Consumidor não sentiu a queda do juro

A redução da taxa básica de juro da economia em junho provocou queda no juro ao consumidor no comércio, no empréstimo pessoal e no crédito direto ao consumidor (CDC), mas não conseguiu impedir a alta em algumas modalidades, como cartão de crédito, cheque especial e empréstimos de financeiras. É o que mostra pesquisa divulgada ontem pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac). O sobe-e-desce fez com que o juro cobrado do consumidor ficasse em 8,45% em junho, estável na comparação com maio, uma taxa que representa 164,7% ao ano.

A maior queda verificada em junho, de 3,14%, ocorreu na taxa do crédito direto ao consumidor oferecido pelos bancos. Essa modalidade financia basicamente a compra de automóveis. Como as vendas do setor estão ruins, a taxa caiu de 4,14% para 4,01% ao mês (60,29% ao ano). Também o juro do comércio, que reclama de vendas baixas, recuou um pouco, de 6,74% para 6,73% ao mês (118,49% ao ano). No empréstimo pessoal dos bancos, a taxa recuou de 6,6% para 6,57% ao mês (114,59% ao ano).

Nos três casos onde a Anefac registrou redução de juro, no entanto, a queda não acompanhou com a mesma intensidade o movimento da Selic, o juro básico da economia, que passou de 26,5% para 26% ao ano – 0,5 ponto a menos. Mesmo assim, pode demonstrar um início de boa vontade das instituições financeiras, já que há muita gordura a ser queimada. Representantes da indústria e do comércio reclamam que a melhor medida para baixar o juro é reduzir o “spread” bancário – diferença entre a taxa que o banco paga aos aplicadores e a que cobra dos tomadores de empréstimos.

Mas a mesma mão que dá, também toma. As administradoras de cartão de crédito, os bancos e as financeiras ignoraram a leve redução da Selic no mês passado e aumentaram taxas. Nos cartões de crédito, a taxa média subiu de 10,63% para 10,67%, com alta de 0,38%. Por ano, o juro é de 237,57%. A taxa média cobrada no cheque especial dos bancos também aumentou, de 9,77% para 9,79% ao mês (206,73% ao ano) – 0,20% de alta.

As financeiras, que financiam a camada mais pobre da população e já cobram as taxas mais altas do mercado no empréstimo pessoal, também empurram o juro para cima. A taxa da modalidade passou de 12,82% para 12,93% ao mês, o equivalente a 330,24% ao ano -com alta de 0,86% em relação a maio.

Cheque especial cobra “só” 190%

A queda na taxa básica de juros (taxa Selic) promovida pelo Banco Central no mês passado já está se refletindo nas taxas cobradas pelos bancos. Segundo a pesquisa mensal de juros para pessoa física do Procon-SP, as taxas do cheque especial caíram de 9,43% para 9,27% ao mês, na comparação entre junho e julho. Já os juros do empréstimo pessoal caíram de 6,22% para 6,02% ao mês.

O Procon alerta, no entanto, que “o impacto dessas reduções no bolso dos consumidores ainda é muito pequeno”.

É possível perceber isso quando essas mesmas taxas são convertidas para o período de um ano. Enquanto a Selic caiu de 26,5% para 26% a.a., a queda nos juros do cheque especial foi de 194,87% para 189,74% ao ano. No empréstimo pessoal a queda foi de 106,29% para 101,68% ao ano.

“Os correntistas devem agir com muita cautela, principalmente ao entrar no cheque especial, já que as taxas encontram-se muito elevadas”, diz o Procon.

No total, dos 12 bancos pesquisados, nove reduziram suas taxas. As três instituições que não fizeram alterações, nem para empréstimos pessoais, nem para o cheque especial foram o HSBC, a Caixa Econômica Federal e o BBV.

Segundo o órgão de defesa do consumidor, os bancos avaliam que a inflação manterá uma trajetória de queda e que o governo está disposto a reduzir ainda mais os juros. Na próxima semana o BC se reúne novamente, e o mercado acredita em um corte que pode superar 1 ponto percentual na taxa de 26%.

Empréstimos pessoais

Os três bancos que fizeram as reduções mais significativas nos empréstimos pessoais foram o Unibanco (de 6,9% para 6,3% ao mês), o Real (de 6,4% para 5,9%) e o Itaú (de 6,95% para 6,6%). O BBV e a Nossa Caixa praticam as menores taxas do mercado: 4,8% e 4,65%, respectivamente. O HSBC (6,5%) e o Itaú (6,6%) mantêm as taxas mais altas.

Cheque especial

Os bancos que apresentaram as maiores quedas no cheque especial foram o Real (de 9,2% para 8,9%), o Itaú (de 9,8% para 9,5%) e o Santander (de 9,75% para 9,5%). Em apenas três instituições, as taxas estão abaixo de 9% ao mês: Real (8,9%), Banco do Brasil (8,8%) e Nossa Caixa (8,75%). O BCN é o banco que possui a maior taxa (9,75%), seguido pelos bancos Santander, Itaú, Bradesco e HSBC (todos com 9,5%).

A pesquisa foi realizada com 12 bancos entre os dias 7 e 8 de julho.

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