Copom surpreende e reduz Selic em 1,5 ponto

Na penúltima reunião do ano, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu reduzir a taxa de juros Selic em 1,5 ponto percentual, de 19% para 17,5% ao ano. Esse foi o sexto mês consecutivo de corte na taxa básica de juros, que caiu de 26,5% para 17,5% – 9 pontos percentuais – desde junho, quando começou a política de redução da Selic. Trata-se da menor taxa desde junho de 2001, quando o BC aumentou a Selic de 16,75% para 18,25%, devido à crise gerada pelo racionamento de energia.

O corte ficou acima do esperado pelo mercado financeiro, que apostava em uma redução de apenas um ponto, igual a do mês passado. No entanto, o BC não foi tão “ousado” como queriam os representantes da indústria e do comércio, que pediam um corte de 2 pontos.

Alguns analistas de mercado chegaram a apostar em uma decisão menos conservadora após a divulgação de que o IPCA-15 ficou em 0,17% em novembro. O indicador é um dos que podem ter influenciado a decisão de ontem. Para reduzir a taxa de juros, o BC leva em consideração o risco-País e a expectativa para a inflação nos próximos 12 meses, entre outros fatores.

No último mês, as expectativas de inflação do mercado para os próximos 12 meses caíram de 6,27% para 5,93%, ainda acima da meta de 2004, de uma inflação de 5,5%. O risco-País caiu de cerca de 620 pontos para 586 pontos. Durante este mês, o indicador chegou a ficar abaixo dos 570 pontos, o melhor resultado desde 1998.

As razões para o corte de um ponto percentual na taxa Selic serão conhecidas na próxima semana quando o BC divulgará, na quinta-feira (27), a ata da reunião do Copom.

Em janeiro, no início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os juros básicos da economia estavam em 25% ao ano. A taxa chegou a 26,5% em fevereiro e só começou a cair em junho. Neste período, o BC realizou cortes de 0,5 ponto percentual, 1,5 ponto, 2,5 pontos, 2 pontos e 1 ponto.

A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 16 e 17 de dezembro.

Juro menor viabiliza investimentos

Com a redução dos juros, o Banco Central diminui a atratividade do investimento em títulos da dívida pública. Assim, começa a “sobrar” um pouco mais de dinheiro no mercado financeiro para viabilizar investimentos que tenham retorno maior que o pago pelo governo. É por isso que os empresários pedem corte nas taxas, para viabilizar investimentos.

Nos mercados, reduções da taxa de juros viabilizam normalmente migração de recursos para a Bolsa e para o câmbio de moedas.

É também por esse motivo que as Bolsas sobem em Wall Street ao menor sinal do Federal Reserve de que os juros possam cair.

Quando o juro sobe, acontece o inverso. O investimento em dívida suga como um ralo o dinheiro que serviria para financiar o setor produtivo.

Tira ainda dinheiro do câmbio de moedas e do mercado acionário – por que alguém vai correr riscos com ações se tem o rendimento garantido com títulos públicos?

Selic

Selic é a sigla para Sistema Especial de Liquidação e Custódia, criado em 1979 pelo Banco Central e pela Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto) com o objetivo de tornar mais transparente e segura a negociação de títulos públicos.

O Selic é um sistema eletrônico que permite a atualização diária das posições das instituições financeiras, assegurando maior controle sobre as reservas bancárias.

Hoje, Selic identifica também a taxa de juros que reflete a média de remuneração dos títulos federais negociados com os bancos.

A Selic é considerada a taxa básica porque é usada em operações entre bancos e, por isso, tem influência sobre os juros de toda a economia.

Fiep acha que é preciso avançar mais

O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, avaliou que o corte de 1,5 ponto percentual na taxa Selic é um aceno positivo, mas ainda insuficiente. “É preciso avançar mais, há espaço para uma redução significativa da taxa básica que juros. É necessário uma política monetária mais ousada para estimular a atividade econômica e trazer confiança para o empresariado brasileiro e para os grupos internacionais voltarem a investir”, afirmou.

