Copom acha que inflação cai, mas em ritmo lento

Brasília

– O Comitê de Política Monetária (Copom) avalia que a inflação no País já vem caindo porém num ritmo mais lento do que o esperado pelo próprio Banco Central e pelos analistas do mercado financeiro. “Os principais índices de preços confirmaram o arrefecimento da inflação ao consumidor em março, porém com menor intensidade do que o apontado pelas estimativas do BC e dos analistas”, afirmam os diretores do BC no texto da ata da última reunião do Comitê.

De acordo com o Copom, as variações mensais dos índices de inflação ainda se mantiveram em patamares “relativamente elevados”. “No atacado, a despeito da desaceleração na variação dos preços agrícolas, observou-se aumento na taxa mensal, determinada pelo comportamento dos preços industriais”, salientam os diretores do BC. Um dos exemplos desse arrefecimento da inflação foi o próprio comportamento do IPCA em março, que registrou uma alta de 1,23% ante 1,57% em fevereiro. A inflação dos preços administrados em março, como observado pelo Copom, também foi menor (1,07%) do que a verificada em fevereiro (2,71%).

Entretanto, avaliando apenas o núcleo da inflação para o IPCA, observa-se que a variação registrada em março (1,13%) ainda ficou acima da registrada em fevereiro (1%), interrompendo assim a desaceleração desse núcleo, que foi iniciada em dezembro do ano passado. O núcleo do IPCA é calculado excluindo a variação dos preços dos alimentos no domicílio e dos preços administrados.

Nos últimos 12 meses (terminados em março) a variação desse núcleo foi de 10,2%, superando o porcentual registado em fevereiro, que era de 9,4%. Pelo metodo de médias aparadas, o núcleo de inflação do IPCA também teve uma variação em março (1,23%) superior à de fevereiro (0,93%). Nos últimos 12 meses, o núcleo calculado dessa maneira teve uma alta de 10,8%, superando o acumulado até fevereiro (10,1%).

Apesar do Copom acreditar na tendência de queda da inflação, ainda existem dúvidas sobre a velocidade dessa queda e até em que ponto a chamada inércia inflacionária tem caráter temporário. Por apostar na tendência de queda, os diretores foram favoráveis à retirada do viés de alta da taxa básica de juros. Mas a existência das dúvidas fizeram com que o Copom mantivesse em 26,5% a taxa Selic. “No quadro atual, essas dúvidas não serão esclarecidas no ínterim das reuniões, mas num prazo mais prolongado”, explicam os diretores no texto da ata.

Exportações

O crescimento das exportações e da produção doméstica de bens substitutos dos importados não foram suficientes para reverter a tendência de desaquecimento da atividade econômica no primeiro trimestre do ano, na avaliação do Comitê. “As estatísticas recentes sobre o desempenho da atividade econômica, quando ajustadas para neutralizar as distorções provocadas pelo feriado de carnaval deste ano, mostram sinais de desaquecimento no decorrer do primeiro trimestre”, diz o texto da ata da última reunião do Copom divulgada ontem por um erro do BC.

A explicação, de acordo com o texto da ata, está na retração da massa salarial real e nas condições de financiamento ao consumidor. “Indicadores antecedentes para março indicam que o nível de atividade deverá permanecer com essa tendência de desaquecimento”, diz o texto da ata.

A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) fez, pela primeira vez, um registro sobre a disseminação da Síndrome Respiratória Aguda Severa (Sars). “A disseminação da Sars tornou-se novo objeto de preocupação para a economia mundial”, diz o documento. A doença, segundo o Copom, poderá reduzir “significativamente” o crescimento da China e dos países do sudeste asiático.

Em 2002, a China e o sudeste asiático apresentaram juntos as maiores taxas de crescimento econômico.

Petrobrás acena com mais queda

A Petrobras está atenta aos movimentos de preços do mercado internacional e o diretor de abastecimento e refino da companhia, Rogério Manso, disse que os preços poderão cair novamente. Segundo ele, daqui por diante, a política de reajustes para cima ou para baixo, será coerente com o que ocorreu no primeiro trimestre, quando a empresa não mostrou preocupação com dados pontuais. ” Não temos intenção de manter os preços engessados. Se as tendências de queda (do petróleo e do câmbio) continuarem os repasses vão seguir”, afirmou Manso.

O diretor da Petrobras disse esperar que em junho possa ser aplicada a primeira redução no preço do GLP residencial, comercializado em botijões de 13 Kg. O produto permanece com o mesmo preço porque, segundo Manso, ainda é vendido aqui mais barato que no mercado internacional. “Ainda existe um resíduo”, disse, sem revelar o percentual.

Preços administrados vão subir menos

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu suas projeções para os reajustes dos chamados preços administrados e outras projeções como a variação do preço da gasolina, do gás de cozinha e das tarifas de energia elétrica . De acordo com a ata da reunião passada, os diretores do BC estimam que os preços administrados por contrato ou monitorados deverão registrar uma alta de 15,3% em 2003. “A apreciação cambial, a conseqüente diminuição das projeções para os reajustes das tarifas de eletricidade, a diminuição dos preços dos derivados de petróleo foram as maiores responsáveis pela queda de 1,5 ponto porcentual em relação às projeções de março”, afirmam os diretores na ata.

O Copom estima que esse conjunto de preços deverá apresentar um aumento de 8,5%, o que representa uma queda de 0,5 ponto porcentual em relação a projeção feita em março.

Para os combustíveis, o Copom reduziu de 12,4% para 8,4% sua estimativa para o aumento da gasolina em 2003. No caso do gás de cozinha, o reajuste esperado pelo BC este ano passou de 4,2% para 1,6%.

Essas projeções incorporam tanto os reajustes concedidos no início do ano quanto a redução de preços da gasolina anunciada há poucos dias pela Petrobras. Para as tarifas de energia elétrica, o reajuste estimado pelo BC para 2003 é de 24,5%, o que representa uma queda de 3 pontos porcentuais em relação à projeção feita em março.

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