Concordata da WorldCom após o escândalo contábil

Nova York (AG) A WorldCom entrou na noite de anteontem com pedido de concordata na Corte Federal do Distrito Sul de Nova York. Conforme a lei do chamado Capítulo 11 de Falência do Código dos Estados Unidos, a empresa terá tempo para reestruturar sua dívida de quase US$ 33 bilhões e propor uma reorganização da empresa. É a maior concordata da história dos Estados Unidos.

A WorldCom, que é proprietária da Embratel, pretende continuar a oferecer seus serviços a seus cerca de 20 milhões de consumidores de telefonia interurbana – é a segunda maior empresa americana do setor – e milhares de clientes corporativos, que incluem credores de títulos e bancos. Já os acionistas deverão perder todo o dinheiro. O pedido tem cerca de mil páginas e lista os 20 maiores credores da empresa.

Uma das opções da empresa para levantar dinheiro seria vender não só a Embratel, como também suas operações no México, por exemplo, um dos 65 países em que a WorldCom está presente. São empresas que “poderiam ser facilmente desembaraçadas do resto da companhia”, afirma a reportagem, “mas não levantariam muito dinheiro”. A WorldCom não tem bens que lhe garantam bilhões de dólares de uma hora para outra.

Entre seus muitos problemas doravante, está a perda do valor da marca, mas a reportagem, que ouviu acionistas, afirma que, uma vez saneada, a WorldCom poderá se tornar interessante no mercado americano de telefonia. Porém, “até agora, potenciais compradores permanecem intensamente cautelosos a respeito do enfraquecimento do negócio principal da empresa e do endividamento que pode ser gerado pelas investigações correntes da contabilidade da empresa”.

Escândalo

A WorldCom, que tinha receita anual de US$ 35 bilhões, está sem dinheiro e sem acesso a capital, devido ao escândalo contábil que escondeu US$ 4 bilhões em custos. Ela divulgou lucros, quando na verdade perdera cerca de US$ 1,2 bilhão. Anos atrás, uma ação da empresa valia US$ 60. No início deste ano, valia US$ 16. Divulgado o escândalo, caiu para cinco centavos de dólar.

Ela está sendo processada pela U.S. Securities and Exchange Commission (SEC), órgão do Governo federal que protege investidores e zela pelo mercado. No processo, aberto no final do mês passado, a SEC afirma que um esquema foi “dirigido e aprovado pela administração da WorldCom e permitiu à WorldCom, de modo fraudulento, relatar um fluxo de caixa de US$ 2,393 bilhões, em vez da real perda de US$ 662 milhões”. No primeiro trimestre deste ano, mais US$ 240 milhões de fluxo de caixa foram relatados, quando na verdade o prejuízo era de cerca de US$ 557 milhões.

Embratel diz que não vai ser afetada pela medida

São Paulo

-A Embratel divulgou ontem um comunicado em que informa não ser afetada pelo pedido de concordata preventivo feito no domingo à noite pela sua controladora, a americana WorldCom. Apesar de a Embratel descartar o contágio, 35 unidades da WorldCom pediram proteção contra credores um dia depois de a gigante fazer o mesmo.

Para a WorldCom, ?substancialmente todas? as subsidiárias americanas estão solicitando concordata. O juiz Arthur Gonzalez, do tribunal federal de falência em Manhattan, assinou o requerimento de concordata da WorldCom. Ele também é responsável por fiscalizar o caso de falência da Enron.

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) divulgou nota à imprensa reiterando que não existem motivos que justifiquem qualquer tipo de intervenção na Embratel. A agência ressalta que vem tomando todas as medidas para garantir ?a continuidade e a qualidade dos serviços prestados pela Embratel e pelas demais concessionárias do STFC (sistema de telefonia fixa), direitos esses garantidos à sociedade brasileira.?

Na nota, a Anatel frisa também que a Embratel é regida pelas leis brasileiras e já foi ?separada do balanço da sua controladora?, e que não há indícios de fraudes contábeis, como ocorreu na WorldCom.

Irregularidades

A WorldCom tem quase US$ 41 bilhões em dívidas e registrou indevidamente US$ 3,9 bilhões em seus balanços de 2000 para cá. Segundo o comunicado da Embratel, o pedido de concordata não afeta qualquer de suas operações, já que a operadora brasileira tem independência operacional e financeira do grupo americano.

A Embratel foi comprada pela companhia americana de longa distância MCI, em julho de 1998, nos leilões de privatização do sistema Telebrás. Naquele mesmo ano, porém, a WorldCom adquiriu o controle da MCI, numa das 75 aquisições que a tornaram a segunda maior operadora americana de longa distância.

Empréstimos

O presidente da Embratel, Jorge Rodriguez, afirma no comunicado que não há empréstimos entre a companhia e a WorldCom nem a garantia da controladora em operações financeiras da telefônica brasileira.

No início deste ano, a Embratel obteve um empréstimo sindicalizado (de vários bancos) de US$ 270 milhões, além de um financiamento de US$ 35 milhões relacionado à importação, com os quais completou as necessidades de capital para 2002. A empresa fará investimentos de R$ 1,1 bilhão este ano, contra R$ 1,5 bilhão em 2001.

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