Consórcio navega fácil sem sentir efeitos da crise

Se para alguns setores o momento turbulento na economia internacional já vem exigindo cortes, tanto de investimentos quanto da estrutura operacional, para o sistema de consórcio a crise vem se convertendo em um fator positivo. Com a alta das taxas de juros dos financiamentos verificada nos últimos meses, o setor está ganhando espaço no mercado.

De acordo com a Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), já é possível sentir um crescimento de 20% no volume de adesões nos meses de outubro e novembro, em comparação ao mesmo período do ano passado.

Segundo a Abac, o crescimento de adesões no acumulado no ano já havia superado o volume do ano passado ainda em setembro. Nos primeiros nove meses de 2008, foram verificadas 1,28 milhão de novas cotas – cerca de 1,2% a mais do que foi registrado no mesmo período de 2007.

Com o desempenho das últimas semanas, a Abac espera fechar o ano com um movimento de R$ 20 bilhões em créditos contemplados e R$ 60 bilhões em ativos administrados. O órgão também estima superar a marca de 3,6 milhões de consorciados até o final do ano.

Para o presidente regional da Abac no Paraná, Reinaldo Bertini, em todo o País, o setor deve manter a tendência de crescimento das últimas semanas no mês de dezembro e fechar o ano com alta de 6%. Já para 2009, segundo Bertini, o cenário é ainda mais otimista. “Se o nosso crescimento se manter nesse ritmo, o aumento nas vendas dos consórcios deverá ficar acima dos 10% no próximo ano”, comenta.

Em setembro, o número total de consorciados chegou aos 3,53 milhões – 3,4% a mais que os 3,42 milhões dos 12 meses anteriores. Já a média de contemplações no ano, no entanto, teve uma redução de 1,3%, em relação aos nove primeiros meses de 2007.

De acordo com dados da Abac, o número de participantes ativos cresceu 4,4%, saltando de 2,77 milhões em setembro de 2007 para 2,89 milhões em setembro desse ano. No acumulado das contemplações, também houve alta. Em 2008, chegou a 494 mil até setembro – cerca de 1,3% maior que o mesmo período do ano anterior, cujo volume esteve em 487,6 mil.

O grande volume de contemplações ocorridas em setembro registrou uma participação de 27% nas entregas. Houve mais de 10 mil novas entregas de agosto para setembro. Desta forma, as contemplações acumuladas de janeiro a setembro de 2008 aumentaram e totalizaram 334,4 mil, 3,8% maior que as 322,1 mil, do mesmo período do ano passado.

Segmento de automotores cresce mais

De acordo com Bertini, os consórcios do segmento de automotores têm se destacado entre os que mais cresceram. Segundo ele, essa gama de planos deve fechar o mês de novembro com alta de 30% nas vendas, principalmente os planos de pesados (caminhões e tratores), cujo número de adesões deve registrar aumento de 70%.

Para Bertini, a dificuldade da liberação de financiamentos para esta linha de bens pode ter contribuído para o resultado dos consórcios. “Por se tratar de bens móveis duráveis, a liberação de crédito para este segmento passou a ter as maiores restrições, já que as instituições de financiamento consideram que, neste caso, o risco é maior”, afirma.

De janeiro a setembro, os consórcios de pesados acumulam no ano, um aumento de 41 mil novas cotas – cerca de 52,6% superior ao que foi registrado no mesmo período de 2007.

Segundo a Abac, somente em setembro, o consórcio de automóveis registrou uma alta de quase 29,6% no volume de adesões, em comparação ao mesmo mês do ano passado. De acordo com a Abac, naquele mês, o acumulado do ano do setor de veículos já havia superado em 5,8% (cerca de 1,04 milhão de planos a mais), o período de janeiro a setembro de 2007.

O diretor superintendente do Grupo Servopa, Darli Antônio Borin, conta que os negócios do grupo crescera,m cerca de 40% nos últimos meses. Para ele, o acréscimo de vendas reflete a mudança de comportamento dos cotistas de varejo, devido à falta da liberação de crédito em financeiras. “Hoje, o consumidor individual só tem conseguido adquirir os veículos através dos consórcios”.

Além dos consórcios de veículos, o de imóveis também vem tendo um crescimento de adesões. Segundo a Abac, o segmento, que até agosto havia completado 105 meses de crescimento contínuo, teve uma alta de 20% nas contemplações em setembro.

Custo-benefício é favorável ao sistema

Para a diretora superintendente da Administradora de Consórcios Ademilar, Tatiana Reichmann, o consórcio é o produto do momento porque os consumidores passaram a se preocupar não apenas com o valor das parcelas, mas com o custo-benefício do investimento.Tatiana explica que as pessoas estão pensando mais antes de fazer investimentos e sendo menos imediatistas. Para ela, é justamente o imediatismo a desvantagem do consórcio
diante do financiamento.

“Os consumidores da faixa dos 30 aos 45 anos são as que estão melhor se programando. Eles sabem que não adianta ter a posse imediata do bem mas precisar pagar um valor três ou quatro vezes maior do que o real”, afirma.

Para Tatiana, as pessoas estão inseguras quanto aonde e como investir, devido à crise. Nesse quesito, com taxas administrativas fixas, o consórcio passa uma segurança também para o consorciado. “Hoje você paga 0,1% no mês de taxa administrativa em um plano de consórcio de imóveis, por exemplo. Para financiar, a taxa de juro mensal mínima não sai por menos 1%”, afirma.

Além de pagar uma margem externa ao valor do bem menor, o consumidor pode usar o bem para outros fins. Tatiana conta que muita gente está buscando um imóvel para ter uma renda extra, como o aluguel. “Você pode começar com parcelas a partir de R$ 140 mensais. Se colocar o imóvel para alugar você já paga a parcela”, conta.

Outro fator que contribuiu para o aumento dos negócios do setor, segundo Tatiana, foi a regulamentação da Lei dos Consórcios. “A lei deu ainda mais segurança tanto para os consórcios quanto para os consorciados”, diz.
Tatiana conta que a lei permite ao consumidor receber o montante já investido antes da quitação do valor referente. “Antes se parasse de pagar, só poderia receber depois da quitação o valor já investido. Além disso, com a lei, o consorciado pode quitar o financiamento, o que antes não era possível.”