Um ano após adquirir a operação de 400 lojas e faturamento de R$ 28 bilhões, o fundo americano Advent enfrenta uma corrida ladeira acima para colocar nos eixos a complicada operação do Walmart Brasil. Para facilitar o trabalho – que envolve questões financeiras, administrativas e de imagem -, o Advent chegou a tentar a comprar o Grupo Pão de Açúcar no País, mas o negócio não foi adiante, apurou o Estado. Agora, o fundo se debruça na redução do complexo portfólio de marcas. A tendência, nesse processo, é que o nome Walmart perca força e possa até ser descartado.

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Em distante terceiro lugar em relação a Carrefour e GPA no varejo de alimentos, o grupo tem sete marcas: Big, Bompreço, Mercadorama, Sams Club, Maxxi e Todo Dia, além do próprio Walmart. Segundo fontes, do enxugamento devem surgir quatro carros-chefe: Maxxi (atacarejo), Sams Club (clube de compras), Bom Preço (no Nordeste) e Big (no Sul). O Walmart, concentrado em hipermercados, deve naturalmente perder espaço. Parte das lojas já estão sendo convertidas em Maxxi ou Sams Club. Entre elas, o Walmart em frente ao Ceagesp, na Vila Leopoldina.

A possibilidade reflete a série de erros que o Walmart cometeu desde o início de suas operações por aqui, em 1995, diz Alexandre van Beeck, sócio-diretor da GS&Consult. O lema “preço baixo todo dia” nunca foi entendido pelo consumidor brasileiro. “A estratégia promocional é incentivo para o consumidor ir à loja. Sem ela, a frequência fica comprometida”, diz. “Além disso, o cliente não achava que, na soma do carrinho, o Walmart era mais barato que as outras.”

O Advent não comprou o Walmart no escuro. Ao se comprometer a investir cerca de R$ 2 bilhões na varejista nos próximos anos, o fundo sabia dos gargalos. Antes de fechar o negócio com o fundo no ano passado, a matriz americana vinha tentando se desfazer das operações do Brasil havia dois anos. O negócio chegou a ser oferecido ao Pão de Açúcar e ao Carrefour.

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Conversões. Sob o comando de Luiz Fazzio – que teve passagens por GPA, Carrefour e C&A e é sócio minoritário do Walmart Brasil -, a varejista está seguindo a estratégia das líderes do setor no que se refere à reorganização de lojas.

Uma das táticas é a conversão de hipermercados – segmento de baixo retorno – em atacarejos. Até agora, a empresa anunciou 20 conversões, além de reformas nas 45 lojas existentes. A marca Maxxi deve ancorar esse processo, ao lado do Sams Club, clube de compras de estrutura semelhante.

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Entre as 400 lojas do Walmart, mais de 100 unidades são no formato de hipermercados. Fontes do setor duvidam que a estratégia de priorizar o atacarejo possa resolver os problemas do grupo até porque Assaí e Atacadão – do GPA e do Carrefour, respectivamente – são marcas maduras e que continuam a se expandir. “A concorrência percebeu a rejeição ao hipermercado antes e está mais adiantada no processo de reformatação de lojas”, diz Beeck.

Em março, o Walmart também fechou a operação na internet – hoje, o site se resume a uma lista das lojas físicas. Segundo apurou o Estado, a ideia é retomar a venda online, com a entrega de alimentos. Em 2017, ainda sob a gestão anterior, a rede fechou seu site próprio de venda de eletrodomésticos, enquanto o Advent encerrou o marketplace em março.

Abertura de capital. Para o Advent, a “virada” do Walmart do Brasil deverá ser um trabalho de longo prazo, até porque o desempenho do setor como um todo não tem sido positivo. A abertura de capital do grupo na Bolsa depois do processo de reorganização está no radar do Advent, segundo fontes.

Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), a receita do setor teve alta de apenas 0,7% em 2018. Segundo apurou o Estado, porém, a “porta de saída” vislumbrada pelo fundo também emula as rivais GPA e Carrefour: a ideia é abrir o capital da operação quando a casa estiver arrumada.

Procurados, Advent, Walmart e GPA não comentaram.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.