Com crise, Bird quer triplicar empréstimos a emergentes

Para minimizar os efeitos da crise financeira internacional nos países em desenvolvimento, o Banco Mundial, por meio do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), está disposto a quase triplicar o volume de desembolsos destinados aos chamados países de renda média, como o Brasil, afirmou nesta quarta-feira (19) o economista-chefe e vice-presidente sênior da instituição, o chinês Justin Yifu Lin. De acordo com Lin, o compromisso imediato do Bird é ampliar o volume de empréstimos para cerca de US$ 35 bilhões, ante os desembolsos de US$ 13,5 bilhões registrados no ano passado. Lin assegurou que a política de contrapartidas será mantida.

“De modo a minimizar os impactos dessa crise, o Banco Mundial dará passos concretos para ajudar os países em desenvolvimento”, disse. A idéia é que o montante atinja a cifra dos US$ 100 bilhões nos próximos três anos. Ele observou ainda que a instituição poderá dispor de outras linhas de recursos, contando com o braço financeiro (IFC), destinadas à capitalização do sistema bancário e no financiamento de Parcerias Público Privadas (PPPs). Os recursos, segundo ele, não estão totalmente disponibilizados, mas acredita que a instituição conseguirá ampliar a oferta.

Ao proferir uma palestra na sede do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Lin avaliou que os principais impactos da conjuntura atual para os países em desenvolvimento será a redução das exportações para os países desenvolvidos e, por conseqüência, a queda nas cotações de algumas matérias-primas (commodities) principalmente metálicas e agrícolas. Também é esperada uma redução no nível dos Investimentos Estrangeiros Diretos (IED).

“Nós entendemos que a crise financeira já se tornou uma crise global. É uma crise que venceu as barreiras do mundo financeiro e partiu para o mundo real”, disse. Por isso, segundo Lin, o grande objetivo da instituição é não só ampliar a captação de recursos destinados a empréstimos, como também acelerar a aprovação de projetos, principalmente aqueles destinados à redução da pobreza e melhoria da distribuição de renda.

Lin enfatizou que a crise atual é a mais séria desde a Grande Depressão, nos anos 1930, e que deverá implicar a mudança do pensamento econômico, além de uma nova forma de intervenção dos governos na economia.

Ele observou ainda que o mundo terá de tirar uma lição da crise atual e criticou a intenção dos países desenvolvidos, que insistem em manter as barreiras comerciais. “A política de barreiras ao comércio é míope, porque os países em desenvolvimento costumam ter mais dificuldade em se recuperar e estes (países desenvolvidos) não devem fazer nada que prejudique os países em desenvolvimento”, afirmou.

Brasil

O economista-chefe do Bird acredita que, apesar de a recessão já estar às portas das principais economias do mundo, principalmente nos Estados Unidos, países da Europa e Japão, a crise financeira exercerá no Brasil um impacto relativamente pequeno. No entanto, ele acredita que o País não vai conseguir escapar dos impactos indiretos da crise na economia real.

“O Brasil é um país que hoje conta com um volume significativo de reservas. E em função disso eu acredito que o Brasil vai conseguir cruzar essa crise de forma relativamente satisfatória e manter ainda uma boa taxa de crescimento”.