“O que tem que acontecer é uma mudança fundamental de percepção. Os juros estão sendo usados como ferramenta de controle da inflação e isso é um grande equívoco”, diz Rocha Loures. Para ele, a inflação deve ser controlada através de disciplina fiscal e de melhoria de produtividade do setor público. “Os juros devem ter um papel acessório no controle inflacionário e ser, sim, essencial e estratégico para promover o crescimento, o investimento e o consumo. Isso deixou de ser feito há 10 anos e esta é a razão porquê o Brasil está estagnado”.

Para o presidente da Fiep, a taxa básica ideal estaria em torno de 12% ao ano. “Ainda assim, com esta taxa teríamos juros reais acima da média mundial”, afirma. Rocha Loures defendeu ainda a redução do “spread” bancário – diferença entre o custo de captação dos bancos e o que as instituições financeiras cobram nas operações de financiamento. “Para que o crescimento econômico seja retomado é preciso o financiamento dos investimentos”, acrescentou.

A expectativa do presidente da Fiep para o ano que vem é positiva. “Naturalmente devemos ter crescimento da indústria e da economia, de forma geral acima do que será registrado este ano. Mas, além das altas taxas de juros, precisamos também desarmar algumas travas para o desenvolvimento sustentado como a restrição ao crédito, a burocracia do aparelho estatal e o peso da carga tributária”, afirma Rocha Loures.

Bancos acompanham decisão do BC

A redução da taxa básica de juros, Selic, em 1,5 ponto percentual, anunciada no final da tarde de ontem pelo Banco Central, provocou verdadeira reação em cadeia no sistema bancário. O Banco do Brasil emitiu comunicado quase simultâneo ao anuncio do BC, informando que “a queda” da Selic já surtiu efeito no Banco do Brasil, refletindo-se nas taxas de juros de contas especiais, cartão de crédito, linhas de Crédito Direto ao Consumidor (CDC) e empréstimos para pessoas jurídicas.”

O comunicado do banco informa que desde 29 de junho, a taxa máxima dos cheques especiais para pessoas físicas caiu de 9% para 7,57% ao mês, mesma variação dos cartões de crédito. Linhas como o BB Crédito Veículo e BB Leasing Veículo baixaram de 3,30% para 2,65% ao mês. Já o BB Crédito Turismo e o BB Crédito EletroEletrônicos tiveram suas taxas reduzidas de 4,20% para 2,98% ao mês.

O crédito pessoal é um importante instrumento para aquecer o consumo e movimentar o setor produtivo. No caso do BB, existem linhas específicas para a aquisição de bens e serviços, tais como automóveis, eletroeletrônicos, eletrodomésticos, passagens aéreas, diárias em hotéis, entre outros. Algumas linhas não possuem destinação específica e podem ser usadas pelo cliente para qualquer finalidade.

O Banco HSBC, através de sua diretoria no Brasil, informou ontem que também reduziria suas taxas de juros “proporcionalmente ao que for anunciado pelo Banco Central”. Porém, até o início da noite não havia distribuido comunicado oficial sobre o assunto.

O Bradesco também anunciou redução dos juros cobrados em empréstimos de pessoas físicas e jurídicas. O banco seguiu o Comitê de Política Monetária (Copom), que reduziu a Selic, taxa básica de juros da economia, de 19% para 17,5 % ao ano.

Para pessoa física, a taxa máxima do cheque especial do Bradesco cai de 8,29% para 8,18% ao mês e a mínima passou de 3,08% para 3,04% mensais. O juro máximo do crédito pessoal passou de 5,80% para 5,69% ao mês e o mínimo, de 3,38% para 3,27% mensais.

No segmento empresarial, a linha de capital de giro passa de 6,23% para 6,12% na máxima e de 3,15% para 3,04% na mínima. A taxa máxima de desconto de duplicata e de cheque cai de 4,78% para 4,67% e a mínima, de 2,14% para 2,03%. As novas taxas valem a partir de amanhã em toda a rede de agências do banco.

Outros bancos devem anunciar redução de taxas, acompanhando a tendência que vem sendo demonstrada pelo governo.

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