardoso.

Títulos públicos viraram uma vitrine para atrair investidores. “Vemos o Tesouro como um produto de entrada, um investimento onde se inicia o contato com a corretora ao sair da poupança ou de um fundo”, diz Rodrigo Puga, sócio do modalmais, home broker recém-criado do banco Modal.

Após três anos de estudo, o banco – que sempre focou no público de alta renda – lançou no último trimestre de 2015 uma plataforma que tenta oferecer todo o leque de renda fixa do Modal aos pequenos investidores.

Não há taxa de administração na compra de títulos públicos. A ideia é que a pessoa se torne um cliente por meio do cadastro do Tesouro, mas com o tempo passe a aplicar em outros produtos da prateleira, em geral de renda fixa, como os títulos bancários CDB (Certificado de Depósito Bancário) e LCI (Letra de Crédito Imobiliário).

Quem já adota a estratégia há anos diz que vale a pena. “No último pagamento de juros semestrais do Tesouro, do total de recursos que caíram na conta dos investidores, 70% foram para outros produtos”, diz o sócio-diretor da Easynvest, Marcio Cardoso, corretora que também não cobra taxa no Tesouro Direto.

No caso da Rico, na qual a taxa é de 0,1%, do total de novos clientes que aplicaram em janeiro e fevereiro deste ano no Tesouro, 35% investiram em outros produtos. “É uma maneira de quebrar o pensamento de que corretora é só para ações”, comenta a sócia da Rico, Mônica Saccarelli.

Se para a corretora a estratégia de taxas baixas funciona como marketing, para o investidor é um meio de garantir maiores retornos. Se aplicar R$ 5 mil por seis anos, por exemplo, a diferença de rentabilidade chega a cerca de R$ 1 mil, quando comparadas a maior (2% ao ano) e a menor taxa (0%) hoje cobradas no Tesouro.

Benefícios

As corretoras que não isentam o investidor de tarifas afirmam que é preciso cobrar algo, mesmo que mínimo, para garantir a qualidade do serviço. “Não entramos nessa guerra de tarifa zero. Entendemos que para fornecer um bom serviço, relatórios de análise e educação financeira, é preciso cobrar algo”, afirma Mônica, da Rico.

A Spinelli Investimentos começou a vender títulos com tarifa zero, mas passou a cobrar taxa em 2014, de 0,08%. “Primeiro olhamos o mercado para entender a dinâmica do produto, para depois cobrarmos uma remuneração que não tirasse a competitividade do investimento”, diz José Domingo Ruiz Neto, da Spinelli.

O atendimento é outro ponto em que as corretoras tentam competir. Na Modal, cada investidor possui um assessor específico para orientá-lo e tirar dúvidas. Na Planner, há ainda uma preocupação com a parte educacional. “Nenhum cliente é cadastrado sem que eu o conheça, que saiba do que ele precisa. Procuramos instruir os investidores sobre as principais características dos produtos”, diz a diretora comercial da Planner, Priscila Fracari Vargas.

Além de baixar taxas – a tarifa que era de 4% há dez anos hoje é de 0,5% -, o Bradesco investiu em educação financeira, por acreditar que, com informação, o cliente toma decisões mais acertadas. “Temos tentado popularizar o Tesouro Direto com cursos. Só em 2015, foram mais de 60 especificamente sobre títulos públicos”, afirma o superintendente da Bradesco Corretora, Marcos Azer Maluf. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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